Quase sempre inventamos
palavras novas (neologismos), valendo-nos de fragmentos anexados (afixos) à
estrutura básica de outras palavras que já povoam o nosso universo linguístico.
Por exemplo: de descriminar faz-se descriminalizar; de banco (entidade financeira) faz-se bancarizar (promover abertura de contas bancárias) etc. Essas
formações nem sempre são recomendáveis!
Também é comum que, por meio da mudança de classe
gramatical (derivação imprópria), formemos neologismos, como é o caso do
"falso verbo" discipular. O
motivo desse impasse é que, o sufixo "-ar" forma verbos, como andar, falar; mas também forma adjetivos, como em grade curricular, obrigação discipular, método auxiliar etc. Gramatiquices à parte, levantamos uma questão
puramente semântica: a diferença entre o neologismo verbal discipular e o verbo tutelar.
O Senhor Jesus não nos mandou tutelar os novos convertidos; mandou fazê-los discípulos. (cf. Mt 28.19-20). Entretanto, alguns dos
nossos orientadores cristãos, que atuam no ensino bíblico (EBDs, por exemplo), costumam
agir como tutores dos neófitos sob
sua responsabilidade discipular; quero dizer, eles tendem a assumir o papel de
decidir o que o novo crente "deve/pode" ou "não deve/não
pode" fazer.
Considerando-se que neófito ainda é imaturo,
portanto alguém muito sensível à obediência, não é oportuno sujeitá-lo, de
imediato, à Doutrina, cujo ensino está apenas começando. Essa ingerência é
precipitada e foge à competência do orientador, pois ela repele aquele
que dá os primeiros passos no caminho da maturidade cristã. Pessoas adultas,
intelectual e socialmente sadias costumam aceitar instrução, porém, não
suportam tutela.
Tutela - de modo bem simples e resumido - é o
direito legal que uma pessoa tem, para decidir sobre as escolhas de outrem, dada
a incapacidade deste, para assumir responsabilidades. Tutelados jamais se
tornarão discípulos. Fazer discípulos não é passar-lhes um "manual sobre
as maneiras de identificar-se como cristão"; não é ensinar-lhes práticas
estereotipadas. Fazer discípulo e encaminhar o novo cristão a almejar a
semelhança do Modelo, do "Protótipo", Jesus Cristo Homem, e, nesse
alvo, prosseguir na jornada até chegar à perfeição. Por isso, Paulo, apóstolo,
recomenda: "Sejam meus imitadores,
como eu o sou de Cristo" (Rm 11.1). Na Carta aos Efésios, o mesmo
apóstolo se refere ao "aperfeiçoamento
dos santos" (Ef 4. 12). Costumo dizer que aquele que decora fórmulas
não evolui no conhecimento; faz cópia.
A tarefa que o Senhor Jesus impôs à Igreja não pode
ser realizada intempestivamente; precisa ser estruturada espiritual e
intelectualmente, pois é um trabalho seriado:
prevê estágios. É necessário que o orientador cristão entenda que sua
atividade é mais demonstrativa que normativa! Então, nada associa o
orientador a um tutor. A fase normativa da orientação cristã deve ser realizada
com suavidade; ela trata da iniciação à Doutrina bíblica; é um trabalho
comparável à alimentação infantil. Passo a passo, o novato estará apto para o
alimento próprio para adultos.
É bem conhecida a adaptação de um provérbio latino:
"Palavras voam, mas exemplos permanecem." Nisso está a essência de
caráter daquele que "faz discípulos". Depois de algum um tempo, o
cristão incipiente apropria-se do aspecto normativo das Escrituras Sagradas,
nesse mesmo tempo, e durante todo o convívio, o trabalho demonstrativo
(testemunho pessoal do orientador) apontará ao crente aprendiz o caminho que o tornará
discípulo. Jesus fez isso. (Jo 7. 40-53; Jo 2. 5; Lc 24. 32).
Pregar o evangelho é apresentar às pessoas o “Poder
de Deus para Salvação de quem crê” (Rm 1.16). O Senhor Jesus arregimentou
primeiramente, seguidores (Mt 4.
19-20; 22; 25). Depois, fez deles discípulos. O trabalho de fazer daquele que
crê um discípulo, é acompanhá-lo nos estágios, que se iniciam na fase na fase propedêutica
e evoluem até os conhecimentos mais profundos. Por esse motivo, nenhuma igreja
terá um bom corpo de orientadores cristãos, se nela não houver ensinadores.
Respondamos a essa questão levantada pelo apóstolo Paulo:
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele
de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se
não forem enviados...?” (Rm 10. 14-15a)
Nenhum comentário:
Postar um comentário