Jesus sempre aludiu à linguagem figurada para
que seus ouvintes entendessem a mensagem de sua autoridade celestial, a mensagem
de libertação e de salvação que dele provinham. A metáfora, a parábola, a própria
hipérbole fizeram parte de seu discurso didático.
Considerando que em sua região era comum a
criação de ovelhas, a relação existente entre os proprietários rurais e seus
rebanhos serviu fortemente para marcar a relação do Senhor com aqueles a quem
ele veio buscar. Por isso, ele se declarou não apenas “pastor de ovelhas”; mas
o “Bom Pastor”.
O adjetivo neste caso bem traduz uma extensa
lista de qualidades inerentes à pessoa de Cristo: amor imensurável,
responsabilidade a toda prova, vocação para o trabalho são algumas dessas
características do Mestre. Por outro lado, marca também a diferença entre o
mercenário, o qual sobrevive do que pode tirar de um rebanho que não lhe
pertence, mas de que tem a guarda.
No tempo de Cristo havia proprietários de
outros animais, tais como bois, camelos e jumentos: os muares, bestas de carga.
Mas o Senhor não usou esses animais para figurar os homens a quem viera salvar.
Por quê? Por causa da relação entre essas espécies e seus proprietários. Ora,
os donos de muares exploram o transporte de cargas sobre suas mulas e jumentos.
Quanto mais carga, mais faturamento. Jesus não veio explorar, senão, dar a sua
vida pelas ovelhas; veio livrar os homens de suas cargas, transformando muares
em ovelhas.
O trato com ovelhas é diferente. Elas são
produtivas também. Dão leite e sua pelagem está à disposição do pastor, mas
este só as pela no verão, o que é alívio e refrigério para elas.
Cargas não são adequadas às ovelhas. Jesus
fez um convite: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e
eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois
sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mateus, 11. 28-30).
O homem que não vem a Cristo não está na
categoria de ovelha, pois não achou o Pastor, fica, assim, na categoria de
sobrecarregado: um dos muitos muares, chicoteados pelo dono.
Bem, não são poucas as passagens bíblicas que
mostram a suavidade do Bom Pastor para todos os que a ele se achegam. Ele veio
transformar “muares” do diabo em “ovelhas” do Bom Pastor. Veio tirar homens de
sob o chicote, conduzindo-os à liberdade. “Disse Jesus aos judeus que haviam
crido nele: Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente
serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João
8. 31-32).
Quem vem a Cristo é um ser livre!
Vivemos dias de um evangelho tão torto (outro
evangelho a que Paulo se refere em algumas de suas cartas), que não resta outra
conclusão, a não ser a de que está espalhada entre nós uma horda de mercenários,
os quais se propuseram transformar ovelhas em mulas, para sobre elas colocarem
os seus fardos.
O homem, estando fora dos cuidados de Cristo,
vive sobrecarregado de pecados, de vícios e de toda sorte de mal que o oprime. Também
há fardos de todo tipo: de falsas doutrinas, de pesadas obrigações para com
suas “igrejas” – que não são redis nos quais se tratam ovelhas; são cocheiras
em que se põem os muares a sobrecarregar.
O falso evangelho está, há muito tempo, instituindo
o caminho inverso ao proposto por Jesus; enquanto o Senhor propõe transformar
carregadores de cargas em ovelhas que entram, e saem, e encontram pastagem (João,
10. 9). O pseudoevangelho vem transformando ovelhas em muares.
A proliferação desse mal do século é que
enorme quantidade de pessoas não se interessa em procurar o Bom Pastor. É gente
que rejeita a oferta amorosa de Jesus, o Cristo de Deus. Quanto mais oposição
para ser ovelha de Cristo, mais disposição para ser sobrecarregado de males, de
pecados, de escravidão àquele que veio para destruir o homem: o ladrão que “vem
apenas para roubar, matar e destruir” (João 10.10).
Seguir a Cristo é ouvir atentamente a sua
palavra, e obedecer a ela; é dispor-se a passar de burro de carga a ovelha; é
recusar toda forma de opressão: seja do mundo atual, seja de lideranças personalistas,
que se presumem proprietárias de um rebanho; seja de dogmas, de costumes, de
imposições humanas etc. Bem melhor passar a ser ovelha do Senhor e ser livre.
“E conhecerão a verdade, e a verdade os
libertará” (João 8.32).
Ev. Izaldil Tavares
de Castro
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