domingo, 24 de março de 2024

ENTRE A BONDADE E A SEVERIDADE, A MISERICÓRDIA DE DEUS

 


 




Leitura

Lucas 13. 1-5

Considerações

 

Antes de falar em sofrimento - uma perturbação física e/ou espiritual que afeta a todos os seres humanos - é necessário lembrar que há, pelo menos, três tipos de sofrimentos. O primeiro tipo tem origem na concupiscência. Mas poucas pessoas sabem o que é concupiscência.

 

Concupiscência é o intenso interesse que alguém demonstra por coisas desta vida terrena e pelos prazeres fugazes que ela oferece. Concupiscência é “amor ao mundo”.

 

A concupiscência povoa a mente humana, tornando-a incapaz de perceber o grave risco em que mergulha, pois, é a concupiscência que dá à luz o pecado. Pecado é a aceitação de pensamentos e atos de natureza progressiva, degenerativa que se opõem a Deus.

 

Nem todo sofrimento, entretanto, é resultado do pecado. As Escrituras relatam sofrimentos que são naturais da vida terrena (Mc 5. 28); sofrimentos que são provações da parte de Deus (Hc 3. 17-19); também sofrimentos que são castigo da parte de Deus (Dn 4. 25).

 

1.  O pecado de Adão gerou o sofrimento da morte

 

Depois de cometido, o pecado transforma-se em estado permanente do ser humano. O pecado, que nasce da concupiscência, produz a morte espiritual (o afastamento da glória de Deus) e essa morte, mais tarde, se tornará em morte física, da qual, a pessoa não resgata pela Salvação que há em Cristo Jesus, se levantará para a condenação eterna.

 

E não temam os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temam, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.” (Mt 10. 28)

 

Por isso, o apóstolo Paulo diz que todos nós estávamos “mortos em delitos e pecados”. (Ef 2. 1). Todo o brilho do pecado com o qual a concupiscência ilude o homem leva-o, prioritariamente, à morte espiritual.

 

“Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida, não vêm do Pai, mas sim do mundo.” (1Jo 2. 16)

 

Assim, o pecado se torna causa de sofrimento para o homem. Adão, que viveu no Jardim de delícias, criado por Deus, experimentou plena felicidade; mas, por causa do pecado, experimentou a morte espiritual de que Deus o havia prevenido. O pecado de Adão transferiu para todos os seres humanos o sofrimento, a morte espiritual - e também a física - causados pelo pecado. (Rm 6. 23).

 

2.  O sofrimento pela provação

 

Há outro tipo de sofrimento: a provação. Esse sofrimento não é fruto do pecado; logo, não tem origem na concupiscência de sua vítima. Esse tipo de sofrimento ocorre porque Deus pode submeter o crente à prova, a fim de que se confirme a fidelidade do homem ao Senhor.

 

A história do patriarca Jó, relatada no livro de mesmo nome, desde os primórdios da História, aponta para a noção indevida de muitas pessoas de que existe, nesta vida, a recompensa divina bipartida: para os praticantes do bem, a bênção; para os pecadores, a aplicação das penalidades materiais.

               

“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal...” (Jó 1. 1)

 

Ora, a Bíblia não se contradiz; portanto, não se pode aceita essa noção de recompensa terrena para pessoas boas nem de castigo nesta vida para as más. As Escrituras mostram que todos pecaram (Rm 6. 23), portanto, não há “homens bons”; pode haver homens que busquem o que é correto; isso não os faz “bons”!

 

O poeta português (1524-1580) equivocou-se quanto ao tema de seu belo poema “Ao Desconcerto do Mundo”:

 

Os bons vi sempre passar

no mundo graves tormentos

e, para mais m’espantar,

os maus vi sempre nadar

em mar de contentamentos”...

       

Por sua vez, o salmista Asafe acordou antes de pensar como o poeta Camões pensaria muitos séculos depois:

 

“... Quando pensava em entender isso, foi para mim muito doloroso, até que entrei no Santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição...” (Sl 73. 16-18)

 

3.   O sofrimento por castigo de Deus

 

A Bíblia relata casos de sofrimento por castigo da parte de Deus. O rei Nabucodonosor (Dn 4. 24-25) foi transformado em animal do campo, comendo erva com os bois. (Dn 4. 24r-25) Elimas, o feiticeiro, procurava impedir a pregação de Paulo, Deus o castigou com cegueira. (Atos 13. 8-12). No Apocalipse está o exemplo do castigo de Deus a Jezabel - não a mulher do rei de Israel, Acabe. (Ap 2. 20-24).

 

Conclusão

 

        Sem conhecimento bíblico, o homem tem enorme dificuldade para admitir que “pessoas boas” possam sofrer. Não é raro que entre os cristãos, mesmo evangélicos, ocorra a acusação de pecado contra um irmão que passe por sofrimentos.

 

Embora esse ponto de vista seja claramente descartado pelas Escrituras Sagradas, algumas igrejas que se dizem evangélicas acenam com a “bênção material” para os que se comprometem com a religiosidade que propõem, enquanto outras se valem da “confissão positiva”, uma prática que exige benefícios de Deus, por meio dos méritos de uma “vida consagrada”, capaz de reivindicar os direitos dos bons.

 

Ao curar o homem que nascera cego, Jesus esclareceu aos discípulos que a cegueira que fazia aquele homem sofrer, não era resultado de pecado dele, nem de seus antepassados. (Jo 9. 1-2).

 

Por isso, nessa breve passagem no evangelho de Lucas, Jesus esclarece que a intensidade de infortúnio não é critério para nós avaliarmos o grau de pecado das pessoas. Os males sofridos neste mundo, bem como as bênçãos recebidas aqui, são questões daqui mesmo, às quais todos estamos sujeitos. O que importa é o arrependimento do pecado; sem arrependimento verdadeiro de uma vida distante de Deus, todo homem sofrerá o dano da segunda morte. (Ap 2. 11; 20. 6; 14; 21. 8)

 

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, um peso eterno de glória mui excelente;... (2Co 4.17).

 

 

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