Leitura
Lucas 13. 1-5
Considerações
Antes de falar em
sofrimento - uma perturbação física e/ou espiritual que afeta a todos os seres
humanos - é necessário lembrar que há, pelo menos, três tipos de sofrimentos. O primeiro tipo tem origem na concupiscência. Mas poucas pessoas sabem
o que é concupiscência.
Concupiscência é o intenso interesse que
alguém demonstra por coisas desta vida terrena e pelos prazeres fugazes que ela
oferece. Concupiscência é “amor ao mundo”.
A concupiscência
povoa a mente humana, tornando-a incapaz de perceber o grave risco em que
mergulha, pois, é a concupiscência
que dá à luz o pecado. Pecado é a aceitação de pensamentos e atos
de natureza progressiva, degenerativa que se opõem a Deus.
Nem todo sofrimento,
entretanto, é resultado do pecado. As Escrituras relatam sofrimentos que são naturais da vida terrena (Mc 5. 28);
sofrimentos que são provações da
parte de Deus (Hc 3. 17-19); também sofrimentos que são castigo da parte de Deus (Dn 4. 25).
1. O pecado de Adão gerou o sofrimento da morte
Depois de cometido, o
pecado transforma-se em estado
permanente do ser humano. O pecado,
que nasce da concupiscência, produz a
morte espiritual (o afastamento da glória de Deus) e essa morte, mais tarde, se
tornará em morte física, da qual, a pessoa não resgata pela Salvação que há em
Cristo Jesus, se levantará para a condenação eterna.
“E não temam os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temam,
antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.”
(Mt 10. 28)
Por isso, o apóstolo
Paulo diz que todos nós estávamos “mortos em delitos e pecados”. (Ef 2. 1). Todo
o brilho do pecado com o qual a concupiscência ilude o homem leva-o,
prioritariamente, à morte espiritual.
“Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos,
e a soberba da vida, não vêm do Pai, mas sim do mundo.” (1Jo 2. 16)
Assim, o pecado se
torna causa de sofrimento para o homem. Adão, que viveu no Jardim de delícias,
criado por Deus, experimentou plena felicidade; mas, por causa do pecado,
experimentou a morte espiritual de que Deus o havia prevenido. O pecado de Adão
transferiu para todos os seres humanos o sofrimento, a morte espiritual - e
também a física - causados pelo pecado. (Rm 6. 23).
2. O sofrimento pela provação
Há outro tipo de
sofrimento: a provação. Esse sofrimento não é fruto do pecado; logo, não tem
origem na concupiscência de sua vítima. Esse tipo de sofrimento ocorre porque
Deus pode submeter o crente à prova, a fim de que se confirme a fidelidade do
homem ao Senhor.
A história do
patriarca Jó, relatada no livro de mesmo nome, desde os primórdios da História,
aponta para a noção indevida de muitas pessoas de que existe, nesta vida, a recompensa
divina bipartida: para os praticantes do bem, a bênção; para os pecadores, a
aplicação das penalidades materiais.
“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este
era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal...” (Jó 1. 1)
Ora, a Bíblia não se
contradiz; portanto, não se pode aceita essa
noção de recompensa terrena para
pessoas boas nem de castigo nesta vida
para as más. As Escrituras mostram que todos pecaram (Rm 6. 23), portanto,
não há “homens bons”; pode haver homens que busquem o que é correto; isso não
os faz “bons”!
O poeta português
(1524-1580) equivocou-se quanto ao tema de seu belo poema “Ao Desconcerto do
Mundo”:
“Os bons vi sempre passar
no mundo graves
tormentos
e, para mais
m’espantar,
os maus vi sempre
nadar
em mar de
contentamentos”...
Por sua vez, o
salmista Asafe acordou antes de pensar como o poeta Camões pensaria muitos
séculos depois:
“... Quando pensava em entender isso, foi para mim muito
doloroso, até que entrei no Santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles.
Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em
destruição...” (Sl
73. 16-18)
3. O sofrimento por castigo de Deus
A Bíblia relata casos de sofrimento por
castigo da parte de Deus. O rei Nabucodonosor (Dn 4. 24-25) foi transformado em
animal do campo, comendo erva com os bois. (Dn 4. 24r-25) Elimas, o feiticeiro,
procurava impedir a pregação de Paulo, Deus o castigou com cegueira. (Atos 13. 8-12).
No Apocalipse está o exemplo do castigo de Deus a Jezabel - não a mulher do rei
de Israel, Acabe. (Ap 2. 20-24).
Conclusão
Sem
conhecimento bíblico, o homem tem enorme dificuldade para admitir que “pessoas
boas” possam sofrer. Não é raro que entre os cristãos, mesmo evangélicos,
ocorra a acusação de pecado contra um irmão que passe por sofrimentos.
Embora esse ponto de
vista seja claramente descartado pelas Escrituras Sagradas, algumas igrejas que
se dizem evangélicas acenam com a “bênção material” para os que se comprometem
com a religiosidade que propõem, enquanto outras se valem da “confissão
positiva”, uma prática que exige benefícios de Deus, por meio dos méritos de
uma “vida consagrada”, capaz de reivindicar os direitos dos bons.
Ao curar o homem que
nascera cego, Jesus esclareceu aos discípulos que a cegueira que fazia aquele
homem sofrer, não era resultado de pecado dele, nem de seus antepassados. (Jo
9. 1-2).
Por isso, nessa breve
passagem no evangelho de Lucas, Jesus esclarece que a intensidade de infortúnio
não é critério para nós avaliarmos o grau de pecado das pessoas. Os males
sofridos neste mundo, bem como as bênçãos recebidas aqui, são questões daqui
mesmo, às quais todos estamos sujeitos. O que importa é o arrependimento do
pecado; sem arrependimento verdadeiro de uma vida distante de Deus, todo homem
sofrerá o dano da segunda morte. (Ap 2. 11; 20. 6; 14; 21. 8)
“Porque
a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, um peso eterno de glória
mui excelente;...
(2Co 4.17).
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