Creio que já passou o tempo do “crente santão”;
quero dizer daquele crente que se posiciona entre as nuvens, um nefelibata que
se põe acima do bem e do mal. Ninguém está mais perto da verdade, ou melhor,
ninguém tem maior domínio da verdade do que o crente santão. Qual a razão para
que um desses crentes submeta-se a alguém? Se faz parte da vida ministerial de
uma igreja, ele não comunga das mesmas ideias e propostas, uma vez que ele tem “visão”
diferente. Sua frase preferida é “Não tenho compromisso com o homem: sirvo a
Deus.” Enquanto isso, a Bíblia manda que sejamos servos uns dos outros e
obedientes aos nossos pastores (Mt 23.11; Lc 17.10; Gl 5.13). Seguir a Bíblia,
ou não a seguir; eis a questão!
O crente santão chega a impressionar, porque
ele faz uma cara diferente: é sério (introspectivo e superior), se tem a
palavra, procura dar uma entonação forte à voz, a fim de que se imponha aos
ouvidos dos mortais. Quando ora, faz todos sentirem que “há poder em suas
palavras”. Humildade? Pra quê?
Entretanto, esse tipo - muito comum nas
igrejas – não tem, de fato, respaldo bíblico para sua postura arrogante. Senão,
vejamos: os homens mais destacados da História bíblica foram conscientes de suas
fraquezas e incapacidades; Moisés, preparado em toda a ciência do Egito, apto
para assumir o reinado na terra em que fora criado, assustou-se quando Deus o
chamou para falar ao Faraó. Alegou que era falto de comunicação. “Moisés, porém
disse na presença do Senhor: Se os israelitas não me dão ouvidos, como me
ouvirá o Faraó? Ainda mais que não tenho capacidade para falar.” (Gn 6.12). A
Josué, Deus não deu tempo para demonstrações de fraqueza, pois ao mesmo tempo
em que lhe dá atribuições, mostra-lhe que está apoiado pelo próprio Deus, desde
que não transija quanto às determinações do Senhor (Js 1).
O jovem Gideão era um estrategista latente.
Por causa dos inimigos que por ali atacavam, roubando os víveres, foi malhar o
trigo no lagar, porém, quando o anjo o chamou de varão valoroso, o estrategista
tremeu e alegou toda a sua humildade e pequenez. E que dizer de Paulo? Homem letrado,
educado na melhor forma de seu tempo, um filósofo e teólogo, exímio cumpridor
das leis judaicas, termina por considerar todo o seu conhecimento impróprio
para levar a mensagem à igreja em Corinto; deixou claro que não os abordaria
com eloquência de palavras, ainda que se dirigisse a uma igreja que congregava
homens intelectualmente preparados. Paulo chegou a ser desprezado até pela
aparência física que não mostrava um elegante cidadão. Se voltarmos ao Antigo
Testamento, encontraremos um profeta, Jeremias, que se declarou incapaz de
levar a mensagem profética, porque era um menino.
Entre esses, onde cabe o crente santão da
atualidade? Merece aplausos, merece atenção à sua arrogância indecorosa? Vale o
seu julgamento aos seus pares? Evidentemente, não. O crente santão procura
formar o seu clã, normalmente formado de indecisos, admiradores da figura
impoluta que os domina. Israel fora um tipo de nação indecisa. Mesmo guiada por
Deus, preferiu igualar-se às nações inimigas, elegendo um rei. Por isso caiu
sobre eles um belo, valente e prepotente “crente santão”, o rei Saul, o qual
foi destituído pelo Senhor, quando metido a sacerdote (que não era sua função)
decidiu oferecer os sacrifícios. Que derrota para Israel que decidiu unir-se ao
“crente santão” o maluco Saul.
A igreja precisa ter os olhos atentos e a
sabedoria do discernimento para não cair na cilada de seguir a esses homens,
bem como as lideranças devem evitar a má experiência de dar-lhes oportunidade
para serem, depois, pedra de tropeço nos trabalhos.
Ev.
Izaldil Tavares de Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário