Devem os crentes cristãos prover-se de armas
de fogo, visando à própria segurança diante dos ataques de perversos? Na página
precedente há uma bem ligeira referência ao surgimento e à finalidade das
armas. Elas surgiram como utensílio de caça das presas que serviam de alimento,
além de serem um instrumento que facilitava tanto o trabalho humano no dia a
dia como a defesa da vida contra as feras com que o homem se defrontava.
A maldade do coração humano levou-o às
desavenças pessoais, às agressões físicas, aos conflitos sociais de grandes
proporções como as guerras. Nesse contexto é que o homem descobriu a
possibilidade de armar-se contra o seu desafeto e desenvolveu toda espécie de
armamento, com ênfase nas armas de fogo. Esse tipo de arma resultou da invenção
da pólvora, na China, lá pelo século IX.
A tecnologia bélica avançou através dos
séculos, numa trajetória de aperfeiçoamento tão grande que hoje se tem à
disposição os armamentos mais sofisticados. A Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), assim como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram os grandes
laboratórios para aperfeiçoamento das armas de fogo, entre outros tipos de
material de ataque a inimigos.
A primeira arma de fogo portátil foi o
mosquete, surgido no século XVI. O revólver, por sua vez, surgiu no ano de
1835, patenteado pelo norte-americano Samuel Colt.
Mas, qual a finalidade da arma de fogo? Sem
dúvida, ela tem a finalidade de causar lesão grave em outrem, ou mesmo provocar-lhe
a morte. É, portanto, instrumento para tirar a vida.
Os cristãos declaram-se seguidores de Cristo.
A Bíblia manda que sejamos imitadores d’Ele. “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1Co 11.1). “Sede, pois imitadores de Deus, como filhos
amados” (Ef 5.1). “E vós fostes
feitos nossos imitadores e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação,
com gozo do Espírito Santo” (1Ts 1.6). Apenas essas citações mostram-se
suficientes para que cristãos não adotem armamento pessoal algum.
Tenho lido defesas contrárias a estas
considerações, as quais buscam trechos registrados no Antigo Testamento como
endosso para suas convicções. Ora, primeiramente é necessário verificar que, de
modo geral, o povo de Israel armava-se para confrontos entre povos, entre
reinos. Eram guerras. Não se tratava de armamento de uso pessoal. Davi matou a
Golias usando um tipo de arma para caça, mas estava em guerra contra os
filisteus.
Outros tomam para si o episódio em que Pedro
ataca o soldado romano, cortando-lhe a orelha, quando vieram prender a Jesus.
Vale lembrar que a mais completa conversão do apóstolo Pedro ocorreu depois
desse evento. Àquela altura, Pedro era sanguíneo, homem pronto para brigar,
agredir, agir “segundo o curso deste mundo”. Disporia Pedro de uma espada no
dia de Pentecostes? Estaria armado quando foi preso com João e levado à cadeia
de onde foi tirado por um anjo?
Li alguém que disse: “Jesus não mandou que
Pedro jogasse fora a espada; mandou guardá-la”. Argumento ingênuo ou de má
intenção! Existem, ainda, os que procuram como argumento o texto de Lucas, 22,
que transcrevo: “E disse-lhes: Quando vos
mandei sem bolsa, sem alforje ou sandálias, faltou-vos, porventura, alguma
coisa? Eles responderam: Nada! Disse-lhes, pois: Mas agora, aquele que tiver
bolsa, tome-a, como também o alforje; e
o que não tem espada, venda a sua veste e compre-a. [...] E eles disseram:
Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta” (Lc 22.35-38 –
destaque meu). Ou, como se diz em linguagem popular, “o bicho ia pegar!” Era
necessário estar psicologicamente preparado para a adversidade. Jesus não
pretendia dizer que seus discípulos deveriam enfrentar literalmente os
soldados. Jesus não precisava da força humana em sua defesa (Jo 18.36; Mt
26.52.53).
Examinemos: Evidentemente, Jesus mais uma vez
transmitia uma mensagem de forma metafórica. A situação que se aproximava era
dificílima e os discípulos passariam por momentos terríveis de desolação e
mesmo de possível desistência de Cristo. O próprio Pedro, ainda que armado de
espada, teve tamanho pavor que negou o Mestre.
Após a ressurreição do Senhor, qual dos
apóstolos mencionou uso de armas em suas horas de aflição? Com que arma Estêvão
se defendeu dos algozes? E Pedro lutou contra alguém? Paulo armou-se para a
própria defesa? E os cristãos que, formando a Igreja primitiva, passaram por
duros períodos de intensa perseguição, buscaram armar-se contra os seus
perseguidores?
Não há, pois, como aceitar que caiba ao
cristão verdadeiro a posse, nem o uso, de arma de fogo. “O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Sl 122.2).
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