Por aqui, as pistas de patinação no gelo são, geralmente, áreas cercadas, chamadas ringue, em que os patinadores entram paramentados para se deliciarem nas voltas que dão ali dentro.
Jovens e crianças são os
maiores adeptos dessa brincadeira em pista de gelo; por isso passam horas a se
deliciar despreocupadamente. Ao redor do cercado, espectadores que não se
dispõem a participar ou apenas observam a habilidade dos que brincam.
Mas, as duas alas são bem
demarcadas: a dos patinadores e a dos espectadores. Os daqui não vão para lá; os
de lá não vêm para cá.
Em nossos dias, as igrejas
funcionam mais como ringue de patinação: cá dentro do cercado a alegria da
diversão; lá fora, a expectativa triste de milhões de pessoas. Os da pista, nem
se dão conta daquilo que ocorre com os de fora. O que passa em seus corações?
Como eles apreciam o que ocorre na pista? Apenas, cada patinador procura fazer
melhor o seu “desempenho”; cada qual quer, na pista, ser visto como excelente
patinador. Se o outro cai, melhor: ele não tem prática, não consegue, é
parceiro inadequado nessa dança. Nada há para se observar à volta do ringue.
Nosso ringue é a igreja. Aqui
temos satisfação, prazer, somos felizes; patinamos bem ou mal. Se caímos,
levantamos, ainda que meio sem graça entre os demais; mas, estamos no ringue.
Fora das paredes que nos separam estão espectadores. Alguns torcendo por nossa
queda: sempre há corações maus. Outros estão tão carregados e oprimidos que não
nos veem; se veem, não notam. Há também os que gostariam de ter oportunidade de
participar da nossa tão demonstrada alegria. Pensam: “Ah! Se me convidassem!”.
Mas, continuamos patinando no
gelo, em “nosso” ringue.
O que me chama a atenção é que
Jesus não nos chamou para “patinar”. Ele não instalou uma pista de patinação;
mas uma Igreja para “caminhar”. Sua ordem está expressa: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado.
E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28. 19-20).
Uma das noções do verbo “ir” é
“caminhar em direção a um ponto”. Não significa “rodear”, “estar em torno” ou “voltear”:
isso se aplica à patinação no ringue.
Enquanto grande parte da
Igreja cristã dá voltas a patinar, o mundo fica privado das Boas Novas de
salvação. A Bíblia manda anunciar o evangelho. Essa ordem supera o reunir-se
com os irmãos, supera cantar na igreja, supera frequentar os cultos dominicais;
porque sem o cumprimento dessa ordem de Cristo, nada tem valor perante ele. Ele
veio resgatar o que está fora do “ringue”: “... Porque o Filho do homem veio
buscar e salvar o perdido” (Lc 19. 10).
O apóstolo Paulo, exemplo dos
evangelistas, levou uma vida de “idas”, porque se interessava em propagar o
evangelho. Não foi ele um exemplo de “patinador cristão”. Paulo ansiava por
estar entre os cristãos; todavia, sentiu forte a necessidade de partir para
propagar a fé que hoje nos alcançou.
A igreja tem que sair da
patinação, precisa sair do cercado do ringue e distribuir a Palavra de Deus
para o mundo corrompido e sedento de salvação e paz.
Ev. Izaldil Tavares de Castro.
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