Não é necessário dizer que a
natureza humana é degradada. Uma das características dessa degradação está no
sentimento de insubmissão. Ninguém aprecia estar sujeito a quem quer que seja.
Desde o berço, a criança insurge-se contra a supremacia materna, e luta para
fazer o seu próprio querer. Essa é a natureza animal do homem; ele carece de
instrução, a fim de desenvolver os modos socialmente tidos como bons. Não há
dúvida de que o ser humano vive sob normas e convive com elas; além disso, será
punido se as desafiar, uma vez que, não sendo ser isolado, está inexoravelmente
ligado ao grupo, ao qual chamamos sociedade.
Onde houver dois indivíduos há,
necessariamente, um envolvimento hierárquico explícito, ou implícito (Jesus, o
árbitro do cristão, referiu-se a isso), e o bom funcionamento dessa hierarquia
é rotativo. A prova dessa rotatividade? O diálogo. Duas pessoas não estabelecem
comunicação verbal simultaneamente, mas sucessivamente, e o processo só será
bem (ou talvez mal) sucedido ao final desse jogo hierárquico.
Todavia, a insubmissão faz
parte do caráter humano, o que facilmente gera a recusa ao diálogo, ou a falsa
submissão, isto é, a falsa concordância, que é gerada pelo temor da parte
fraca, ou pela astúcia de um manipulador.
Imaginemos, agora, o relacionamento
entre os membros de qualquer comunidade (igreja) evangélica. Toda atividade
humana, inclusive a que busca a transcendência (relação com Deus), é feita por
homens, cujas características humanas - óbvio necessário - lhes são peculiares.
Portanto, é compreensível (até certo ponto) que eles ajam em conformidade com a
sua natureza carnal.
Entretanto, a Bíblia afirma
que o homem cristão já não é o homem natural, mas o espiritual, o que mostra
que a sua natureza humana está mortificada; já não tem poder sobre as suas
decisões, porém, submisso às decisões do seu Senhor, pela orientação do
Espírito Santo. Paulo afirma: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se
entregou a si mesmo por mim (Gálatas, 2.20)”.
Se a igreja, de fato, se forma
por homens que já não vivem a vida natural, mas a de Cristo, é de se esperar
que Cristo seja o árbitro de suas decisões e interesses.
Aqui se chega ao ponto crucial
da nossa realidade: o verdadeiro comportamento cristão não deve buscar o
interesse individual, mas o comum a todos, desde que dirigido pelos princípios
do evangelho de Cristo.
Ora, o consenso não implica
falta de hierarquia; caso implicasse, a Bíblia não teria instrução sobre o
assunto. Mas tem! Basta lermos Efésios, 4.11-13 e Hebreus, 13.17. Como, pois,
conciliar hierarquia e unanimidade, ou consenso? A resposta é bíblica: “Cuide
cada um não só dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”
(Filipenses, 2.4).
A Bíblia não manda desprezar o
interesse pessoal; ela ensina que não se deve cuidar somente do
interesse próprio. As decisões na igreja primitiva eram tomadas após oração,
porque o Espírito Santo era o árbitro em todas as coisas (Atos 6.3-6).
Finalizando, é conveniente
chamar os crentes de todas as igrejas cristãs evangélicas a que pautem a sua
vida de modo a serem pessoas espirituais, pois o homem natural já está
mortificado com Cristo.
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