Sendo o Brasil uma terra
“achada” por portugueses, um povo extremamente católico, evidentemente a primeira
estrutura religiosa aqui implantada foi a católica romana. Padres portugueses
para cá vieram com a missão de “catolicizar” a gente brasileira.
Mais tarde, como resultado da
Reforma Protestante, de 1517, por aqui aportou o protestantismo europeu. Surgiram,
então, as igrejas protestantes. Instalava-se, assim uma dicotomia religiosa em
terras brasileiras.
Bem mais tarde, este solo
recebeu o Movimento Pentecostal, por volta de 1910. O resultado é um
cristianismo triangular: igreja católica, igrejas reformadas e igreja
pentecostal. Das três vertentes, a mais perseguida foi a igreja pentecostal,
pois sofreu discriminação por parte das duas outras.
Até aproximadamente 1960, a
discriminação era bem perceptível; o que não quer dizer que hoje já não se
discrimine.
Não resta dúvida de que a mãe
dessa discriminação litúrgico-religiosa é a Igreja Católica Romana, e ela
deixou filhotes entre os cristãos evangélicos. Hoje, é possível identificar
facilmente esse odioso comportamento no âmbito pentecostal. Os fiéis à Congregação Cristã no Brasil
costumam negar aos assembleianos o tratamento de “irmãos”: para eles, somos
“primos”!
Entretanto, mais grave é a
discriminação dentro da própria casa assembleiana. A tal distribuição
administrativa, chamada de “ministérios” tem-se tornado o centro do
separatismo. Não nos interessa apenas saber que o irmão é assembleiano:
queremos saber a que “ministério” ele está ligado; então, dependendo da
resposta, podemos torcer-lhe o nariz. Afinal, ele não pertence ao nosso
“ministério”.
É a esse comportamento
retrógrado que chamo de “carolice evangélica”.
A igreja que estava em Corinto
nutria esse mesmo espírito entre seus membros. O apóstolo Paulo exortou-a
severamente por tal prática:
“Rogo-vos, porém, irmãos pelo
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não
haja entre vós dissensões; antes, (que) sejais unidos, em um mesmo sentido e em
um mesmo parecer” (1Co 1.10).
Infelizmente, a divisão
ministerial das Assembleias de Deus no Brasil tem sido fator de incalculável
prejuízo em diversos aspectos. É necessário notar que esse comportamento
eclesiástico faz crescer a rotatividade de membros entre as igrejas (o que para
alguns é aspecto importante). No entanto, essa mesma rotatividade se justifica,
por exemplo, pela recepção de membros em situação irregular em seus ministérios
de origem – o que também parece representar “vantagem” para alguns ministérios
receptivos.
Não há necessidade de se
discorrer sobre os inúmeros prejuízos que tudo isso tem causado à propagação do
evangelho, uma vez que o mundo secular não compreende essas ocorrências, apenas
vê uma colcha de retalhos religiosa. Esse é um dos motivos por que pastores são
achincalhados como homens interessados em dinheiro – e isso, infelizmente –
quase sempre é uma verdade, alimentada pela “carolice evangélica”.
A “carolice evangélica” é
também responsável pela construção de mitos, chamados de “grandes homens de
Deus”, isso é, pregadores que se tornam “famosos” por seus discursos propensos
a agradar a uma plateia distante da verdade bíblica.
Claro que este texto não
reformará a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, mas, sem dúvida, servirá para
que cada leitor assembleiano fique alerta contra a “carolice evangélica” e
entenda que a Igreja Triunfante foi instituída pelo Senhor Jesus (Mt 16.18);
não tem inscrição nos órgãos do Estado, não tem posição geográfica, não tem liderança
humana. A Igreja Triunfante é formada de quantos têm o seu nome escrito no
Livro da Vida e é dirigida pelo Espírito Santo. Nela, contam-se os remidos pelo
sangue de Jesus (“Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” João
1.29), arrolados à Igreja Militante. A Igreja Triunfante é pura, intocável.
Na terra, essa Igreja pura se
representa pela Igreja Militante, formada por nós, homens imperfeitos, mas
salvos pelo sacrifício da cruz. Os salvos procuramos atingir a perfeição que se
completará no Dia do Senhor, quando estivermos com ele em glória.
Essa Igreja Militante tem seu
aspecto material, seus deveres para com o Estado e suas leis. É administrada
por homens escolhidos pelo Senhor:
“Ele mesmo deu uns para
apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas e outros para
pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo” (Ef 4.11-13).
Assim, entre nós não há lugar
para a “carolice evangélica”, desde que tenhamos a exata compreensão de que a
Igreja do Senhor está espalhada por todo o mundo, independentemente de qualquer
que seja o vínculo material a um ou a outro ministério. Somos um, em Cristo.
Amém!
Caro professor Tavares, graça e paz.
ResponderExcluirExcelente texto.
A carolice evangélica é o grande absurdo da igreja brasileira. Em meios à gritos, pulos e promessas, vinda exclusivamente da parte desses "Grandes Homens de Deus", surgem cada vez mais igrejas dispostas a dar continuidade à Carolice evangélica, infelizmente.
Bom, continuemos, firmes e fortes, combatendo o bom combate.
Deus seja louvado.
Prezado,
ResponderExcluirInfelizmente, a entidade maior da Assembleia de Deus no Brasil, a CGADB, pouco ou nada tem feito no quesito. Como ministro assembleiano deveria ser recebido em qualquer igreja da denominação, acompanhado de carta e cartão, mas em muitas nem apresentados somos. Conheço um secretário da entidade que não pode ir a outra Assembleia de Deus dentro do próprio estado onde atua.
Abração!