“... porque não temos que lutar contra carne e sangue; mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Efésios, 6: 12).
Não existe compreensão das Escrituras Sagradas, sem que o Espírito Santo, que as produziu, interfira no espírito e na mente humanos. A escassez de discernimento, isto é, a dificuldade de compreensão clara dos aspectos espirituais da vida, é própria do ser humano afastado da comunhão com Deus. Por esse mesmo motivo, o homem passa a valer-se de sua inteligência natural, avariada pela incursão da desobediência praticada no Éden, e causa grandes distorções na mensagem bíblica.
Nossa geração tem sido vítima da má compreensão das Escrituras Sagradas (e também da má-fé interpretativa), como se pode ver nas afirmações: “não toqueis nos meus ungidos” ou “não lutamos contra a carne ou contra o sangue...”.
Há quem se valha desses textos, respectivamente inscritos em I Crônicas, 16: 22 e Efésios, 6: 12, sem qualquer preocupação com o contexto. Essas aberrações interpretativas encobrem interesse pessoais, promovem terror nos mal-informados, beneficiam os líderes que se descuidaram de um caráter verdadeiramente cristão.
Quando o salmista reafirma, em seu cântico, que não se atinjam os ungidos do (pelo) Senhor (I Cr 16: 22), refere-se à instituição de um poder temporal no governo teocrático e também à nação de Israel, em relação aos seus inimigos. A nação israelita deveria ser um reino governado por Deus, através de homens ungidos (separados) para tal ofício pelo próprio Deus. Saul foi ungido rei. Apenas rei! Ele não recebeu unção eclesiástica ou sacerdotal.
Ora, diante disso, é absolutamente inválido o uso do citado versículo para se evitar a crítica contra os desmandos de quem quer que seja o líder. Saul foi criticado por Samuel e dele recebeu a sentença de destituição do cargo real (I Samuel, 15: 26).
Por outro lado, o texto de Efésios 6: 12 tem sido manipulado, em favor de más intenções. Aqui e ali, quando se apontam erros praticados por gente (de carne e osso), logo vem alguém pontificar: “Não lutamos contra a carne, mas contra as hostes...”. Dessa forma, o desobediente se mantém inatingível em seus desmandos!
Entretanto, convém levantar-se uma questão: como se manifestam as obras do inimigo — que é espírito — senão através da carne e do sangue? Há que se interpretar esse fato com muita sabedoria!
A Bíblia relata vários casos de expulsão de demônios (que, claro, eram espíritos maus, os quais se manifestavam em pessoas). A manifestação era, então, realizada pela carne e pelo sangue. Logo, a ordem de expulsão não era ouvida apenas pelo maligno ser; mas também pela sua vítima! Não se tratava de lutar contra a carne, mas de lutar contra quem usava a carne!
Portanto, meus irmãos, não nos iludamos: as obras do mal são percebidas nas atitudes dos carnais que se prestam a manifestá-las. Não devemos ignorar esses fatos, nem encobri-los com a falsa interpretação de uma passagem bíblica.
O apóstolo Paulo ficou perturbado pelo assédio de uma jovem de uma jovem possuída por um espírito maligno de adivinhação. Assim, repreendeu aquela manifestação, dizendo: “Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela” (Atos, 16: 18). O espírito maligno manifestava-se por meio daquela pessoa. Repreender o mal que usa os indivíduos é dever do crente. Não lhe cabe deixar a pessoa de lado, sem crítica construtiva, sem repreensão, sem auxílio, considerando que não lutamos contra a carne.
Não deixemos que os defensores de seus interesses pessoais utilizem à vontade o conteúdo das Escrituras Sagradas.
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