domingo, 3 de setembro de 2023

FAZER DISCÍPULOS NÃO É SER TUTOR DELES.

 

    Quase sempre inventamos palavras novas (neologismos), valendo-nos de fragmentos anexados (afixos) à estrutura básica de outras palavras que já povoam o nosso universo linguístico. Por exemplo: de descriminar faz-se descriminalizar; de banco (entidade financeira) faz-se bancarizar (promover abertura de contas bancárias) etc. Essas formações nem sempre são recomendáveis!

     Também é comum que, por meio da mudança de classe gramatical (derivação imprópria), formemos neologismos, como é o caso do "falso verbo" discipular. O motivo desse impasse é que, o sufixo "-ar" forma verbos, como andar, falar; mas também forma adjetivos, como em grade curricular, obrigação discipular, método auxiliar etc. Gramatiquices à parte, levantamos uma questão puramente semântica: a diferença entre o neologismo verbal discipular e o verbo tutelar.    

    O Senhor Jesus não nos mandou tutelar os novos convertidos; mandou fazê-los discípulos. (cf. Mt 28.19-20). Entretanto, alguns dos nossos orientadores cristãos, que atuam no ensino bíblico (EBDs, por exemplo), costumam agir como tutores dos neófitos sob sua responsabilidade discipular; quero dizer, eles tendem a assumir o papel de decidir o que o novo crente "deve/pode" ou "não  deve/não pode" fazer.

     Considerando-se que neófito ainda é imaturo, portanto alguém muito sensível à obediência, não é oportuno sujeitá-lo, de imediato, à Doutrina, cujo ensino está apenas começando. Essa ingerência é precipitada e foge à  competência do orientador, pois ela repele aquele que dá os primeiros passos no caminho da maturidade cristã. Pessoas adultas, intelectual e socialmente sadias costumam aceitar instrução, porém, não suportam tutela.

     Tutela - de modo bem simples e resumido - é o direito legal que uma pessoa tem, para decidir sobre as escolhas de outrem, dada a incapacidade deste, para assumir responsabilidades. Tutelados jamais se tornarão discípulos. Fazer discípulos não é passar-lhes um "manual sobre as maneiras de identificar-se como cristão"; não é ensinar-lhes práticas estereotipadas. Fazer discípulo e encaminhar o novo cristão a almejar a semelhança do Modelo, do "Protótipo", Jesus Cristo Homem, e, nesse alvo, prosseguir na jornada até chegar à perfeição. Por isso, Paulo, apóstolo, recomenda: "Sejam meus imitadores, como eu o sou de Cristo" (Rm 11.1). Na Carta aos Efésios, o mesmo apóstolo se refere ao "aperfeiçoamento dos santos" (Ef 4. 12). Costumo dizer que aquele que decora fórmulas não evolui no conhecimento; faz cópia.

     A tarefa que o Senhor Jesus impôs à Igreja não pode ser realizada intempestivamente; precisa ser estruturada espiritual e intelectualmente, pois é um trabalho seriado: prevê estágios. É  necessário que o orientador cristão entenda que sua atividade é mais demonstrativa que normativa! Então, nada associa o orientador a um tutor. A fase normativa da orientação cristã deve ser realizada com suavidade; ela trata da iniciação à Doutrina bíblica; é um trabalho comparável à alimentação infantil. Passo a passo, o novato estará apto para o alimento próprio para adultos.

     É bem conhecida a adaptação de um provérbio latino: "Palavras voam, mas exemplos permanecem." Nisso está a essência de caráter daquele que "faz discípulos". Depois de algum um tempo, o cristão incipiente apropria-se do aspecto normativo das Escrituras Sagradas, nesse mesmo tempo, e durante todo o convívio, o trabalho demonstrativo (testemunho pessoal do orientador) apontará ao crente aprendiz o caminho que o tornará discípulo. Jesus fez isso. (Jo 7. 40-53; Jo 2. 5; Lc 24. 32).

     Pregar o evangelho é apresentar às pessoas o “Poder de Deus para Salvação de quem crê” (Rm 1.16). O Senhor Jesus arregimentou primeiramente, seguidores (Mt 4. 19-20; 22; 25). Depois, fez deles discípulos. O trabalho de fazer daquele que crê um discípulo, é acompanhá-lo nos estágios, que se iniciam na fase na fase propedêutica e evoluem até os conhecimentos mais profundos. Por esse motivo, nenhuma igreja terá um bom corpo de orientadores cristãos, se nela não houver ensinadores. Respondamos a essa questão levantada pelo apóstolo Paulo:

 

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados...?” (Rm 10. 14-15a)







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