“... E elogiou o senhor o administrador infiel, porque se houvera atiladamente; porque os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz.” (Lc 16:8). A Bíblia Anotada e Expandida. SBB/Mundo Cristão. 2007.
Noutra versão, numa linguagem mais popular, o mesmo trecho diz:
“O patrão louvou o administrador desonesto, por ter agido com esperteza, pois os filhos deste mundo são mais vivos no trato com sua gente do que os filhos da luz” (idem). Bíblia Sagrada. Ed Vozes Ltda. Rio de Janeiro. 2005.
O Carnaval 2012 já está na vida e nos corações dos foliões brasileiros. Hoje é terça-feira, último dia oficial para a folia de Momo, mas isso é apenas estopim para que o entusiasmo das multidões não esmoreça. Todos são convocados para planejar e executar os trabalhos com vistas ao ano que virá. A máquina não para.
Não importa o resultado trágico, só em parte, mostrado pela imprensa: mortes nas rodovias — muitas causadas pelo excesso de álcool ou de outras drogas — assassinatos, assaltos, milhares de acidentados nos hospitais. Tudo isso é o resultado palpável do Carnaval. Apenas o resultado que não dá para esconder. Não se contabilizam as vidas familiares destruídas, as novas levas de drogados que vêm integrar a vala comum dos infelizes de outros carnavais. Nada disso importa.
Nada disso importa. O que importa é que as escolas de samba continuem, sob garantia do orçamento governamental, a preparar a máquina que produzirá os mesmos resultados no próximo ano. Os bailes carnavalescos, ininterruptos — onde, pelo menos, o alcoolismo é alimentado a peso de dinheiro — garantem faturamento para a montagem das alegorias. Os adeptos da farra empregam boa parte de seus rendimentos na compra de fantasias e abadás. Cantores populares, que faturaram alto do alto dos trios elétricos, aguardam com cupidez seus próximos contratos. Essa é a máquina que sustenta uma das mais populares e destruidoras festas populares brasileiras.
O que causa admiração é a fidelidade contínua, cega dos participantes. Trata-se de manter um evento que não pode parar; que não pode sofrer interrupção, custe o que custar! A habilidade dos homens do mundo no trato com a sua geração merece elogio.
No relato bíblico narrado em Lucas, o patrão lesado ainda elogiou o mordomo infiel, por causa da inteligência com que o mau empregado procurou contornar a sua infidelidade. Jesus não fez o elogio: valeu-se do episódio para apontar a diferença entre os que operam no mundo de trevas e os que operam no mundo da luz.
A Bíblia é fonte de ensino perfeito e claro; logo, todos os discípulos de Cristo (os crentes) deveriam inteligentemente caminhar em conformidade com aquilo que aprendem. Por que não acontece assim?
Um dos sermões do padre Antônio Vieira, o Sermão da Sexagésima, analisa de modo admirável a passagem bíblica registrada em Mateus 13: A parábola do Semeador. Em sua exegese, aquele pregador católico-romano conclui que a responsabilidade pelo efeito negativo de muitas sementes não está na Palavra, que é apta para ensinar. O problema está no homem.
Nos dias do ministério terreno de Jesus já ocorria a questão da falta de aplicação aos resultados. Nossos dias verificam a mesma indolência. Em geral, somos descuidados com a Obra do Senhor, fazemos o mínimo e apenas quando nos é possível. Vivemos mais para nossos próprios interesses, e não damos conta de que o mundo incrédulo faz o mesmo. As nossas mais destacadas preocupações não são diferentes daquilo que ocupa o coração da humanidade. Elas podem ser resumidas na busca de uma vida confortável: na luta pelo dinheiro, na preocupação com o bem-estar material da família; queremos tempo para usufruir aquilo que o trabalho árduo pode oferecer. Enfim, vivemos ligados a tudo quanto é terreno.
Caro leitor, não julgue que estou sublimando ou entrando por um caminho de fanatismo religioso. O que escrevo não me tira da lucidez que a Palavra de Deus pode dar. Claro que vivemos neste mundo mesmo. O Senhor Jesus não pediu ao Pai que fôssemos tirados daqui: pediu que Ele nos livre do mal. É do mal que precisamos ser livres! Precisamos trabalhar, faturar, cumprir deveres materiais, proteger a família, descansar etc. O que não podemos é ser qual o rico insensato (Lc 12: 20). Deus deu a Neemias uma tarefa sublime que não podia ser interrompida (Ne 6: 3-4). A nós, também nos incumbiu de um trabalho que não pode ser postergado.
A esperteza dos mordomos infiéis tem que servir de exemplo para nossas atividades. Deus não chamou os displicentes: a Bíblia confirma esse ponto de vista, no livro do profeta Jeremias, 48: 10. As moças indolentes, distraídas, não tinham azeite para suas lâmpadas, por isso não foram às bodas (Mt 25). Jesus recomendou que busquemos antes, isto é, em primeiro lugar, o sucesso do Reino de Deus, e prometeu acréscimo das outras coisas!
Oremos e procuremos estratégias para despertar nossos irmãos, peçamos a Deus sabedoria para traçar planos exitosos, pois disso ele se agrada. A igreja precisa se irmanar, de fato, na execução da Obra. Brevemente, os que não se dispuserem com fidelidade às tarefas serão substituídos, o que também é bíblico:
“Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. A um deu cinco talentos; a outro, dois, e a outro, um; a cada um, segundo a sua própria capacidade; então, partiu. (...) Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, (...), receoso, escondi na terra o teu talento, aqui tens o que é teu. (...) Servo mau e negligente (...). Tirai-lhe, pois, o talento e dai ao que tem dez, porque a todo o que tem se lhe dará e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25: 14: 30).
Nenhum comentário:
Postar um comentário