Gostaria
de trazer para este “bate papo” uma reflexão que julgo imprescindível para uma
boa compreensão de toda a gama de atividades que se desenvolvem no âmbito da
vida cristã, mormente no seio das igrejas.
Geralmente,
o desinteresse pelo raciocínio, ou a falta de discernimento, tão comum nas
pessoas, faz que todas as atividades que se desenrolam na vida das igrejas, se
incluam numa noção simplista do que seja “trabalhar na obra do Senhor”.
Nem tudo o que se faz em favor de uma
igreja local é, especificamente, um “trabalho para o Senhor”. Por exemplo,
evangelizar é um trabalho para o Senhor, mas pintar o templo é trabalho para a
igreja; não para o Senhor! Por isso, há necessidade de que todos os membros de
qualquer igreja - no sentido de comunidade local de cristãos - estejam aptos
para compreender e identificar o que faz parte do sagrado e o que, embora
necessário, faz parte das necessidades ou dos interesses humanos.
A
vida terrena, que se findará um dia, traz necessidades que envolvem essa nossa
finitude: a manutenção pessoal e, a dos nossos semelhantes, inclusive a do
próprio planeta, que é o nosso habitat,
é um trabalho para a humanidade. Assim, praticamos ações que contribuem para o
mais amplo bem-estar social, seja de crentes; seja de descrentes. (Mt 5. 45).
Evidentemente,
a linha divisória entre o que é de natureza espiritual e o que é de natureza
material torna-se, nesse particular, muito tênue; mas essa linha existe, e nós
devemos notá-la. O Senhor Jesus nunca relacionou o que é natural com o que é espiritual.
Ele usou muito o lado material, para fazer parábolas que instruíssem os
discípulos; não, porém, para juntar um e outro aspecto. “Dai a César o que é de
César”, disse ele. (Mt 22. 21).
Quando
a multidão pobre carecia de alimento, o Senhor Jesus mandou que os discípulos
lhes dessem de comer. (Mt 14. 16). Isso mostra que, antes do ato sobrenatural da
multiplicação de pães, o Senhor provocou os discípulos para que eles
percebessem o lado das necessidades materiais, as quais eles mesmos deveriam
resolver.
Sempre
há um lado totalmente material; a igreja deve conscientizar-se disso! Não é
raro que, como crentes, pensemos em buscar uma solução divina para aquilo que
devemos, nós mesmos, solucionar. (Js 1. 9).
Há
atividades, na igreja, que só dependem de seus membros; para essas, não
adiantam orações. Lembro-me de certo pastor, apreciador de “profetadas”, que
vive orando para que Deus “mande” pessoas para a sua igreja! Que as igrejas se
conscientizem dos seus deveres neste mundo!
Em
pouco tempo, após o Dia de Pentecostes, a direção humana da igreja primitiva
sentiu a necessidade de criar um departamento, com função específica: o
Departamento de Diaconia. (At 6). A necessidade do setor era humana, a decisão
de criá-lo foi humana, embora a direção andasse dirigida pelo Espírito Santo.
Tenho a impressão de que muitas
administrações de igrejas, neste nosso século, não simpatizam com a criação de
departamentos, os quais são úteis ao trabalho eclesiástico. Jetro, o sogro do
patriarca Moisés, há muitíssimos séculos, orientou-o a setorizar a
administração do povo de Israel (Êx 18. 13-27). Por que tantos líderes
desvalorizam a setorização?
1.
DEPARTAMENTO
DE ORAÇÃO
Baseados
na ideia de que a oração é um dever contínuo de toda a igreja, muitos pastores
não se dão o cuidado de estruturar um Departamento de Oração, conduzido por um
obreiro apto para conduzir tão importante departamento, e para formar uma
equipe de intercessão, sob seus cuidados e orientação.
Há
necessidade de um lugar específico, próprio para o momento de oração,
preferencialmente, retirado da nave do templo, bem arejado; se possível, com
música ambiente, para a reunião semanal de oração. Essa reunião, ainda que formada
por um grupo fixo de intercessores, deve ser aberta a todos os membros da
igreja. Não há dúvida de que um departamento assim, bem orientado, trará os
melhores resultados para toda a igreja.
2.
DEPARTAMENTO
DE ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
Outro
dos departamentos mais importantes na estrutura de uma igreja é o Departamento
de Escola Bíblica Dominical. Talvez, esse departamento se coloque imediatamente
após o Departamento de Oração, em uma ordem de importância.
Graças a Deus, já se veem lideranças
assembleianas que se despertam para enfatizar setores prioritários em seus
ministérios; entre esses setores, as EBDs. Expande-se a noção de que as Assembleias
de Deus consideram as EBDs como um importante núcleo de ensino teológico
semanal, além de considerá-las um ótimo recurso tanto doutrinário quanto
evangelístico. Todos os ministérios podem contar com uma escola teológica
básica, ao alcance dos seus membros e dos seus convidados. Assim, as EBDs
constituem uma valiosa estrutura, nas igrejas, para a Educação Bíblica de seus
membros, a qual pode contar com a excelência do material didático, e com o
apoio para a formação e capacitação teológica de professores que se dedicam ao
ensino e à expansão da Palavra de Deus em todo o nosso país. Gloria a Deus por
isso!
Já
que andamos nessa fase, é importante que se veja a estrutura das EBDs como um
terreno fértil para o plantio de um projeto amplo de Ação Social.
Quando
se fala em Ação Social, feita pelas igrejas evangélicas, é natural que se pense,
a “priori” em distribuição de gêneros alimentícios e de roupas, entre as
pessoas carentes. Porém, a carência de nosso povo vai além da necessidade de comida
e de roupas; na verdade, as pessoas são carentes, sobretudo, do evangelho de
Cristo. Depois, vem a carência da escolaridade, que as segrega da cidadania; a
seguir e, consequentemente, a fome e a nudez. Nesses aspectos é que a Igreja
Cristã tem o dever de atuar.
O
Senhor Jesus mandou que os seus discípulos saíssem, por todas as nações,
praticando o ensino, e levando os aprendizes ao batismo, em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo. (Mt 28.19). Deve chamar a nossa atenção, que no
versículo 20, o Senhor repete o verbo da
“educação”: ensinar. Devemos
ensinar as gentes, com a finalidade de que elas guardem tudo quanto Ele mandou! O que é esse tudo?
Jesus
não deu nenhuma instrução parcial! Ele disse: “tudo”! O programa a ser cumprido
e ensinado, em primeiro plano, está em Marcos 16. 15:
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”.
Essa
ordem do Mestre é o passo inicial do
trabalho da Igreja. Já, em Mateus 10. 1, tomamos conhecimento de um “evangelho
aplicado”; Esse é o evangelho
verdadeiramente integral:
“E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos
imundos, para os expulsarem, e para curarem toda enfermidade e todo mal.”
Um
estudo cuidadoso dos evangelhos mostrará que Jesus praticou a verdadeira missão integral; isto é, uma missão que
não tem interesse político nem pendor ideológico. (Lc 20. 25). Toda ação social
que se veste de ideológia política é falsa missão integral, pois não visa,
primordialmente, à Salvação de almas (Mc 8. 36). As missões que há por aí
objetivam os interesses dos sistemas políticos, em que o ser humano se torna
apenas massa de manobra.
A
igreja realmente cristã deve trabalhar como Jesus trabalhou e como ele ensinou:
demonstrando compaixão por toda sorte de pobreza humana; seja ela espiritual,
seja material, ou social, ou intelectual. Cristo satisfaz todas as necessidades
humanas, por intermédio do interesse demonstrado por seus discípulos atuais: a
Igreja.
A
omissão sobre ensinar tudo quanto Jesus mandou trará mal resultado para aqueles
que, dizendo-se cristãos, deixam de atender as necessidades gerais do próximo,
porque pensam, apenas, nos próprios interesses. Judas, o ladrão traidor e
avarento, ficou incomodado, porque Maria gastou dinheiro para agradar o Mestre,
em vez de colocá-lo na bolsa de ofertas, de onde o bandido roubaria. (Jo 12).
O
evangelho segundo Mateus registra, no capítulo 25. 31-46, o resultado do
cumprimento ou do descumprimento da missão
integral, determinada pelo Senhor Jesus. Cumpramos tudo quanto ele nos
mandou; (Jo 2. 5); ensinemos aos homens que o verdadeiro evangelho é integral,
pleno de bênçãos para uma vida espiritual sadia e para uma vida material
equilibrada.
Por
isso, a instituição que chamamos de Escola Bíblica Dominical é a terra propícia
para que a igreja local ensine tudo quanto o Senhor mandou.
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