Os dois últimos capítulos do Evangelho de Lucas narram os episódios finais do ministério terreno do Senhor Jesus. O Senhor fora condenado, açoitado, crucificado e morto. Ressuscitado, no terceiro dia, surpreendeu os seus discípulos, ainda que eles estivessem instruídos com relação a tão maravilhoso acontecimento.
Diz o evangelista Lucas que Pedro correu ao sepulcro, após a notícia da ressurreição, viu os lençóis que envolveram o corpo do Mestre e “retirou-se, admirando consigo aquele caso”. (Lc 24: 12). Pedro admirou-se de que tivesse ocorrido a ressurreição daquele que durante três anos o ensinara sobre o que aconteceria! Por mais que o Senhor nos instrua, sempre estamos aquém daquilo que ele nos quer dar.
No mesmo dia, dois dos seus discípulos iam de Jerusalém para uma localidade chamada Emaús. Desertavam tristes e desolados com os últimos acontecimentos. Desacreditaram do testemunho das mulheres e de outros discípulos que comprovaram a ocorrência da ressurreição do Senhor. “E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido.” (Lc 24: 14).
A narrativa de Lucas faz supor que aqueles dois homens ficaram à parte do grupo de discípulos. A decepção que sofreram por causa da própria incredulidade foi muito grande. No trajeto, que mais os distanciava dos acontecimentos, faziam-se perguntas, buscavam em seus próprios corações uma resposta convincente. Mas, o homem não tem respostas para suas dúvidas espirituais.
Muitas vezes, a dureza de coração coloca em nossos olhos uma venda; cria em nós uma “verdade pessoal” a qual se torna o ponto de partida para uma percepção míope. Ignoramos que há uma Verdade suprema capaz de eliminar a tristeza da alma angustiada.
Tamanha era a incredulidade que se apossara de Cleopas e de seu amigo, que não puderam perceber a presença d´Aquele que passou a acompanhá-los na viagem. Jesus (irreconhecível para eles) entrou na conversa, como quem desconhecia o assunto de que tratavam.
Tão certa era para eles a sua própria “verdade”, que chegaram a criticar “aquele viajante” curioso. Perguntaram-lhe: Só você não sabe dos últimos acontecimentos? Eles tinham convicção de que todos conheciam os fatos; mas havia a “verdade” deles sobre a situação: Jesus fora morto, a esperança se frustrara e ainda havia alguns que acreditavam na ressurreição!
Quantas vezes a nossa cegueira espiritual nos torna arrogantes e capazes de darmos explicações ou de transmitir informações!
Jesus acompanhou-os incógnito. Quão grande é a bondade do Senhor para conosco! A narrativa bíblica diz que Jesus passou a explicar-lhes, novamente, toda a Escritura, desde Moisés e os profetas (Lc 24: 27). Aqueles homens foram ouvindo a explicação do que, provavelmente, já conheciam; mas não deram conta de quem os ensinava. É de acreditar que o discipulado pelo qual haviam passado, durante o ministério terreno do Senhor, não se arraigara em seus corações endurecidos. Nem todos os que ouviram as palavras do Mestre permitiram que elas penetrassem em seus corações. Assim acontece em nossos dias: muitos ouvem a mensagem de salvação, mas não abrem o coração para recebê-la.
Era hábito convidar-se o companheiro de viagem para pousar em casa, se já fosse tarde. Os discípulos, então convidaram “aquele homem” para pernoitar ali.
Mais tarde, à mesa, Jesus tomou o pão, abençoou-o, partiu e deu-lhes para que comessem. Desapareceu dali o Senhor. Então, foram curados da falta de percepção. (v. 32).
Como é triste o tempo que passamos sem notar que Jesus caminha ao nosso lado. Nosso sofrimento cresce, nosso coração busca soluções inviáveis, nossa certeza se esvai. Quem não reconhece a companhia de Jesus, procura as próprias soluções, sem se dar conta de que as decisões humanas sempre são frustrantes, se estiverem fora das instruções do Senhor.
Convertidos, os dois homens de Emaús retornaram a Jerusalém, na mesma hora, e foram ao encontro dos onze, para quem contaram a maravilhosa história da sua conversão.
Você percebe Jesus caminhando ao seu lado em todas as horas de decepção? Só ele está perto de nós na hora da alegria e na hora da tristeza. Só ele tem as palavras de vida eterna. Sinta a sua presença gloriosa e caminhe feliz a proclamar tão magna companhia.
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