quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A POBREZA NÃO DIMINUI O CRENTE

 

Filipenses 3.7-11; 18-21 (KJA)

Todavia, o que para mim era lucro, passei a considerar como prejuízo por causa de Cristo. Mais do que isso, compreendo que tudo é uma completa perda, quando comparado à superioridade do valor do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem decidi perder todos esses valores, os quais [eu] considero como esterco, a fim de ganhar Cristo, e ser encontrado nele, não tendo por minha a justiça que procede da Lei, mas sim a que é outorgada por Deus mediante a fé, para conhecer a Cristo e o poder da ressurreição, e a participação nos seus sofrimentos, identificando-me com ele na sua morte, com o propósito de, seja como for, a ressurreição dentre os mortos, nela estar presente... (18) Porquanto, como já vos adverti repetidas vezes, e agora repito com lágrimas nos olhos, que há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é o estômago; e o orgulho que eles ostentam fundamenta-se no que é vergonhoso; eles preocupam-se apenas com o que é terreno. No entanto, a nossa cidadania é dos céus, de onde aguardamos com grande expectativa o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que o capacita a colocar tudo o que existe debaixo do seu pleno domínio.

  

Introdução

 

Uma das grandes preocupações do ser humano é a sua sobrevivência; o homem, também, é dotado do instinto da preservação da espécie. A prova dessa afirmação pode ser vista em algumas reações maternas: duas crianças brincam num parque, enquanto suas mães se distraem numa conversa. Caso se ouça um choro infantil, causado por alguma intercorrência, cada mãe apressa-se para proteger o filho de algum acidente. Ocorre que, verificando o filho são e salvo, ainda que a outra criança se tenha ferido, essa mãe exclamará: “Felizmente, não foi o meu filho!”. Isso não é egoísmo; é instinto de preservação da espécie! Um amigo tentará socorrer um náufrago apenas enquanto ele mesmo se sentir seguro.

         É esse instinto de autopreservação mal dirigido que leva as pessoas a uma vida de ansiedade. Ansiedade é um estado de preocupação excessiva, relativamente às coisas de natureza material. O trabalho é essencial à vida, ele foi instituido por Deus; mas, se observarmos o relato de Gênesis, entenderemos que o Senhor criou, primeiramente, as riquezas materiais; depois disso, é que determinou a atividade laboral do homem. Deus deu os bens da terra, antes que o homem os produzisse! (Gn 2. 4-15).

            O trabalho exercido com esforço físico, com o suor do rosto, cansativo, foi resultado do pecado. (Gn 3.17). O pecado não gerou apenas o trabalho cansativo e até ingrato: trouxe consigo a ansiedade, que é a mãe da ganância. As pessoas trabalham ansiosas, em busca de uma vida sólida e, se possível, bem guarnecida de bens materiais; assim caminham até à sepultura. Na prática do trabalho não há erro; o problema é a falta de equilíbrio emocional para que tenha uma vida quieta e sossegada. (1Tm 2. 1-3). Falta às pessoas confiança na Providência de Deus, e prudência no controle dos bens. O salmista recomenda: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará.” (Sl 37.5). O Senhor Jesus, mais de uma vez, recomendou o exercício da prudência. (Mt 7. 24-27; Mt 10.16; Mt 25.2; Lc 16.8). A dificuldade está em que muitas pessoas confundem prudência com preocupação. A prudência é uma virtude que dá bons resultados; mas a preocupação é um empecilho para a solução de problemas. A prudência gera prosperidade; a preocupação, a agonia.

  

1.      NÃO ANDEM ANSIOSOS

 

        Meditemos no que Jesus disse sobre a preocupação, que leva à ansiedade:

 

Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí, estará também o vosso coração.” (Mt 6. 19-21).

 

 O primeiro passo é ter a sabedoria de compreender a inutilidade de alguém ajuntar tesouros neste mundo. Aqui, todos os tesouros são corruptíveis em si mesmos: uma mísera traça, uma simples oxidação são capazes de destruir fortunas. Além disso, quem os levará para o túmulo? Não são raros os exemplos de grandes fortunas que se destruíram pela ação do tempo, tornando-se ruína e pó como o seu proprietário! O acúmulo de bens materiais é pecado, porque o homem se apossa indevidamente de bens que deveriam ser repartidos com equidade. Se assim não ocorre, é iniquidade.

           Além de Jesus recomendar que as pessoas ajuntem tesouros verdadeiros e eternos no céu, porque, aqui, Deus conhece as nossas necessidades e é abençoador daquele que o serve, ainda retribuirá na vida vindoura a cada um segundo o que houver feito.

         O texto lido mostra que o apóstolo Paulo renega tudo quanto um dia lhe foi caro, a fim de reconhecer o incomparável valor da fidelidade a Cristo.

 

Todavia, o que para mim era lucro, passei a considerar com prejuízo por causa de Cristo. Mais do que isso, compreendo que tudo é uma completa perda, quando comparado à superioridade do valor do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem decidi perder todos esses valores, os quais considero como esterco, a fim de ganhar Cristo.

 

 Vale lembrar que em seu tempo, o apóstolo Paulo estava entre os mais bem conceituados cidadãos em seu meio social, tanto em condição econômica, como religiosa e, sobretudo, intelectual! Não são muitos os que, em nossos dias, se disporiam a abandonar todo esse prestígio, em favor de Cristo. Paulo, sabiamente, trocou tudo o que é terreno pelas riquezas celestiais em Cristo. Ele escreve aos Efésios:

 

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais.” (Ef 1. 3). Diz mais: “Ora, se a nossa esperança em Cristo se restrige apenas a esta vida, somos os mais miseráveis de todos os seres humanos.” (1Co 15. 16). À vista do que diz Paulo, a conclusão é essa: os que servem ao Senhor não estão preocupados com o acúmulo dos bens materiais. Todo crente sabe que Deus proveu a terra de bens, antes de entregá-la ao homem para a lavrar e a guardar. (Gn 2. 15).

 

O salmista instrui sobre a felicidade daquele que teme ao Snhor, quando diz:

 

Abençoado com felicidade é o homem que não segue o conselho dos ímpios, não se deixa influenciar pela conduta dos pecadores, nem se assenta na reunião dos zombadores. Ao contrário, sua plena satisfação está na lei do Senhor, e na sua lei medita, dia e noite.” (Sl 1. 1-2)

 

Asafe (salmista hebreu) relata uma fraqueza que o levou a comparar as dificuldades terrenas dos homens justos com a vida regalada dos ímpios:

 

Com toda certeza, Deus é bom para Israel, ou seja, para todos os que cultivam um coração sincero! Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei, porquanto eu acumulava inveja dos arrogantes, ao ver a prosperidade desses ímpios. Eles não passam por crises e sofrimento, e têm o corpo esbelto e saudável. Estão livres dos fardos cotidianos, impostos a todos os mortais; não são atingidos por doenças como a maioria das pessoas.” (Sl 73. 1-5)

 

       Que contraste há o espírito humano! No primeiro dos Salmos, provavelmente, o rei Davi mostra a diferença entre a vida do justo e a vida do ímpio; esse contraste Asafe não percebeu. Aquele que serve ao Senhor deve confiar integralmente nele. Ainda que atravesse dificuldades, lutará convicto de que “Deus é o seu refugio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46). O crente não deve dar lugar à ansiedade; ainda que ela insista em dominar o seu ânimo. Costumamos afirmar que Deus está no comando. Então, confiemos nele.

 

2.      A PROSPERIDADE DO ÍMPIO É EFÊMERA

 

        Não há dúvida de que aos olhos do vivente comum, a vida do descrente, melhor dizendo, do ímpio, aponta para os adequadamente chamados sinais exteriores de riqueza. As próprias autoridades governamentais permanecem atentas a esses sinais. Por que isso acontece? Porque os homens transformaram a noção de que o acúmulo de bens materiais é sinal evidente de bênçãos de Deus, portanto de poder sobre os demais homens. Essa noção não é nova! Entretanto, todos se esquecem da efemeridade da vida humana, portanto, da sua riqueza e do seu poder. A grandiosidade, vista como mero fruto da soberba, é estultícia bem conhecida de toda pessoa que consulta as páginas das Escrituras.

 

Ninguém é capaz de redimir seu próprio irmão, ou pagar a Deus o valor de sua vida, porquanto o resgate de uma vida não tem preço. Não há pagamento que o livre, para que viva para sempre e não sofra a natural decomposição dos corpos. Pois, todos podem ver que os sábios morrem também, assim como perecem o tolo e o insensato; e, para outros, deixam os seus bens. Pensam os ímpios que eternas seriam suas casas, e, por gerações sucessivas persistiriam as suas moradas, até darem seus próprios nomes às suas terras. O ser humano, ainda que muito importante, não pode viver para sempre; é como os animais que perecem. Este é o final dos que confiam em si mesmos e dos seus seguidores, que aprovam o que eles pregam.” (Sl 49. 7-12)

 

      Se as Escrituras - além da experiência humana - em diversas passagens demonstram a fugacidade da vida e dos bens que a acompanham, somente os tolos viverão ansiosos pela aquisicão daquilo que não lhes é essencial.

 

 3.      COMO O CRENTE VIVERÁ NO PRESENTE SÉCULO?

 

           O ponto fundamental da vida cristã é a fé, a qual alimenta a perseverança:

 

“... (vocês) receberam com alegria o confisco dos seus próprios bens, pois estavam convictos de possuírem bens muito superiores e que duram para sempre. Portanto, não abandonem a sua confiança, pois, nela há grandioso galardão. Em verdade, lhes afirmo que vocês necessitam de perseverança, a fim de que, havendo cumprido a vontade de Deus, alcancem plenamente o que ele prometeu; pois, dentro de pouco tempo, Aquele que vem, virá e não tardará. Mas o meu justo viverá pela fé! Contudo, se retroceder, minha alma não se agradará dele. Nós, entretanto, não somos dos que regridem para a perdição; mas sim, dos que creem e, salvos, seguem avante.” (Hb 10.34b-39 - KJA. Grifo meu).

 

Sem fé é impossível agradar-lhe;...” (a Deus). (Hb 11.6a).

 

A fé alimenta-se na constância da comunhão com Deus, por meio da oração. Não há cristão que possa viver distante de Deus, o salmista entoa:

 

Como a corça suspira pelas águas correntes, assim, por ti, ó Deus, anseia a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?” (Sl 42. 1-2)

 

Do cristão é exigida uma vida de santidade. A palavra santidade não tem o sentido carrancudo, autoritário nem soberbo que uma religiosidade pouco esclarecida lha atribui. Aliás, esse sentido pesado tem sido prejudicial à compreensão de grande número de cristãos. Uma vida santa é pautada no distanciamento das coisas que não agradam a Deus. Essas coisas estão explícitas nas Sagradas Escrituras; nada tem a ver com manuais e regimentos humanos. A santidade não é um sentimento; mas, uma atitude pessoal, voluntária, para uma vida de obediência aos padrões das Escrituras.

 

Mas, agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação e, por fim, a vida eterna.” (Rm 6. 22)

 

Porquanto, a graça de Deus se manifestou salvadora para todas as pessoas. Ela nos orienta a renunciar à impiedade e às paixões humanas, e a viver de maneira sensata, justa e piedosa, nesta presente era, enquanto aguardamos a bendita esperança: o glorioso retorno de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo...” (Tt 2. 11-13).

  

               Retomando as palavras do apóstolo Paulo, entendemos que a santidade provoca a substituição dos interesses materiais surpéfluos pela perenidade do viver em Cristo. Asssim deve viver o crente.

 

Conclusão

 

Não é de forma natural que o homem crente se dispõe a abrir mão das benesses deste mundo. É necesário que ocorra o “novo nascimento” a que se referiu Jesus, no diálogo com Nicodemos. (Jo 3. 1-10). Novamente, recorremos ao que diz, retoricamente, o apóstolo Paulo:

 

Porque o que faço não o aprovo, pois, o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço. E, se faço, consinto com a Lei, que é boa. De maneira que, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim, porque eu sei que em mim, isto é na minha carne não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem, que quero; mas o mal; que não quero, esse faço... Miserável homem que sou..!” (Rm 7. 15-24)

 

            Mas não tomemos para nós essa posição, pois o mesmo apóstolo ensina:

 

Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl 2. 20)

 

Portanto, não há razão para que nos ataque qualquer crise existencial como aconteceu ao salmista Asafe (Sl 37), para somente depois de termos vacilado, concluirmos que a prosperidade do ímpio é extremamente enganosa e passageira; mas a nossa sobrevivência terrena é assegurada pelo Senhor, que sabe o de que precisamos, antes mesmo de que lhe peçamos!

 

Não andeis, pois, inquietos, dizendo: ‘Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos?’ (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas. Mas buscai, primeiro, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” ((Mt 6. 31-34).

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