segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PROBLEMAS COM A LÍNGUA VII - PERGOSOS USOS DO "LHE"

Existem frases que escondem palavras! Cabe ao ouvinte ou ao leitor descobri-las. Algumas omissões são facilmente descobertas. Por exemplo: Aqui existe um confortável dormitório; ali, uma cozinha ampla. Repare que eu quis dizer: ali existe uma cozinha ampla. Fácil, não foi? Agora, descubra a omissão na frase seguinte: O criminoso foi preso em flagrante. Nada fácil, certo? Acompanhe nossa sequência e descubra esse fabuloso mistério da ocultação de palavras nas frases.

Você já descobriu a palavra escondida naquela frase: “O criminoso foi preso em flagrante”? Não?! Pois bem, para descobri-la, você precisa saber que a palavra flagrante é um adjetivo. Todo adjetivo se relaciona com um substantivo, assim: carro novo, homem pobre, mulher alemã etc. Certo? No caso, o substantivo escondido é a palavra ato! Observe: O ladrão foi preso em ato flagrante, o que quer dizer: flagrado no momento em que agia!

Você já leu ou ouviu a expressão “em vão”? Todo mundo diz: Meu trabalho foi em vão. Lutamos em vão! Saiba que a boa forma da língua recusa essa expressão, se a gente lembrar que os adjetivos não aceitam preposição! Eu explico! Existem dois sentidos para essa palavra: vão = pequeno espaço e vão = inútil. No primeiro caso há um substantivo; no segundo, um adjetivo, que, é óbvio, rejeita preposição. Pense um pouco e descubra que trabalhar em vão é meio desconfortante, não será? Não se pode trabalhar bem em vão. Por isso, ao achar que o trabalho foi inútil diga, simplesmente: O trabalho foi vão!


Pois bem, não creio que nosso contato anterior tenha sido vão (mas não em vão!). Também não nos esforçamos em vão, mas inutilmente. Certo? Chega de em vão! Mas, que diremos do em anexo? É outra falha cometida contra os adjetivos. Nada segue em anexo! São documentos? Pois seguem anexos! São fotos? Pois seguem anexas! Lutemos contra o em anexo, contra o em vão. Assim, um dia, podermos lutar contra o em branco!

Como é que fica aquela história do através de? Muita gente dizendo que arranjou um emprego através do colega; conseguiu um emprego através de concurso etc. Ora, a palavra através significa do outro lado, por entre! Por exemplo: Vejo a rua através da janela! Para me corrigir, então, digo que consegui um emprego por intermédio de um amigo; por meio de um concurso, consegui o cargo pretendido.

A sociedade acostuma-se a modismos lingüísticos e, com o tempo, deixa de perceber os desvios que comete. É necessário que existam pessoas que alertem contra o excesso de deturpação da linguagem, principalmente entre a juventude estudantil. Você já ouviu alguém dizer: É capaz que chova hoje! Por que capaz?! Capaz é característica de quem tem capacidade! Você é uma pessoa capaz. As coisas são talvez, possíveis; nunca capazes! O melhor será dizer: É possível que chova hoje! Você é capaz de prever isso?

Você é prolixo ou conciso? Calma! Vejamos: Tem gente muito chata: você pergunta: Como vai? Aí, ela explica tim-tim por tim-tim! Pois é, eis o caso de um indivíduo prolixo. A pessoa concisa fala apenas o suficiente: não se estende num longo discurso vazio de conteúdo. O conciso vai direto ao assunto, sem rodeios. Educadamente, é claro! Isso não tem nada a ver com o que se diz “curto e grosso”, nada disso! Enfim, o conciso não cansa o ouvinte ou o leitor com repetições ou informações desnecessárias. Agora responda: Você é prolixo ou conciso?

Você já ouviu falar em paralelismo? Claro! Trata, sem dúvida de coisas postas lado a lado, objetivando manter as semelhanças. Coisa meio assim: laranjas com laranjas, ovos com ovos e palavras com palavras. Entretanto, às vezes, colocam-se laranjas com ovos! No caso da linguagem isso pode gerar bons efeitos. À mistura de termos cujos significados são incompatíveis dá-se o nome de quebra do paralelismo semântico. Melhor ver um exemplo clássico, emprestado de Machado de Assis: “... encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu”. (grifo meu). Conhecer de vista, tudo bem. E de chapéu? Coisa do passado, quando homens educadamente, moviam o chapéu ao cumprimentar.

Elegemos o presidente ou a presidenta? Segundo os estudiosos Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, 16ª. Ed. 2000, entende-se que o melhor é dizer-se a presidente. Porém, esses professores afirmam que a forma presidenta ainda é de baixa freqüência na língua. Particularmente, não vejo por que mudar o gênero da palavra que indica pessoa de sexo feminino, quando ela exerce um cargo. Dou preferência às formas: Ela é o juiz, o médico, o deputado, o governador, o presidente etc. Exercício profissional independe de sexo. Certo? Mas não deve haver briga por isso!

Um comentário:

  1. Legal (no sentido da gíria e sem traumas existenciais) haja vista que legal significa ato ou algo conforme ou relativo a lei.

    Forte abraço professor...

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