sexta-feira, 3 de julho de 2020
Esdras, um pastor devotado ao concerto
Introdução
Costumes são hábitos que, quanto mais antigos, menos afetam aqueles que os mantêm. Acontece que, além dos costumes inócuos, há os bons e os maus costumes. Inócuos são os costumes que não afetam as circunstâncias nem os ambientes em que se praticam. Por exemplo, há quem tenha o hábito, ou costume, de dormir logo que anoitece; outros preferem recolher-se bem tarde. São costumes inócuos. Agora, imagine-se o costume de alguém ouvir rádio, com som alto, às seis da manhã de um domingo!
Agora, lembrado o que são costumes, vamos tratá-los na perspectiva das nossas atividades cristãs, que também podem ser chamadas de religiosas. As igrejas e os cultos evangélicos têm sido celeiros de costumes e, evidentemente, se não são maus - dada a natureza deles -, muitos também não são totalmente sadios ou inócuos. Um desses costumes criticáveis é o de que somente se dá atenção a um problema, depois que ele acontece. Aliás, isso parece ser índole do povo brasileiro. Na hora do curto circuito é que se corre para trocar a fiação.
Fala-se muito, hoje, de igrejas que não alcançam um bom resultado em suas tarefas de expandir o reino de Deus. Geralmente, esses maus resultados vêm-se prolongando e se aprofundando, durante anos; mas, somente quando a situação é gravíssima, dá-se a atenção. Por que se chega a tal ponto? Porque o costume traz o comodismo e impede a percepção do processo deletério.
Paralelamente a isso, cultiva-se, nas mesmas igrejas, o costume de nunca se analisarem as práticas litúrgicas, com apoio na afirmação desgastada do “sempre fizemos assim”, “essa é a nossa tradição”. Mas está bem aí, na maioria dos casos, o problema. O costume, ou a tradição não analisados, servem de entrave ao crescimento da membresia; e, muito pior, entravam o amadurecimento espiritual da igreja.
É necessário sacudir as toalhas empoeiradas da tradição, considerando que a Palavra de Deus
“é viva e eficaz, mais penetrante do que espada alguma de dois gumes”, como diz o autor da epístola aos Hebreus. Por ser viva, a palavra é eficaz, por ser eficaz é penetrante; logo, sendo viva, eficaz e penetrante, é dinâmica; não é inerte, costumeira, antiquada e sonolenta.
Crentes, mas mergulhados em maus hábitos
Os muros e a cidade de Jerusalém estavam relegados a uma profunda desolação. Tudo havia sido destruído, uma parte dos judeus ainda estava em Babilônia, no cativeiro. Grande parte dos que retornaram, após 70 anos como exilados de sua pátria, haviam adquirido os maus costumes babilônicos, não se importavam com a mistura - nem com a miscigenação - com outros povos, embora se considerassem religiosamente judeus.
Quantos crentes estão como aqueles remanescentes, mergulhados nos maus costumes do mundo, mas adeptos da igreja? Chegados a sua terra, os remanescentes hebreus puseram-se a reconstruir o altar e colocaram os alicerces do templo, mas não tiveram força para prosseguir na tarefa, devido às perseguições. Encorajados pelos profetas, reiniciaram as obras, com muitas dificuldades, e terminaram a tarefa, mas isso era tão somente obra material, encobrindo uma espiritualidade morta sob o peso dos costumes mundanos dos descrentes.
Um templo reconstruído e um povo em pecado
Esdras, vindo da Babilônia, para Jerusalém, encontrou sérios problemas entre o povo. Ainda que eles tivessem o templo construído e consagrado (Ed 6.16), estavam mal doutrinados e em pecado.
Quantos dos nossos belos templos congregam gente que desagrada a Deus? Quantos precisam do aparecimento de um Esdras, para trazer-lhes ensino e correção?
As ovelhas que andam errantes, sem pastor, tornam-se facilmente presas do predador. A Bíblia diz que o diabo anda em derredor dos crentes que margeiam o aprisco, buscando a quem possa tragar (1Pe 5.8). A verdade desse verbo (tragar) põe às claras uma das mais perfeitas ciladas de um inimigo que não pretende mostrar as garras; por isso, não aparece com chifres e tridente, mas se aproxima com seu baú de atraentes, mas falsas, propostas. Paulo declara que nós não ignoramos os ardis do inimigo (2Co 2.11).
Um pastor dedicado lamenta os erros do seu povo
Quando Esdras chegou da Babilônia, foi informado da péssima situação espiritual do povo de Israel e ficou profundamente triste com o que soube. É necessário que muito nos entristeçamos com uma igreja em decadência.
“E, ouvindo eu tal coisa, rasguei a minha veste e o meu manto, e arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me assentei atônito” (Ed 9.3).
Diante de desmandos e pecados do povo de Deus, quantos líderes da atualidade têm tamanha preocupação? Quantos ficam atônitos por causa dos erros que vêm ao seu conhecimento? Esdras se pôs de joelhos, em oração sincera, manifestou-se confuso e envergonhado, como se sentindo faltoso para com o seu dever de orientar. Disse ele:
“... Meu Deus, estou confuso e envergonhado para levantar a ti a minha face, meu Deus, porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça e a nossa culpa tem crescido até aos céus” (9.6).
Um povo desgarrado do Senhor precisa com urgência de líderes como Esdras. Na Carta aos Efésios, o apóstolo diz que o Senhor mesmo deu à igreja líderes, “querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).
A necessidade de discípulos obedientes à palavra de Deus
Se, por um lado, é necessário haver líderes responsáveis pela boa conduta do povo, não é menos necessário que haja um povo disposto ao amadurecimento espiritual e à correção dos seus maus caminhos.
Sem essa parceria, nenhuma igreja progride. Existem pastores de ovelhas ruins; estes se desgastam em preocupação, ensino, correção, ano após ano, mas não veem resultado do trabalho. A causa? Ovelhas desobedientes à Palavra, “crentes” que se tornam ouvintes desatentos, acostumados ao pecado, murmuradores, divisores do rebanho, maldizentes.
O líder Josué enfrentou essa situação; diante disso, ele não ficou gastando sermões infrutíferos; mas reuniu o povo e mandou que eles escolhessem a quem queriam servir. Isto quer dizer que Josué se desincumbiu da responsabilidade sobre eles, caso não seguissem ao Senhor.
Não é mais tempo de se insistir com as más ovelhas; a Bíblia ensina que os maus crentes devem ser chamados uma e duas vezes, caso não se corrijam, devem ser tratados como gentios e publicanos (Mt 18.17), porque deixaram de ser filhos de Deus em Cristo, segundo a doutrina. Não se divide aprisco de ovelhas com manada de lobos.
Jesus não fez questão de que incrédulos à sua mensagem estivessem ao redor dele.
Conclusão
O mundo cristão atual precisa retomar com seriedade o conteúdo da Palavra de Deus. As igrejas têm que voltar ao estudo e à aprendizagem correta da Palavra de Deus. Nossos líderes precisam adquirir um coração como o de Esdras (Ed 9.6-7), uma autoridade como a de Josué (Js 24.15) e uma conduta como a de Paulo, que diz não se envergonhar do evangelho (Rm 1.16).
Nossos cultos devem ser analisados à luz da Bíblia, para que abandonemos as práticas infrutíferas, costumeiras e respaldadas nas ideias do “sempre fizemos assim”. É tempo de sacudir as toalhas empoeiradas dos costumes que para nada servem. É tempo de olhar para adiante; não para o que atrás fica (Fp 3.13-14).
É tempo de renovação, e isso tem que partir de nós. A recomendação paulina é que a igreja não se conforme ao mundo, mas que haja uma mudança, uma transformação pela renovação do nosso entendimento, a fim de que possamos experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Amém.
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