Em princípio, vale observar que uma análise é
trabalho de decomposição: disjunção das partes, a fim de se compreender o todo.
Será infrutífera, ou desonesta, ou insipiente a pretensa análise de qualquer assunto, desvinculada dos princípios
analíticos.
Todavia, para que se efetue uma análise
segura, é necessário o concurso da inteligência, do método, do raciocínio, o
que exclui qualquer resquício de subjetividade: análise e propensão ao
tendencioso não dão liga.
Hoje, a mídia social abre espaço para todo
tipo de manifestação sobre qualquer assunto, fato muito bom por um lado; mas,
bastante perigoso, por outro. Perigoso, porque a maior parte das manifestações
favoráveis ou contrárias a determinadas matérias não passa pela severidade da
análise, isso é, quase sempre é a expressão da subjetividade humana.
Recentemente, veio à baila o episódio
lamentável do entrevero entre um conhecido pastor evangélico do Rio de Janeiro,
Silas Malafaia e um, também conhecido jornalista da BandNews, Ricardo Boechat.
Foi grotesco o espetáculo proporcionado no duelo verbal, e os comentários
dividiram-se entre os partidários de um e de outro cidadão. Quanto a quem é
considerado protagonista ou a quem é considerado antagonista, a subjetividade
tem resolvido.
Ora, é possível que se dê aval ao pastor
Silas Malafaia; mas, de modo algum pelos seus belos olhos. Há que se ponderar
que um pastor evangélico obriga-se a determinadas regras de comportamento
social, inclusive linguístico. Um pastor tem sua disciplina social regida pela
Bíblia Sagrada, e o que ultrapassar esses parâmetros desconstrói-lhe a imagem
social, uma vez que, aqui, não abordo o ponto de vista de relação espiritual de
ninguém. Que determinam as Escrituras, relativamente à atuação social de um
pastor de almas?
“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu
serviço, para a edificação do corpo de Cristo...”. (Ef 4. 11-12).
“... Pastoreai o rebanho de Deus que há entre
vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram
confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho...” (1Pe 5. 2-3).
“... Por esta causa te deixei em Creta, para
que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como em cada cidade,
constituísses presbíteros conforme te prescrevi: [...] porque é indispensável
que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não
irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância;
antes hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de
si, apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder,
assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem, ...”
(Tito, 1. 5-9).
Há, até aqui, ensino bíblico suficiente para
se decidir apoio ou refutação à maneira de agir do pastor Silas Malafaia, sem
interferência emotiva, sem recurso ao gosto pessoal, à empatia.
Por outro lado, para se avalizar a atuação do
jornalista Ricardo Boechat, cabe verificar os parâmetros que limitam essa
atuação.
Jornalismo é profissão que exige apreciável preparo
intelectual, envolve formação geral aprofundada: tanto que há uma plêiade de
jornalistas atuantes nas Relações Internacionais, no Itamaraty. O profissional
dessa área tem de estar excelentemente preparado para atuar em todas as mídias
com o mais apurado grau de bom senso e responsabilidade social. O que aqui se
entende por responsabilidade social abrange a exigência de grande autocontrole,
ainda que o profissional depare com uma situação bruscamente antagônica. Esse
autocontrole inclui o vocabulário de um jornalista. Mesmo que enfrente um
debate, esse profissional deve saber que a sua atenção está naqueles que o
ouvem ou leem o que escreve. Impossível ofender com palavras, com gestos
quaisquer o público assistente.
Se o jornalismo é profissão de nível
superior, a baixaria linguística aniquila o exercício profissional, colocando o
jornalista no mesmo cesto de lixo da escória social.
Não é inteligente o comentário que aplaude o
uso de termos chulos; pois, concordar com um ponto de vista, não obriga
concordar com a expressão verbal desse mesmo ponto.
Ora, se existem normas indispensáveis ao
comportamento social de pastores, padres, enfim, líderes religiosos e, se
também existem normas de boa conduta profissional, especificamente neste caso
do jornalismo, a análise das condutas aqui mencionadas tem, necessariamente, de
passar pelos crivos aqui apontados.
Ev. Izaldil Tavares de Castro
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