Eu sei que os tempos mudam.
Também sei que pessoas, hábitos e coisas são substituídos. Se pensarmos nos equipamentos de uma
residência média, há 50 anos, quase nada se adapta às novas casas. Aliás, aos
apartamentos desta época. Minha memória revisita a casa dos meus pais, onde
nasci, fui criança, adolescente e jovem, por fim.
Comecemos pela parte externa.
Havia dois enormes quintais: um deles, lateralmente à casa, era quase uma
chácara. Ali meu pai cultivava árvores frutíferas como um abacateiro,
goiabeiras, algumas canas de açúcar e hortaliças. Não precisávamos de feira e
supermercado ainda não existia.
No quintal da casa, a qual era
bem grande, havia jardins com plantas floridas; lembro que uma delas chamava-se
rainha-da-meia-noite. Ela exalava um intenso perfume. Não havia SABESP: a água
abundante vinha-nos de dois bem profundos poços, com bomba que alimentava as
caixas-d’água. Como se vê, tudo bem diferente de hoje.
O interior da casa tinha móveis
que hoje são relíquias de antiquário: imagine um aparelho de televisão: uma
caixa em madeira, enorme, envernizada, com quatro pés. Quando era ligada,
esperava-se “esquentar”, até que a tela ficasse acesa! Imagine o restante da
enorme casa, senão gastarei seu tempo descrevendo. Tudo muda? Não! Quase tudo.
Se tudo mudasse, eu não teria
essa saudosa lembrança que marcou minha infância, adolescência e juventude.
Tudo está preservado, pelo menos na memória. E por ela faço constantes visitas
ao passado. Lembrei-me agora, do automóvel Aero Willys, bege, 1961, do meu pai.
E na igreja? Fui criado numa
igreja que, hoje, seria chamada, na concepção administrativa assembleiana, de
sede de setor. Isso a tornava importante: tínhamos uma banda de música - poucos
sabem o que é uma banda de música: uma “orquestra” formada apenas de sopros.
Havia um coro em quatro vozes, que se acompanhava de um “hamônio” (melhor rir)
uma espécie de órgão movido a pedais que acionavam os foles!
Naquela época, creio que todos
os pastores eram sérios (em todos os aspectos); homens respeitadíssimos!
Os cultos não eram como a maioria
em nossos dias. Primeiro: os irmãos eram pontualíssimos e eram identificados
nas ruas por seus trajes e, sobretudo por carregar “cada um” a sua Bíblia, sem
vergonha nenhuma; aliás, com um orgulho indisfarçável!
Chegados ao templo, cada qual se
ajoelhava em seu lugar e ficava em oração, um após o outro. Na hora de iniciar
o culto, o pastor encerrava aquela oração que durara coisa de vinte a trinta
minutos; e a banda ia tocar, acompanhando o cântico da igreja. Era coisa de dois
ou três hinos do hinário Harpa Cristã. A palavra inicial estava sempre com o
pastor da igreja, o qual, às vezes, dava oportunidade a um ou outro irmão mais
experiente. A tônica dos cultos nunca era a música cantada, não havia “cantores”
à vontade, e esses, quase sempre eram visitantes em datas muito especiais. A
tônica era a pregação.
Claro que muitas vezes se
ouviu sermão passível de crítica, devido à dureza (e às vezes rudeza) do orador.
Todavia, nem por isso alguém ousava desrespeitar. Independentemente do tom
usado pelo orador, as pessoas queriam ouvir a exposição bíblica. Por isso, no
decorrer da semana havia reuniões de estudo bíblico e, lembro-me bem, as E.B.D.
eram lotadas e se dividiam em classes: homens, mulheres, jovens e crianças.
Todos os alunos haviam estudado a lição do domingo, que era organizada, para
preparo domiciliar pelas famílias, em cada dia da semana, de segunda a sábado.
Aliás, aos sábados havia a Escola dos Professores de E.B.D.
Quanta mudança!
Muitas igrejas cresceram, não
poucos crentes cresceram mais ainda! Como existe crente grande! Escolas
Dominicais passaram a ser dispensáveis, porque ninguém as frequenta. As lições
bíblicas viraram estoque morto. Aquela pontualidade do passado já não é levada
em conta, e a reverência ao chegar ao templo esvaiu-se. Agora tem-s, em grande
parte das igrejas, um cafezinho inicial, quando se pode bater um papinho, até
que o pastor, ao microfone, chame os presentes, porque já é hora do culto. Os
presentes! Porque outros chegarão dentro de vinte ou trinta minutos.
Mas, em nossos dias, para que
os minutos de oração antes do início do culto? O pessoal se acostuma a “entrará
no clima”, com os cânticos que porão entusiasmos na plateia. E haverá palmas!
Tudo bem.
Por essas e outras, a maioria
dos pastores se obriga a transformar o que já se chamou de “culto público” em
ministração para crentes despreparados. Tem de dar ensino, chamar à atenção, “mostrar
o que diz a Palavra”! Os cultos dominicais eram chamados de “cultos públicos”,
porque tinham a finalidade de anunciar o evangelho aos visitantes não crentes!
Eram cultos que cumpriam o “Ide” de Jesus. Hoje quase não há visitantes, porque
os tempos mudaram, a vizinhança já não convive tão próximo e os crentes não nos
empenhamos em convidar alguém.
Sei não! Estamos sendo leais a
Cristo? Parece-me que estamos empenhados em receber de Deus as bênçãos e as
respostas às nossas necessidades. Queremos respostas de Deus. Mas as respostas
que procuramos significam “atendimento dos pedidos”. Deus, porém, está
esperando de nós uma pergunta: Como estou diante de ti, meu Senhor? Que te
darei eu pelos benefícios que me fazes?
O salmista diz: “Que darei eu
ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da
salvação e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora,
na presença de todo o seu povo” (Salmo 116.12-14).
Mudanças ocorrem; o Senhor,
porém, jamais muda “Porque eu, o Senhor, não mudo; pó isso, vós, ó filhos de
Jacó, não sois consumidos” (Malaquias, 3. 6). Nossas mudanças são normais e
necessárias neste século, entretanto, não podem alterar o decurso da nossa
relação com Deus.
Ev. Izaldil Tavares de Castro.
Verdade. Espero que voltemos ao evangelho com a urgência que isto requer.
ResponderExcluirUm forte abraço.
Washington