O sacrifício de animais em
atos religiosos antecede os hebreus. Na verdade, antecede o relato bíblico do
Gênesis, porque, primeiramente, Deus mesmo sacrificou um animal para vestir a
Adão e a sua mulher, no Éden.
É provável que a história
adâmica tenha atravessado os séculos e chegado às culturas subsequentes, as
quais instituíram como forma de culto aos seus deuses o sacrifício de animais e
até de pessoas. Tal prática ainda se vê nas religiões pagãs deste século.
É de se crer que Abrão (não
Abraão) conhecera aquele tipo de ritual - ele fora pagão - antes de que o Deus,
o Senhor, a ele se revelasse. Por conseguinte, o seu filho, Isaque, criado
nessa cultura, conhecia bem os atos religiosos de sua época.
No Gênesis, capítulo 22, Deus
submete Abraão a uma duríssima prova de fé: exigiu o sacrifício do único e
amado filho. Abraão conheceria, nisso, o profundo valor de um sacrifício!
“... Toma, agora, o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas e
vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto...” (v.2). Deus
expõe o patriarca à prova: exige ação imediata (Toma, agora,...); lembra-o de que o rapaz é o único filho, além
disso, amado! Quem de nós não sucumbiria em tamanha provação?
Conseguimos avaliar, mais ou
menos, a dor do pai. Mas voltemos a atenção para o jovem Isaque, que já não era
uma criança pequena. Era um rapaz, ajudante nas lides paternas e, provavelmente
nos sacrifícios; tanto que carregou a lenha para o holocausto! Ele já conhecia
e, talvez, já tivera presenciado algumas vezes o culto abraâmico.
Pai e filho, com seus
empregados, saem ao amanhecer; levam fogo e lenha, obviamente, para “mais um
sacrifício”, porém, não há cordeiro! Isaque deve ter achado aquilo muito
estranho, já que a composição dessa viagem diferia das anteriores. Isaque
sabia, também, que os outros povos sacrificavam filhos aos seus deuses. Teria
seu pai adotado a mesma prática?
O coração bate forte, mas ele
segue obediente, até que, ansioso por tirar uma dúvida, decide perguntar pelo
cordeiro do sacrifício (v.7).
A resposta de Abraão foi
evasiva, amorosa e prudente. A expressão hebraica, reveladora da fé depositada
em Deus, foi “Jeová-jiré”: “Deus
proverá!” (v.8). Como terá ficado o coração do moço, despertado para assumir
com Abraão uma atitude de fé? Deus provê! É essa é nossa fé?
Se nós teríamos, talvez,
insuperável dificuldade para estar no lugar do patriarca, qual seria a nossa
reação, assumindo o lugar de Isaque. Seríamos um assustado cordeiro para o
sacrifício, ou nos rebelaríamos como animal rebelde?
A prova divina não atingiu
apenas a Abraão, mas àquele que seria a sua posteridade. O filho abençoado
prossegue na vereda do pai; o rebelde decide desviar-se dele.
A fé demonstrada por Abraão
ressalta no trecho em que ele mandou que os empregados aguardassem num ponto,
até que ele, indo ao sacrifício, voltasse com o rapaz! É assim a nossa fé em
Deus? Isaque seguiu confiante, na mesma fé, pois, sem dúvida, já imaginara os
próximos passos.
Dois homens de fé
incondicional no Deus Todo-poderoso! Silenciosamente amarrado sobre a lenha
seca, fogo aceso ao lado, um cutelo pronto para a degola e dois corações
confiantes na proteção e no amor divinos. Como estariam os corações deles? Como
estariam os nossos corações?
Abraão levantou o cutelo que
faria rolar a cabeça do filho único de sua velhice, do filho da promessa,
ansiosamente aguardado por ele e por Sara. Toda a esperança terminaria no fio
da espada! Mas, Deus proverá cordeiro
para o holocausto, repete a fé, no coração do ancião e do jovem. Deus
proveu o animal para o sacrifício e o livramento.
“... Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada;
porquanto, agora, sei que temes a Deus...”.
O texto bíblico traz duas
vezes o advérbio de tempo agora. Um agora de exigência (v.2), e outro agora, de maravilhoso socorro divino.
Atendamos o agora que Deus nos impõe, certos de que
o seu livramento e consolo também vêm num outro agora. Amém!
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