terça-feira, 21 de julho de 2015

O PAÍS DOS TÍTULOS NOBRES

    O Brasil nunca se desvencilhou da mentalidade colonial. Daqui nunca saiu o conceito da mais-valia. Somos fruto de uma mentalidade retrógrada europeia que aqui aportou com ares de superioridade, já que aquela gente gozava da arrogância do peito lusitano cantado por Camões, o Luís Vaz de Camões.
    Aqui chegados, o que viram? Natureza! Viram os "mares bravios de minha terra", tão largamente pintados por Alencar, de Iracema, de Ubirajara, entre outros. Mas... a Europa não se preocupou com isso: viu uma "pobre gente inferior" que podia ser útil tanto na exploração de madeira quanto na busca do ouro farto, o ouro que ia para os quintos...!
    Aqui também chegaram os jesuítas; homens não só de fé e de maldade, mas também de importância!
    Logo mais tarde, criou-se uma casta importante, que viu no negro o que Portugal vira no índio. O "doutor" (sem doutorado) proliferou por aqui. "Vai graxa, doutor?" Branco de pele, com posses para se vestir bem é, até hoje, "doutor". "Quer a conta, doutor?"
    Político também virou "doutor". O país tornou-se amante dos títulos (pouco importa que validade confiram). Ah! salvou-se Machado de Assis: nenhum título. Pra que título? Apenas um "bruxo do Cosme Velho". O Brasil virou amante dos títulos, validando não apenas os acadêmicos ou os eclesiásticos oficiais mas também, com muita ênfase, os falsos: nada oficiais. Bem, por que, então, não aproveitar a maré? Assim, vieram - mesmo sem validade, porque autoproclamados - apóstolos e apóstolas (dá pra rir); bispos e bispas (bispa é um feminino que assumiu o lugar de episcopisa, mas fica mais fácil). Desçamos na "hierarquia": (pseudo) pastores e pastoras, os quais são aspirantes à ascensão.
    O neopentecostalismo se fartou de títulos. Qualquer cantorzinho mequetrefe já ostenta seu título de "pastor". Antes, apelavam para a hierarquia hebraica, eram levitas, mas esse título poderia confundir-se com os pulinhos que dão nos palanques; além disso, os seus fãs reconhecem com muito mais veneração o título de "pastor". Isso os coloca lá nas alturas, bem "acima da média" (nada medíocres). Que bom! Títulos! Queremos títulos; assim manteremos a mentalidade colonial da terrinha, não é, doutor?
    Izaldil Tavares de Castro.

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