“Eu,
irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz
com ostentação de linguagem e de sabedoria, porque decidi nada saber entre vós,
senão a Jesus Cristo, e este crucificado”. (1Co 1.1-2).
O primeiro discurso envolvente - logo,
eloquente - aconteceu pouco depois de Adão e Eva viverem sob a bênção divina no
Éden. “Mas, a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor
tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda
árvore do jardim?” (Gn 3.1). Satanás, a serpente, que conhece muito bem os
recursos da linguagem, valeu-se do circunlóquio para encantar a Eva, sua
vítima.
Começou fazendo uma afirmação que talvez causasse
confusão quanto ao que Deus realmente dissera. O diabo pretendeu fazer a
primeira teologia fora da Palavra de Deus, mas a mulher aceitou o ensino
herético cujo resultado toda a humanidade sofreu.
O inimigo do ser humano não desistiu de
espalhar seus conceitos venenosos entre os homens, usando uma das capacidades
mais nobres de que muitos homens são dotados: a eloquência, a facilidade de
expressão. Os inimigos mais perigosos da verdade não são gente tosca, de fala
difícil; ao contrário, são dominadores de uma boa linguagem, conhecem os
recursos de um discurso envolvente, não abrem mão de uma postura atraente. Por
acaso, o diabo agiu diferente lá no Éden?
Provavelmente a igreja de Corinto esperava de
Paulo essa pretensa elegância; entretanto, o apóstolo chegou desfazendo
qualquer pretensão de arrogância, pretensão de sabedoria humana e eloquência
como atesta o versículo mencionado. Diz ele “Porque as armas da nossa milícia
não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas" (o destaque é meu. 2Co
10.4). Também Paulo faz referência aos jactanciosos que o menosprezavam pela
aparência: “As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença
pessoal dele é fraca e a palavra desprezível” (2Co 10.10). Ainda hoje os homens
julgam pelo que veem e, obviamente, sempre veem mal.
A pós-modernidade tem-se ocupado sobremaneira
com aquilo que é aparente, decorrência de uma sociedade secular ultraconsumista.
Esse mal tem atingido a Igreja, que se dedica a manter suntuosos templos e
liturgias conquistadoras dos gostos refinados. Que faria Paulo num desses
ambientes?
Todavia, não é meu propósito observar esses
aspectos materiais, senão para verificar que eles servem para suportar uma oratória
muitas vezes perigosa. Atualmente, grande parte dos frequentadores das igrejas
aprecia os pregadores inflamados em suas mensagens. Aplaudem a mensagem
calorosa, apreciam a dispensável verborragia grega dos “eruditos” (dispensável,
porque a plateia não conhece a língua original do Novo Testamento). O problema
está em que ninguém se dá conta de que a forma nem sempre justifica o conteúdo.
O discurso de Satanás, no Éden foi formulado
em bela forma; mas ela embalava o mais mortífero conteúdo para Eva e toda a sua
descendência.
Alguns, na igreja de Corinto, menosprezaram a
vista pessoal do apóstolo; acharam-no fraco de aparência. Tornaram desprezível
a sua pregação, por ser expressa com humildade. Não sabiam eles que aquele grande
homem tinha preparo intelectual para enfrentá-los em qualquer debate.
Entretanto, ele considerou nada toda a formação que recebera, a fim de
enaltecer a pregação do evangelho de Jesus Cristo.
É necessário que a igreja desses dias fique
atenta, sempre verificando que inúmeras vezes a forma (a eloquência
linguística, o conhecimento teológico, o demonstração de intelectualidade)
embala um conteúdo herético, antibíblico cuja serventia é a destruição da fé
verdadeira e simples como o é o evangelho de Jesus Cristo. Os filósofos
epicureus e estoicos de Atenas, achando-se sábios, chamaram a Paulo de
tagarela! “... Que quer dizer esse tagarela?...” (At 17.18). Mas o apóstolo
tinha uma razão: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram
chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de
nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo, para
envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as
fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e
aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se
vanglorie na presença de Deus” (1Co 1.26-29). Amém!
Ev. Izaldil Tavares de Castro
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