“Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido,
amai-vos de coração uns aos outros ardentemente” (1Pe 1.22).
O destaque no texto bíblico
citado é meu: chama-me à atenção. Porventura, o amor que eu demonstro aos
irmãos confere com a recomendação petrina? O apóstolo Pedro registra um estado
necessário para a prática do amor fraternal não fingido: ter purificado a alma
pela obediência à verdade. Compreenda-se, pois, que não é pela sua própria
natureza que o homem pratica esse amor isento do fingimento: a prática recomendada
se efetiva por obediência à verdade.
Para o ser humano é fácil a
prática do amor fingido; essa espécie de amor que nos libera de maior
compromisso com o próximo; esse amor do desobrigado “Como vai?”.
Muitas vezes, Deus permite que
sintamos fortemente, na pele, o problema que nosso irmão enfrenta. Só assim,
acordamos para uma realidade. Deus permite que nos faltem os recursos financeiros,
a fim de que avaliemos os problemas do nosso irmão; Deus permite que sejamos
perseguidos, para entendermos a crise de nosso irmão; Deus permite que nos
sintamos sós, desamparados, sem apoio, para que avaliemos a solidão de quem
está tão perto de nós.
É inegável que todos os
cristãos estamos acostumados àquele rotineiro encontro dominical, na igreja que
frequentamos; estamos conformados com o cumprimento trivial, desatento, insosso
que não passa de uma perguntinha retórica: “Como vai?” A resposta também é
retórica: “Tudo bem.” Isso dificilmente reflete a verdade, já que um não se
interessa; e outro não abre o coração.
Quanto problema se localiza
entre esse simples cumprimento? Quanto coração ferido? Quanta mágoa irritando a
alma? Quanta necessidade de apoio material e espiritual? Quanta falha cometemos?!
Que sentimento nos une tanto,
que - na maioria das vezes - nem damos conta de que algo, realmente não vai
bem? A questão está em que perdemos a convivência e o interesse pelo outro.
A frequência semanal com que
nos vemos encobre problemas mil do coração alheio. Geralmente, somos alertados
pela ausência constante de quem não tinha esse hábito; por isso, estranhamos.
Estranhamos a ausência, não nos fere o possível problema, causador da ausência.
Quanto aos “desaparecidos” de entre nós, o tempo tem-se encarregado de
apagá-los de nossos pensamentos. Quantos já “desapareceram”, e não damos conta
disso? Quantos desistiram da convivência, e com eles não nos importamos? Como
podemos dizer que somos “corpo”? Acaso, pode o corpo perder uma parte, sem se
dar conta disso? Então, mentimos! Mentimos muito!
A vida secular, em nosso tempo,
afasta-nos dos irmãos; temos “nossos” (pessoais) problemas. Não há espaço para nos lembrar de quem é o
nosso próximo. Enfim, esquecemo-nos do amor ao próximo. Não é só do amor não
fingido que nos esquecemos: esquecemo-nos da obediência à verdade. De que
verdade nos esquecemos?
A verdade esquecida é a recomendação
do Senhor: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como
eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão que sois
meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João, 13. 34-35).
A recomendação do Senhor Jesus
não se resume a que amemos o próximo; mas, que o amemos como ele nos amou! Como o Senhor nos amou? “Ora, antes da Festa da
Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o
Pai, tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim” (Jo 13. 1 - destaque meu).
Concluo que estamos em grande
falta perante o Senhor, também nesse quesito da vida cristã. É necessário
atentarmos para a obediência à verdade e, por ela, dedicarmos o amor não
fingido, para que haja bênçãos sobre as nossas vidas.
Grande parte dos “evangélicos”
da atualidade praticamos um evangelho vazio, personalista, voltado para o nosso
próprio interesse. Reunimo-nos no templo para pedir “Eu quero de volta o que é
meu”; “eu vim buscar a minha bênção!” Se Jesus estivesse fisicamente entre nós,
o que Ele nos diria? O que Ele nos diz, hoje, pelo Espírito Santo? “Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2. 29).
Essa desatenção ao amor não
fingido não está restrita a igrejas e comunidades teologicamente reprováveis. Os
“crentes verdadeiros”, ligados aos ministérios “aprovados” pela doutrina
bíblica também estamos em grande falta para com a obediência à verdade. Qual
será a situação dos nossos relacionamentos fraternos, dos nossos cultos, dos nossos
louvores, das nossas pregações, diante do Senhor que nos remiu por amor
incondicional e imerecido?
Ev. Izaldil Tavares de Castro.
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