Vive-se um período turbulento.
Todos nós temos o que falar, mas não temos o que ouvir. Não há necessidade de
ouvir, se eu tenho a verdade, se eu tenho a solução. E só eu as tenho! O que
outros dirão sobre o assunto pouco me importa, a “priori”, estão errados,
mormente se me contradizem.
Esse estado de conturbação é
um mal que assola praticamente todas as relações. Começa no lar, onde marido e
mulher têm suas próprias e “comprovadas” verdades, têm suas “inequívocas”
razões. O outro está sob a condenação do erro. Sim, às vezes está mesmo. O problema
é que essa questão pode associar pares ou díspares. Chamo pares, se na relação
há apenas um comprovadamente correto,
e o outro, comprovadamente equivocado,
é apenas insistente em seu erro, irremovível dele. Por outro lado, chamo díspares os conjuntos
em que há parcial correção em cada lado, mas o princípio da intransigência é o
mesmo: a ninguém se ouve, porque se tem a razão. Eis o balaio de gato.
Domesticar o ouvido é a maior
dificuldade para o ensino da educação. Esse problema fecha a audição e abre a
fala.
Nas ocorrências mais banais
esse desajuste aflora. Por exemplo, em qualquer ocorrência de trânsito, sempre
há os relatores de plantão. Um dirá, o motorista da esquerda está errado; ao
passo que outro interferirá cheio de sabedoria: não, senhor, é o da direita.
Ele cruzou, e...
Provavelmente nenhum dos
relatores sequer ouviu a ocorrência!
Nas decisões em que alguém
será incriminado ou descriminado (não me refiro aos trabalhos jurídicos, mas
aos leigos) o “pega” é geral. Pobre vítima! A grita é geral: “Culpado!” ou “Inocente”. O
lado que culpa sempre excede - não sei por quê - o lado que libera da culpa.
Foi o que fizeram com Jesus: “Crucifica-o! Crucifica-o!" Por quê? Perguntava
o frouxo Pilatos? Não sei, mas todo mundo quer crucificá-lo, grito junto!
Chegando ao nosso atual balaio
de gatos, o que dá profundíssimos estudos em Sociologia!
No domingo passado, no debate
entre presidenciáveis - não gosto dessa palavra: eles não são presidenciáveis,
já que um só será eleito; eles são candidatos à eleição para a Presidência da
República – em dado momento, o candidato Levy Fidelix perdeu a estribeira por
causa da provocação de uma candidata, e defendeu seu ponto de vista com relação
ao famigerado assunto do homossexualismo. Claro que ele tem pontos de vista
respeitáveis, morais, decentes, honrados, de acordo com o pensamento da maioria
(maioria mesmo!) da população brasileira. Há pesquisas sobre esses percentuais.
Entretanto, em sua exaltação,
não fez a melhor escolha do vocabulário, para registrar a sua indignação,
quanto ao assunto e quanto à provocação adrede preparada pela candidata.
Isso foi o estopim para o
balaio de gatos vir à tona.
Candidatos, outros, viram
nisso um filão bem oportuno: malhar o Levy, escorraçá-lo. Ele é “homofóbico”,
merece prisão, expulsão, surra etc. Sindicatos, OAB (imaginem OAB!),
associações de homossexuais, partidos políticos e curiosos em geral pularam
para dentro do balaio. Por quê? Não sei! Todo mundo grita, eu também grito;
Pega!
Mas, há algo interessante: a
massa pula para dentro do balaio, à medida que é empurrada! É massa de manobra,
mesmo. Só serve para balaio de gatos do interesse maior! Senão, vejamos:
Um deputado não eleito, Jean
Willys, já falou coisas bem mais acintosas e terríveis, bem como já fez gravíssimas
ameaças a uma considerável (não minoritária) parcela da população brasileira:
os cristãos! Lembremos que cristãos, aqui, são católicos e evangélicos; são os
que se opõem ao ativismo gayzista. Não é pouca gente.
Um parceiro daquele deputado berrou
numa tribuna que está disposto a pegar armas (ele errou quando disse: pegar “em”
armas) se necessário for, para acabar com esses “desgraçados cristãos”. Ambos
já aviltaram a Bíblia Sagrada e promoveram acinte a ela, de todas as formas
possíveis e inimagináveis.
Que gritou pela cassação
desses afrontadores do cristianismo? Quem provocou um balaio de gatos? Ninguém!
Por quê? Porque o governo, os partidos, as instituições todas pugnam por um
país cristofóbico. Homofobia é crime; cristofobia, para nossas instituições não
é. O país é laico, é lasso, é crasso. Mas sabe usar muito bem um balaio de
gatos, mal inerente ao coração humano desprovido de ouvido, mas farto de boca.
País incapaz da ponderação. Enfim, cassarão o senhor Levy Fidelix, e aplaudirão
os políticos cristofóbicos? Darão a última paulada na democracia brasileira
moribunda?
Nenhum comentário:
Postar um comentário