Leitura inicial:
“Porque não me envergonho do
evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê; primeiro do judeu e também do grego, porque nele se descobre a justiça de
Deus, de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Romanos 1.16).
Combati o bom combate, acabei
a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia. E não somente a mim; mas também
a todos os que amarem a sua vinda”. (2 Tm 4.8).
Observação:
“... o justo viverá da fé” nada
tem com a manutenção desta vida. Tem a ver com viver um cristianismo alimentado
pela fé em Jesus. “de fé em fé”, sem desistência, até o último dia.
Introdução
A Epístola aos Romanos é um
dos textos que apresenta o apóstolo Paulo como alguém que tem grande disposição
para anunciar, de modo ininterrupto o evangelho de Cristo; não só isso, mas
também para fazer discípulos entre os evangelizados. Em Éfeso, o apóstolo diz: “Mas em nada tenho a minha vida por
preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o meu ministério,
que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus”
(At 20.24) Aos romanos diz não se envergonhar da Palavra de Deus, uma vez que a
reconhece como poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
Paulo gastou o restante de sua
vida, a partir da conversão, no trabalho da Obra do Mestre e, ao encerrá-la
sente-se vitorioso, ao dizer a Timóteo: “Combati
o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desder agora a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz me dará naquele Dia, não somente
a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2Tm 4.8).
Esse versículo faz o leitor
atento perceber que o apóstolo encerra sua tarefa, despojado de qualquer
vaidade pessoal. Quando se refere à coroa da justiça que o justo juiz lhe dará,
não a tem como um prêmio particular, especial, específico para ele, pois
declara: “não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda”.
Que exemplo maravilhoso de
verdadeira humildade e amor ao Senhor. Isso reafirma o que ele mesmo disse na
carta aos Gálatas 2.20: “Já estou
crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne, vivo-a, pela fé no Filho de Deus, que me amou e se
entregou por mim”.
Agora, em seus últimos dias,
transmite amorosamente a Timóteo, de modo particular, instruções que o
fortaleçam no prosseguimento da obra do Senhor.
1.
O
VALOR DO SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
Constantemente usamos a
expressão “obra do Senhor”; mas, na maioria das vezes, não temos em mente o
significado nela contido. Um dos nossos problemas é, exatamente, o emprego de
expressões que tornamos vazias de sentido, tanto para quem as usa como para quem
as ouve, porque desperdiçamos uma imensidão de riquezas de significados nos
nossos estudos, nas nossas pregações e nos nossos diálogos. É grande a
frequência com que tornamos inúteis as palavras que proferimos sem nos deter no
seu sentido.
2.
EMPREGO
DA PALAVRA OBRA
Os gregos eram mais voltados
para a intelectualidade do que os romanos. Roma preocupava-se mais com a
praticidade das coisas; logo, as palavras do seu idioma, o latim, tendiam para
essa praticidade. Assim, pelo latim, “obra” vem de “ópera”: basicamente, aquilo
que se produz. Já os gregos, nascidos no berço da filosofia, eram mais
preocupados com o raciocínio, por isso, as palavras assumiam valores mais
abrangentes e, até, formas diferentes para cada significado – é o caso da
palavra amor.
Do latim veio para o nosso
vocabulário a palavra “obra” cujo sentido implica a noção de aplicar-se à
execução de algo: construir um edifício, escrever um livro, produzir arte etc.
Escrito em grego, o N.T. emprega duas palavras para obra: práxis e ergon.
“Práxis” indica: modo de agir,
aquilo que alguém pratica, como se lê em Mateus, 16.27b: “... então retribuirá, a cada um, conforme as
suas obras”.
“Ergon”: se aplica ao sentido
de se exercer um trabalho, empregar esforço (ergometria), ter comprometimento
com uma tarefa, como se vê em 1Co 3.13: “A
obra de cada um se manifestará, na verdade, o Dia a declarará, porque pelo fogo
será descoberta, e o fogo provará qual seja a obra de cada um”. Isto é o
fogo provará a verdadeira intenção de cada um no comprometimento com a tarefa.
3.
O QUE
É UM OBREIRO?
Nossa desatenção ao sentido das
palavras, dentro de um contexto, pode nos conduzir a um estreitamento ou
particularização do significado. As palavras não têm um sentido particular,
porque sempre estão presas a um contexto. Imaginem a diferença de uso da
palavra “porta”: “Ao sair, feche a porta da sala” e “Ao ouvir a palavra, não
feche a porta do coração”.
Aqui, a palavra obreiro será
vista no contexto do “ergon”, grego, no Novo Testamento, isto é, no sentido de
alguém estar comprometido com uma tarefa no Reino de Deus. Dentro deste
contexto, evidentemente, todo cristão é um obreiro, senão, deixa de ser
verdadeiramente cristão.
O obreiro cristão é executor
de uma tarefa que lhe é determinada por Deus. O Senhor Jesus deu uma determinação
aos seus obreiros, isto é, aos membros da Igreja: “Portanto, ide; ensinai todas
as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo...” (Mateus
28.19). Então, vejam como o estreitamento ou particularização do sentido de uma
palavra é prejudicial. Na igreja costuma-se usar a palavra “obreiro” para
designar o conjunto dos que servem nas tarefas ministeriais; assim, cria-se a
categoria de obreiros e a de não obreiros! “O irmão é obreiro?” “Não, não sou;
eu não participo das reuniões de obreiros”.
Essa particularização, sempre
mal compreendida, muito prejudica a execução da obra do Mestre. Todos os salvos são obreiros do Senhor. Todos formamos um exército de soldados, sob
o comando do nosso General!
Não há dúvida de que há uma
hierarquia designada pelo próprio Senhor, para cumprimento do que ele mesmo
determinou. Paulo transmite esse desígnio em Efésios 4.11-13. Mas todos quantos
estão no Exército têm a sua função, sempre exercida em obediência à hierarquia.
As Assembleias de Deus
deixaram bem marcada a má influência, por causa do sentido errado que dão à
palavra obreiro. Essa má influência persiste até os dias atuais. Os hinos da
nossa Harpa Cristã: 132, 409 e 433 são a principal marca dessa separação entre
os chamados obreiros e os chamados membros. Seria bom corrigir essa falha
terrível que põe acomodada nos bancos do templo uma grande quantidade de
“soldados do Reino”.
4.
TIMÓTEO,
UM OBREIRO FORMADO POR PAULO
Outro grave problema, muito
encontrado na igreja atual, é a existência de obreiros sem formação, ou mal
formados. Não há dúvida de que obreiros mal formados são fruto de igreja mal
formada doutrinariamente.
Quero entender, aqui, obreiro
como cristão em geral; pois, o obreiro que exerce ofício no ministério esteve
antes nos bancos da igreja. Como já disse, a igreja se pauta por uma hierarquia
instituída pelo Senhor, por isso, há os vocacionados pelo Senhor, para tarefas
específicas “E, servindo eles ao Senhor,
e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo, para a obra
a que os tenho chamado”. (At 13.2). Esses vocacionados devem receber
preparo específico, além do preparo geral. Na Bíblia, além de muitos exemplos
bem claros, tanto no AT, como no NT, há instrução sobre esse assunto.
O apóstolo Paulo mostrou
grande interesse na instrução e formação de dois pastores: Timóteo, que estava
em Éfeso, e Tito, que estava em Creta.
Paulo chegara preso a Roma,
mas obteve a permissão de morar em seu próprio domicílio, vigiado por um
soldado. Hoje, ele usaria uma tornozeleira. Nesse tempo, durante dois anos, na
casa que alugara ele pregou a palavra. Libertado, pregou na Espanha e retornou
à região da de Creta, Macedônia e Grécia, onde deu prosseguimento ao seu
ministério. Nessa época, escreveu a primeira carta a Timóteo. A segunda carta
foi escrita da prisão, pouco antes de sua condenação à morte.
Lendo essa Primeira Epístola,
vemos o interesse do apóstolo na total formação do obreiro Timóteo, quando
tratou de assuntos como o jovem pastor deveria conduzir a vida ministerial e
pessoal, como deveria defender a pureza do evangelho, como se preparar para o
enfrentamento da corrupção teológica trazida pelos falsos mestres e demais
assuntos relativos à condução da obra entre os Efésios.
Na próxima aula iniciaremos
uma apreciação específica sobre essa Primeira Epístola a Timóteo. Convém que
você dedique, no decorrer desta semana, tempo para oração e para uma leitura
antecipada dos seis capítulos que compõem essa Epístola. Amém.
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