Parece estranho misturar uma noção da Economia
com o Evangelho, pois é possível crer que esses assuntos operem em campos
diametralmente opostos. Também vale verificar que em nossos dias essa
polaridade não anda tão afastada assim.
O mundo moderno funciona apoiado na busca do
lucro: só interessa investir naquilo que resulte ganhos apreciáveis em curto,
talvez em curtíssimo prazo. Até as marcas de sabão em pó disputam esse dado; o
consumidor dá preferência ao sabão que "rende mais"! Isso tudo gera
nas pessoas a ansiedade pela satisfação do prazer, do lucro, da vantagem.
Amigos? Os mais procurados são aqueles que nos podem oferecer alguma vantagem.
Vive-se a cultura do mínimo custo com o máximo benefício.
O povo de Israel, à época do nascimento de Jesus,
esperava a chegada de um grande líder: o Messias que lhes proporcionaria as
vitórias há tanto almejadas. Surpreenderam-se ao ver um pobre nazareno,
humilde, rodeado de alguns pescadores, aos quais ensinava. Não podia ser aquele
homem sofrido o salvador esperado. Talvez ele fosse um embusteiro.
Mas Jesus não veio ao mundo para ostentar
riquezas materiais e isso ele ensinou aos seus discípulos. Ao enviá-los a
pregar o evangelho, orientou-os a não se interessarem por conforto de qualquer
espécie: não deviam levar mudas de roupas, calçados extras, dinheiro etc. Eles
deviam contentar-se com o que lhes fosse oferecido.
O evangelho nunca incentivou seus seguidores à
busca dos bens materiais; nunca os levou a dar mais importância a quem fosse de
origem mais nobre. Jesus anunciou o desprendimento, a disposição para fazer a
obra do Reino de Deus, ainda que sob sofrimento. O profeta que antecedeu o
Senhor foi decapitado, por defender os princípios da moralidade. Os discípulos
sofreram ameaças, prisões, espancamentos e morte. Estêvão foi apedrejado. O
apóstolo Paulo, antes mesmo de iniciar seu ministério de evangelista, fora
informado de quanto deveria padecer pelo nome do Senhor Jesus (Atos, 9: 16). A
obra do evangelho é crucial. A infalível Palavra de Deus informa que
seremos odiados (Lucas, 21: 17).
Nos últimos tempos, a misericórdia do Senhor tem
sido longânima e permitido um tempo de suavidade, paz e liberdade para a vida
cristã neste mundo ocidental. O Brasil recebe essa bênção; por isso, muitos não
fazem ideia do sofrimento de tantos irmãos que compõem a Igreja Perseguida no
mundo. Por lá, conhece-se a dureza de servir ao Senhor.
Talvez, por causa dessa bênção, tenhamos a
informação do grande aumento da população evangélica nacional. Entretanto,
parece que a falta de compreensão das verdades bíblicas tem produzido um
evangelho de baixo custo e grandes benefícios, bem ao gosto da sociedade. Posso
ser "evangélico" sem que me seja cobrada uma vida de santificação, de
joelhos dobrados, de contínua comunhão com Deus. O Deus que me apresentaram é
somente um "Deus de promessas", um "Deus que não falha". A
relação custo/benefício é excelente!
Paulo manda considerar a bondade e a severidade
de Deus (Romanos, 11: 22). A justiça divina não pode expressar uma absoluta
bondade, sem uma absoluta severidade. Apenas bondade não existe; seria
pusilanimidade, fraqueza, falta de caráter. A bondade faz par com a severidade.
Há enorme erro nos evangelhos que se anunciam para as multidões. Com tanta
facilidade, vale a pena entrar "nesse negócio".
Mas, vejamos também que a mensagem do evangelho
não é tão-somente crucial. Seu lado duro se caracteriza pela necessidade de o
homem se desvincular de uma vida à qual se apegou: a vida de pecado. Considerando
que o pecado está arraigado ao coração humano, é necessário que, à força, nos
desvencilhemos dele: isso exige abnegação, sacrifício (Romanos, 12: 1). A
perseverança na Palavra é que nos faz viver afastados de um estado pecaminoso.
Livres dessa maldição, vislumbramos os maravilhosos e incalculáveis benefícios
de uma vida evangélica verdadeira neste mundo e as indizíveis riquezas nas
moradas eternas, onde Jesus foi prepara lugar para os que o amam.
Jesus deixou bem explícitos tais benefícios;
basta que se leiam algumas passagens: Mateus, 5, João, 14: 6, Apocalipse, 22:
12, entre outras.
As estatísticas apontam para um apreciável
crescimento da população dita evangélica; temo, porém, que a estatística
bíblica desminta isso. Não estou dizendo que o censo errou. Os cálculos devem
estar matematicamente certos. Digo que grande parte do "evangelho"
pregado hoje não é bíblico, porque oferece o benefício sem custo e isso altera
radicalmente as estatísticas.
Cabe aos líderes das igrejas a volta aos
princípios da Palavra de Deus,, sem qualquer acordo com o que constrange os
princípios da doutrina bíblico-cristã. Oxalá a igreja evangélica brasileira se
amolde à Palavra de Deus!
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