sábado, 23 de maio de 2020

O Presidente e Cristianismo


Ultimamente, meus textos e observações têm-se iniciado com uma frase recorrente: “Irrita-me...”. Às vezes, penso ser efeito da senilidade, afinal, meus dezoito anos já ficaram bem longe. Outras vezes, vejo-me cheio de razão, diante do que leio nessas mídias sociais e em outros lugares. Mas vamos aos fatos.
O Brasil (não só o Brasil cristão ou evangélico) elegeu o capitão Jair Messias Bolsonaro, para a Presidência da República. Entre outras “virtudes”, a Nação viu no homem a de se declarar cristão – com versículo bíblico e tudo. Nada mau para quem suportou Presidente bêbado e boca suja. Neste ponto começa o enrosco.
Algum “sábio” religioso postou que a palavra cristão significa “pequeno cristo”. De onde ele tirou isso? Sabe-se lá! Também não está nisso o maior mal. Os seguidores de Cristo foram chamados cristãos, pela primeira vez, em Antioquia (At 11.26). Anteriormente eram chamados os “do Caminho” (At 9.2).
Quando Jesus andou por este mundo, multidões o acompanhavam por onde quer que ele andasse. Muitos simpatizavam com os seus ensinos, mas não eram seus seguidores; logo, não assumiam compromisso com a sua doutrina; mas eram considerados homens “do Caminho”, tanto que Pedro, enquanto negava o Mestre, era considerado um “do Caminho”.
O Brasil religioso, considerados aqui os evangélicos e os católicos, decidiu apoiar para a Presidência da República um candidato que se diz “cristão”. Assim, a parcela dita evangélica resolveu puxar a sardinha para o seu lado, não sei a troco de quê. Tenho para mim que uma Nação carece de políticos e administradores honestos em suas funções no Estado, e isso não envolve a convicção religiosa de ninguém. Caso contrário, não haveria políticos evangélicos condenados e presos pela Justiça. Querem nomes?
O atual Presidente encontrou, principalmente no meio evangélico, um nicho importante, que, encantado pela recitação de um fragmento das Escrituras Sagradas, passou a assediá-lo ridiculamente.
Jair Bolsonaro não desistiu de ser católico, nunca se declarou evangélico, embora o tenham batizado (na marra) lá em Israel.
Mas, ponderemos! Que tem a ver o patriotismo, o amor à família, a devoção própria da caserna ao país e a simpatia pelos crentes com os interesses do Reino de Deus? Nada!
Cabe ao Presidente, por si mesmo, controlar e selecionar o seu vocabulário (o falar demais também) e prosseguir o bom trabalho que vem fazendo, motivo por que alinha inimigos ferozes que almoçavam, jantavam, bebiam uísque à vontade e falavam impropérios à mesa do ladrão, ora condenado.
Dispensa-se a interferência - como sugerem alguns – da Ministra Damares Alves (Onix também é evangélico). Ela não foi posta para capelania no Palácio, ela é uma funcionária do Estado, e sua fé nada tem com a sua mesa de trabalho, assim como a minha mesa de trabalho não está posta com a finalidade de eu exercer a exposição da minha crença. Os frutos aparecem sem que eu os ponha num cesto à frente de todos.
Deixem, por um tempo, o trato religioso de quem quer que seja. “... para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).

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