É conhecido um dito popular: “O
tempo a tudo cura”. Evidentemente, isso não é verdade, mesmo. O tempo a tudo
leva ao fim, com cura ou não. Costuma-se dizer, também que os tempos mudam os
comportamentos humanos. Mas, acredito que as tais mudanças de hábitos não têm
tanto a ver com o critério cronológico; têm mais com a inconstância do caráter
humano.
O tempo comporta mudanças; não há
mudanças atemporais; mas ele não as faz; comporta-as. Essas alterações, físicas,
tecnológicas ou sociais, deveriam ocorrer para aperfeiçoamento do homem, nunca
para o seu retrocesso. Vale lembrar que é falsa a idéia de que a senilidade é retrocesso
da vida. A tecnologia não é produto do tempo, mas do trabalho intelectual. O
homem que viajava em lombo de animal de carga, hoje se locomove em confortáveis
veículos. Os navios, que exigiam bandos de escravos a mover os remos, são impelidos
por motores possantes. A máquina substituiu o cavalo e o homem no trabalho
pesado. Isso é progresso: uma conquista dentro do tempo, não pelo tempo.
Entretanto, a observação
emaranha-se, quando se volta para a questão do comportamento humano: tema
crucial da Sociologia. Por que os hábitos mudam não é tão difícil aceitar: um
bom senso de observação explicará esse fenômeno. A questão é explicar a quebra
unilateral de certos princípios que alicerçam uma sociedade, uma entidade, uma
família. É essa quebra unilateral que se torna, quando não destrutiva,
ameaçadora de tais princípios. Uma mudança consensual redireciona a conduta; a
unilateral confunde-a.
Não raro o homem declina diante
de força mais intensa; vê inutilidade na continuação da defesa de seus
princípios, então, entrega-se ao sabor das ondas. Adota o provérbio que ensina associar-se
àquele a quem já não pode combater. Eis aí a derrota. Os princípios que
norteavam a viagem no tempo ficam dissolvidos. É a hora quando o homem diz: “É
preciso acompanhar as mudanças, é necessário agir dentro dessa situação”.
Adaptando-se a um novo esquema, o homem passa, aos poucos, a prescindir dos
seus valores e princípios.
A partir desse ponto, verifico o
que tem acontecido no meio evangélico brasileiro. As mudanças têm-se sobreposto
de maneira tão vigorosa que se tornaram uma das principais lutas das lideranças
que não pretendem abdicar dos princípios eclesiásticos norteados pela Bíblia,
infalível e irretocável Palavra de Deus.
A igreja brasileira tem aberto as
portas para todas as formas de atuação compatíveis com a vida secular. As normas
de outrora, as doutrinariamente bíblicas, esvaem-se nos desvãos da convivência
mundana inadvertida. Vivemos a geração do “não faz mal” ou “o que é que tem? Todo
mundo faz!”. Esse é o problema: todo mundo faz!
Boa parte dos nossos evangélicos “modernos”
não honram a pontualidade aos compromissos. Prescindem dos deveres cristãos e
da cooperação com o trabalho; porque lá fora, no dia-a-dia não “dão bola para
isso”. Se atrasam em seus deveres profissionais e sociais, por que não atrasariam
nos horários dos cultos e de outros compromissos? Se executam a seu bel-prazer
as tarefas que lhes cabem na sociedade, por que executariam bem as tarefas na
igreja?
O tempo muda os costumes? Não. Os
costumes são alterados dentro do tempo, pelo próprio interesse (desinteresse)
humano.
Quando Jesus iniciou o seu
ministério terreno, deixou claro que não vinha alterar a Lei, mas cumpri-la. A
base dos ensinamentos do Mestre se manteve segundo as Escrituras Sagradas. Ele
nada modificou, nada alterou; ainda que seus seguidores aguardassem “mudanças”.
Jesus manteve-se fiel à Palavra.
Os discípulos do Mestre deram
continuidade a sua obra; porém, irmanados nos ensinamentos recebidos e
estritamente obedientes a isso. Anunciavam um evangelho de arrependimento dos
pecados, de atenção ao que dizem as Escrituras, de rejeição às mudanças que
feriam as páginas sagradas. O apóstolo Paulo orienta a Igreja a que não se adéque
ao mundo em que vive. Recomendação que, para muitos, já perdeu validade.
Se a recomendação é que não nos
conformemos com este mundo, precisamos lutar contra essas adequações, contra a
aceitação de que os tempos mudaram. Se se mudaram os tempos, nenhuma das páginas
da Bíblia mudou. O que está escrito está escrito. Cumpra-se!
Alguém dirá: - Assim as igrejas
se esvaziarão! Ora, por que encher igrejas dos que não se sujeitam a Cristo? Ou
transformaremos as igrejas em agradáveis reuniões simpáticas às mudanças deste
século?
É preciso reavivar a informação
bíblica de que o Espírito Santo é quem convence o coração do homem. Jesus disse:
“... Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá; porque, se eu não
for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei. E quando ele
vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo; do pecado, porque
não creem em meu nome; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis
mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.” (João
16.7-11).
Não é a aceitação que levará o
homem à compreensão de seus erros; mas o confronto. Não cabe à Igreja aceitar o
que vem de fora; seu papel é corrigir a conduta do homem. “... e tendo
anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para
Listra, e Icônio, e Antioquia, confirmando o ânimo dos discípulos, exortando-os
a permanecer na fé; pois, por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de
Deus” (At 14.22). “Fala disto, e exorta, e repreende com toda a autoridade.
Ninguém te despreze” (Tt 2.15). A Igreja precisa assumir esses princípios, a
fim de ver seu crescimento sadio no trajeto para o encontro com o Rei Jesus.
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