Muitos dos que a leem não a
examinam contextualizadamente, nem estudam o seu conteúdo; porém, destacam
versículos ao bel-prazer, porque veem neles uma “mensagem” a que se apegar. Há
quem mantenha, em casa ou no ambiente de trabalho, a Bíblia aberta em um dos
Salmos! Não é sem sentido que se tenham,
há mais de cem anos, inventado as famosas “caixinhas de promessas”.
Na minha infância conheci
crentes que, ao receber uma visita, não a despediam sem que “tirassem um
versículo”. Ora, nas caixinhas, todos os versículos são “maravilhosos”, porque
são propositalmente selecionados. Assim, fica fácil compreender que não estou
praticando nenhuma heresia, mas buscando uma reflexão sobre o assunto.
A Bíblia, o livro em si, é
algo material, que se desgasta, torna-se descartável. Em lugar de adorar o
livro, em lugar de procurar alguns versículos fora de seu contexto, a fim de
satisfazer uma curiosidade ou interesse, o crente deve procurar uma igreja
bíblica, em que haja ensino sério. Deve frequentar classes de boas escolas dominicais
e, em caso de dúvidas, aconselhar-se com um ensinador crente e preparado para
ajudar.
Não é raro encontrar pessoas
que usam uma afirmação do apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me
fortalece.”, para se considerar inatingível pelos problemas da vida. Isso é
isolar o texto do contexto.
Leia a carta aos Filipenses, 4
11-13. Evidentemente o apóstolo declara sua resiliência às adversidades: pode
suportar a fome, o frio, a tempestade ou a bonança, uma vez que está seguro na
fortaleza que vem de Deus. Então, ao dizer “posso”, está dizendo “consigo
suportar”.
As mídias sociais deste tempo
são um poderoso veículo da má interpretação dos textos bíblicos. Recentemente,
considerando o conflito israelo-palestino, muitos crentes pedem oração pela
“paz de Jerusalém”, apontada no Salmo 122.6. Sobre esse assunto o Pr. Magno
Paganelli tem excelente ensino, por isso, é desnecessário que eu opine.
Leio no Facebook a alusão a
outro Salmo: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor.” (Sl 33.12). Ora, é
plenamente sabido que Israel foi um reino teocrático, tanto que o versículo não
termina onde a maioria das pessoas o concluem: “Bem aventurada é a nação cujo
Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para a sua herança.” (grifo
meu).
Evidentemente, o brasileiro
não é o povo que Deus escolheu para a sua herança! Logo, torna-se claro que o
versículo não alude a nós, brasileiros, mas àquela nação, um Israel teocrático.
Desse ponto de vista é que
surgem as placas encontradas à entrada de muitas cidades, informando que o
lugar, o município “é do Senhor Jesus”. Toda a Terra é do Senhor Jesus, mas não
está, por ora, nas mãos dele. O próprio Satanás ofereceu as grandezas da Terra
ao Senhor Jesus, se o Mestre o adorasse. O mundo jaz no maligno, por este
tempo. São vãs as afirmações desse gênero, e provam o grande desconhecimento da
Palavra de Deus.
Por esses motivos é que chamo
a Bíblia de livro perigoso; porque é mal interpretado por pessoas descuidadas
de conhecimento, ou mal usado pelos falsos líderes que, em geral utilizam
textos buscados no Antigo Testamento, para justificar suas artimanhas malignas.
Com isso, desmerecem o sacrifício de Cristo, e instauram práticas que Jesus
anulou na cruz do Calvário. Porém, os incautos absorvem esses péssimos ensinos
que tornam a Bíblia perigosa.
O profeta Isaías ensina: “O
boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono, mas Israel
não tem conhecimento, o meu povo não entende.” (Is 1.3). Não é diferente em
nossos dias! Conhecer a Deus é conhecer a Palavra, o Verbo. “No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Jo 1.1). “Conheçamos e
prossigamos em conhecer o Senhor...”! (Os 6.3). Deus ama a sabedoria, exige o
conhecimento, porque Ele deu ao homem inteligência. “Até quando, ó néscios, amareis
a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos,
aborrecereis o conhecimento? Convertei-vos pela minha repreensão; eis que
abundantemente derramarei sobre vós o meu espírito e vos farei saber as minhas
palavras.” (Pv 1.23-24).
Sim, a Bíblia é um livro
extremamente perigoso para aqueles que não buscam o auxílio divino para a sua
compreensão; terrível para aqueles que recortam do contexto histórico trechos
que servirão aos seus caprichos; inócuo para os que selecionam mensagens que, à
parte, fazem-se massagem para o ego. Iludem-se os incautos procuradores de
“maravilhosas” promessas.
É necessário ser bereano,
“examinando cada dia nas Escrituras, se estas coisas eram assim”. (At 17.11).
Ev. Izaldil Tavares de Castro.
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