Vive-se um clima de apreensão
política, devido ao fato da descoberta (?) de que o governo dos Estados Unidos
tem praticado espionagem em diversos países, incluindo-se o Brasil. Por aqui,
sabe-se que os EUA interferiram em dados da Presidência da República, em
assuntos pessoais da própria presidente e, segundo as últimas informações, na
Petrobras.
A atitude americana não é nova
nem desconhecida; assim, o alarde também envolve interesses políticos de
oposição a essa pretensa hegemonia estadunidense. O que vem ao caso é saber-se
por que os homens buscam expedientes nada recomendáveis. O primeiro ponto é que
o ser humano cultiva o desrespeito ao semelhante; o segundo, deixa claro que a
bisbilhotice está arraigada à natureza das pessoas. O terceiro ponto, no caso
das nações, aparece como ato de defesa territorial, política, econômica etc.
Existem investigadores da vida
alheia que faturam alto para entregar aos interessados relatórios chamados
“dossiês”, em que constam o máximo possível de informações – verdadeiras ou não
- sobre a vida de alguém; sobre as atividades de uma empresa, sobre as
descobertas de um cientista.
O primeiro espião mal
intencionado sobre este planeta foi o diabo: ele espionou o que Deus
determinara ao primeiro casal, no Éden. Mais tarde, confirmou sua atividade
noutro episódio: o de Jó. “Então o Senhor disse a Satanás: De onde vens? E
Satanás respondeu ao Senhor: De rodear a terra e passear por ela. E disse o
Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó?...” (Jó 1.7.8). Ainda hoje o
diabo faz espionagem para registrar os pecados humanos, a fim de acusá-los
diante de Deus.
Moisés praticou a primeira
espionagem política: enviou agentes a ver como era a terra prometida. Por fim,
aparece Judas Iscariotes, o traidor de Jesus, fazendo a pior espionagem de
todas as épocas; a espionagem para traição do Filho de Deus. É possível que
Judas tenha sido o primeiro “detetive”, pois recebeu para fazer seu trabalho
sujo.
Um impasse: se aqui faço uma
abordagem depreciativa da espionagem, como se poderá explicar que Deus ordenou
a Moisés que enviasse espias a Canaã? (Nm 13). Muitas podem ser as explicações.
Arrisco uma, apenas em defesa do ponto de vista que assumo neste assunto.
Os israelitas eram endurecidos de
coração, gente áspera, incapaz de ver o que Deus já havia feito em sua
trajetória: desde a libertação de entre os egípcios, à travessia do Mar
Vermelho, aos episódios das codornizes, do maná. Como levar aquela gente a acreditar
no que lhes era prometido? Para abençoar uma gente dura, Deus permitiu que
vislumbrassem a terra prometida. Assim, creio que haja finalidades diferentes
para o acompanhamento das ações humanas.
Entendo, dentro desta
perspectiva, haver dois tipos de observação de outrem: uma “espionagem
necessária”, e outra “espionagem maléfica”. O que chamo de “espionagem
necessária”, por não ter outro nome mais adequado, visa à prevenção contra
crimes, a proteção da pátria, dos direitos adquiridos etc. Por sua vez, a
“espionagem maléfica” objetiva a intriga, a dominação indevida, a destruição
alheia. Toda a questão se resume, pois, na natureza da observação. Quanto aos
EUA e suas espionagens, o leitor pode concluir.
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