sábado, 12 de março de 2022

A HIPOCRISIA PROFUNDA DESMENTE O QUE DIZEMOS

 “Seja, porém, o vosso falar sim, sim; não, não. Porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mateus 5.37)










A degenerescência do caráter humano, por causa do pecado, foi tão invasora que até hoje há marcas profundas do mal em nosso agir. Parece-me que a pior dessas marcas é a hipocrisia profunda.

Há a hipocrisia rasa, essa que o homem usa, conscientemente, como ferramenta para a manutenção dos bons relacionamentos sociais. A maioria dos sorrisos, dos abraços e dos apertos de mão resulta da hipocrisia rasa, a qual não é menos perniciosa do que a profunda.


A hipocrisia profunda é congênita em todo homem, e é a mãe da hipocrisia rasa. Todos a carregamos - “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23) – e assim permanecemos, até o dia em que, iluminados pelo Espírito de Deus, percebamos a sua sutileza maligna e a combatamos fortemente, ou a ignoremos. Paulo declara que os salvos não desconhecem os ardis do diabo, que usa o que pode para degenerar o homem (2Co 2.11).


O combate contra as astúcias do Maligno não é fácil. Essa batalha levou o apóstolo Paulo a declarar sua miserabilidade, por querer, com todas as suas forças, praticar o bem; entretanto, executar o mal, congenitamente arraigado "no corpo desta morte”. (Rm 7.15-20; 24)


Haverá, sem dúvida, um fim para a hipocrisia profunda; mas, provavelmente nós a levaremos para o túmulo. Só depois disso, ela não mais terá poder; quando, então, seremos revestidos de um "corpo de glória", para a vida eterna com Cristo. Nesta vida, a luta é renhida.


A hipocrisia profunda vem, discretamente, à tona, nas nossas atitudes cotidianas mais corriqueiras. Claro que nós ojerizamos o estado de guerra; por exemplo, repudiamos, nestes dias, com tristeza e veemência o ataque russo aos ucranianos; entretanto, aquilo que, ao mesmo tempo, parece identificar o bom coração que temos não passa de revelação da hipocrisia profunda que habita em nós. Realmente, o coração é enganoso ao próprio homem. (Is 17.9-10)


É doloroso constatar que ao mesmo tempo em que repudiamos as guerras, as disputas, as ofensas ao próximo e todas as ações maldosas que há em todo o mundo, atacamos com fúria, desprezo, ou com sarcasmo as pessoas que discordam de nós. Alguns dirão que a razão pessoal precisa ser defendida. Claro que concordo! Mas é preciso que se esteja ciente do que significa a palavra razão. Razão não é o que “a gente acha”; é a expressão de um raciocínio que conduz a um resultado irrefutável.

Jesus nunca pôde ser contestado no que afirmou; não por ser Deus, a quem os homens não podiam compreender; mas, por ser o homem racional, que instruía os seus ouvintes e até os seus opositores.


“E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele. E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus, e eles lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como esse homem.” (Jo 7.44-47 – destaque meu)


Jesus não só foi convincente; ele também estimulou as pessoas ao raciocínio. Só maus mestres fazem seus discípulos decorarem lições. Os bons mestres levam seus alunos ao raciocínio. O saber não está naquilo que alguém decorou; está naquilo que o cérebro opera.

Confiram na Bíblia também as razões com que o apóstolo Paulo expôs seus pensamentos e doutrinas. Razão baseia-se em processos racionais.

Ora, a defesa de toda razão (se for razão de fato) deve ser feita com aquilo que Deus nos deu: bom senso para argumentar.


Jesus e os apóstolos sofreram ataques, mas, a exemplo do Mestre - com exceção de Pedro, João e Tiago, antes da verdadeira conversão - não buscaram a ofensa nem o sarcasmo como elementos para a sua defesa. Paulo sempre argumentou com a inteligência de um nobre.


Nas igrejas cantamos: “Dá-me um novo coração, Senhor!”. E devemos pedir, pois o Senhor prometeu:


“... E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne...” (Ez 36.26)


Como poderemos receber de Deus um coração novo, pronto para lutar contra a nossa natural hipocrisia profunda e para dominá-la? O domínio da hipocrisia profunda está em algumas das características do fruto do Espírito.


“Mas o fruto do Espírito é caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22)


Sem benignidade, que é o interesse em fazer o bem; sem bondade, que é uma forma de agir em relação ao próximo; sem mansidão, que é a adoção de um espírito humilde e sem a temperança, que é o autocontrole, mergulharemos na mais completa impossibilidade de dominar a hipocrisia profunda.


 Já vimos a referência do apóstolo Paulo, quanto à dificuldade de substituir-se o mal (natural) pelo bem (espiritual). Entretanto, ele mesmo diz:


“... Mas graças a Deus, que nos dá a vitória, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Co 15.57)


O apóstolo João ensina como se pode chegar a essa vitória: 


“Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.” (1Jo 5.4)


Meus irmãos, a batalha é longa, exigente e cansativa. Muitos são os que caem pelo caminho, mas, para que a queda não aconteça, basta que fixemos o olhar no alvo: a carreira que nos está proposta. (Hb 12.1)


“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem, porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” (2Co 4.17-18 – destaque meus) 


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