“Não
cuideis que vim trazer paz à terra, não vim trazer paz, mas espada; porque eu
vim pôr em dissensão o homem contra o seu pai, e a filha contra a sua mãe, e a
nora contra a sua sogra. E, assim, o inimigo do homem serão os seus familiares”
(Mt 10.34-36).
Meu Deus! Jesus veio acabar com a harmonia
que havia nas famílias, na igreja, na sociedade? Veio colocar-nos uns contra os
outros de forma até agressiva, já que ele fala em “espada”?! A compreensão se
torna mais difícil, porque ele mesmo mandou que nos amemos uns aos outros!
Podem os que se amam confrontar-se, digladiar?
Somente a leitura mais atenta do restante do
capítulo mencionado traz à nossa perplexidade o alívio necessário: Jesus nos
exorta a colocá-lo e à sua doutrina sacrossanta acima de toda e qualquer
consideração nesta vida. Aqui se consolida o primeiro mandamento: “Amar a Deus sobre
todas as coisas”. Quem não cumpre esse mandamento já não cumpre a nenhum
dos demais! Porém, o que significa “amar” a Deus?
Amar a Deus não tem relação com a nossa ideia
de “querer bem”. De modo geral, queremos bem aos nossos amigos e familiares e,
sendo “bonzinhos”, queremos o bem de todas as pessoas – o que não é
necessariamente querer bem a elas! Já, amar a Deus significa a disposição
humana de reconhecer no Pai a totalidade do poder de decisão, a totalidade da
sua Glória e da sua Majestade. Deus não necessita de que ninguém lhe “queira
bem”!
É necessário que entendamos que os meios
termos, as meias palavras, as contemporizações usadas para tornar parcial
qualquer atitude ou decisão são expedientes da fraqueza humana, jamais um
expediente divino. Os decretos de Deus são imutáveis sob qualquer aspecto.
Isto posto, não há nenhuma referência de que
Deus obrigue o homem a amá-lo em conformidade com o que acima já foi dito. Amar
a Deus é questão de escolha! Eis, aí, o arbítrio! Eis, aí, a questão da espada
a que Jesus se referiu. Não haverá paz entre o homem pecaminoso e o homem que
ama a Deus; porque este agirá, sempre e em todo tempo, de maneira a colocar o
Senhor antes de quaisquer outros interesses.
Por essa razão, o amor ao próximo está depois
do amor a Deus. Esse amor não encobre o erro, nem busca amenizar aquilo que
desagrada a Deus. Por isso, é que Jesus disse que trouxe a dissensão e a
espada, isto é, a seriedade com que devemos tratar as atitudes que ofendem a
Deus e à sua lei.
É essa a maior batalha que divide a
humanidade: “o que serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.18). Não há guerra
maior do que a preservação do amor a Deus, seja entre familiares, seja entre os
irmãos de fé, seja no mundo exterior.
Quanto ao amar o próximo, a questão difere.
Amar o próximo significa “querer o bem dele”, ainda que dele se receba o mal.
Por quê? Porque pelo amor a Deus seremos imitadores de Cristo, o qual “morreu
por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
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