terça-feira, 24 de março de 2015

O PROBLEMA DA CONFIDÊNCIA


A palavra confidência pertence à mesma família de fidelidade. O confidente tem de ser pessoa de absoluta confiança, precisa ser aquele que jamais trairá um segredo recebido, qualquer que seja a circunstância. A maior quantidade de confidentes circula entre jovens e adolescentes, fase da vida em que se elegem os “melhores amigos”. Mas as pessoas maduras também criam seus confidentes, seus “grandes amigos”, a quem contam suas particularidades e, quase sempre, as particularidades alheias.
Nada é mais reprovável do que alguém passar a seu confidente um segredo alheio.  A confidência do segredo alheio é a maternidade da maledicência, o berço da fofoca, o nascedouro do ódio, a gênese do infiel para com o companheiro. Confidência é circunstância tão problemática que pode se tornar inconfidência.
Em princípio, não há pessoa de “absoluta confiança”. Onde está esse ser humano? Onde está a pessoa em quem se possa confiar absolutamente? Que diz a Bíblia a esse respeito?
Não há facilidade para se encontrar o confidente, uma vez que ninguém tem a capacidade de conhecer o coração alheio, o íntimo de outrem, ainda dos mais próximos. A Bíblia diz que o coração humano é enganoso, trai a si próprio. “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?” (Jeremias, 17.9). “Maldito o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força...” (Jr 17.5). Não existe pessoa em quem se possa depositar a totalidade da confiança.
Por que Deus deixou nos homens esse impedimento moral, considerando-se que o ser humano é de natureza social? Por que essa dificuldade de se abrir o coração diante de quem parece ser tão confiável, tão próximo, tão simpático? Por que as Escrituras Sagradas atribuem maldição aos que confiam no auxílio humano? Parece contraditório que a Bíblia fale de amor ao próximo, de união, de compreensão e, simultaneamente, traga esse peso. Há uma razão superior.
A natureza humana é divorciada da natureza divina; opõem-se a ela. O homem natural não reconhece a superioridade divina; por isso, dá preferência a construir relações meramente humanas: a sua “Torre de Babel” (Gênesis, 11.3).
Conhecedor dessa deformidade espiritual, mas cheio de amor pela humanidade, Deus impôs um entrave na confiança do homem na sua própria humanidade. Por meio desse entrave, os corações se veem obrigados a confiar na absoluta fidelidade e providência divina, independentemente de qualquer ingerência humana.
Não há humano que possa ser detentor seguro dos segredos mais íntimos de outrem. Isso glorifica a Deus: só a ele o homem deve confiar as suas tristezas, decepções, fraquezas ou deslizes, sabendo que ele é o Único fiel e justo. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (I João 1.9). Essa é a razão por que os confidentes devem ser evitados, em favor do verdadeiro Confidente amável, seguro, criterioso: Jesus Cristo. “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e ele agirá... (Salmo 37.5).
Jesus é o amigo certo, sempre na hora certa, com o apoio certo. “Quem tem muitos amigos pode chegar à ruína, mas, existe amigo mais apegado que um irmão” (Provérbios, 18.24). Quem é esse amigo mais apegado que um irmão? Existe? Em que momento ele não se fará presente?
Sim. Existe esse amigo: Jesus Cristo, o amigo absolutamente infalível. Seja ele, só ele, o seu confidente.

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