Para se ter uma compreensão mais clara sobre
o batismo no Espírito Santo, é necessária uma breve incursão no estudo da
Soteriologia: a teologia da salvação. A palavra salvação indica resgate daquilo
que está em situação de perigo, à beira do caos, em iminente perdição. Tal é a
situação da Humanidade, com relação a Deus.
SALVAÇÃO: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE AMOR.
O
apóstolo Paulo dá a dimensão do homem oriundo do Éden, a geração adâmica: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus...” (Rm 3.23).
A palavra todos
é de natureza inclusiva, não há ser humano que se isente dessa condição de
pecador. O pecado de Adão maculou o restante dos homens que lhe sucederam. O
que separa o homem de Deus é o pecado, um mal que se perpetuou na genética
humana, colocando-o numa posição adversa a Deus.
Nenhum ser humano, por si mesmo, busca a
Deus, já que é impedido pelo pecado. “... como
está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda, não
há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram
inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.” (Rm 3.3-12).
Esse extravio não se caracteriza apenas por
um afastamento involuntário, sem culpa, como pretendem alguns. A culpa foi
instituída a partir de quando Deus ordenou a Adão que não pecasse (Gn 2.17),
mas ele decidiu pecar (Gênesis, 3.6). Assim, além de o homem estar afastado de
Deus, há nele uma decisão de se opor ao Senhor. A natureza humana não quer
saber de Deus.
A Soteriologia (palavra grega que significa
estudo da salvação) busca na Bíblia o sentido desse assunto e não há assunto
mais importante para cada pessoa sobre a Terra. Todos carecem de salvação.
Entretanto, esse resgate não ocorre por vontade do homem; como, então, ver a
possibilidade de que ele ocorra?
Quando a serpente maligna envenenou a Adão e
à sua descendência, não contava com o plano onisciente de Deus: plano de
resgate! Deus, por sua Onisciência, projetou a maneira de salvar a humanidade.
Ao formar o ser humano, Deus disse: “Façamos
o homem” (Gn 1.26); isso quer dizer que se reuniu a Trindade: o Pai, e o Filho,
e o Espírito Santo. Essa mesma maravilhosa Trindade efetua o plano da Salvação.
Deus o projeta, o Filho cumpre-o, o Espírito Santo atua no convencimento da má
índole que nos foi legada. Glória a Deus! Eis o que é a salvação: cumprimento
do plano de Deus, por Jesus Cristo, o Filho Unigênito, por meio da pessoa do
Espírito Santo.
É o poder do Espírito Santo quem quebranta o
homem diante desse perfeito e bendito plano de resgate:
“Porque
Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16). “E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água,
e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus, descendo como pomba
e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo.” (Mt 3.16-17). “E
desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que
dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi” (Mc 9.7).
Uma vez convencido da verdade, o homem é
livre para aceitar a graça da salvação (um processo de isenção dos pecados
diante de Deus para todo aquele que nele crê), ou para simplesmente recusá-la e
viver sob a condenação eterna. Esse processo de aceitação do sacrifício
salvador de Jesus Cristo é chamado de justificação. “Sendo, pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada a esta graça, na qual estamos
firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Rm 5.1-2).
Os salvos passam pelo processo da
regeneração; isso é, regenera-se um novo homem; o velho homem, criatura de
Deus, o antigo descendente de Adão passa a ser filho de Deus, pela regeneração,
como diz Pedro, que “Ele nos gerou de novo”, fazendo-nos filhos de Deus. “Veio para o que era seu, mas os seus não o
receberam; mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus; aos que creem no seu nome, os quais não nasceram da carne nem da
vontade do varão; mas, de Deus.” (Mt 1.11-12).
Por meio da santificação, o novo homem se
preserva para a glória futura. “Segui a
paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (HB
12.14). Assim, são três as etapas da salvação propiciada por Deus ao homem:
justificação (por Cristo Jesus); regeneração (pela obra do Espírito Santo) e
santificação (esforço do homem ajudado pelo Espírito Santo que o instrui sobre
todas as coisas) “Mas aquele Consolador,
o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e
vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (Jo 14.26).
BATISMO NO ESPÍRITO SANTO: O SELO DA PROMESSA
DE DEUS.
“E há
de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, e os vossos
jovens terão visões. E também sobre os servos e as servas, naqueles dias,
derramarei o meu Espírito.” (Joel, 2.28-29).
A profecia de Joel faz referência a um tempo
posterior a Israel. Que tempo é esse? Quais serão “aqueles dias”? Trata-se da
era da graça. Refere-se ao tempo desde que Jesus, ressurreto, foi assunto aos
céus, ordenando aos discípulos que ficassem em Jerusalém, até serem revestidos
de poder.
“E, eis
que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém,
até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49).
Qual é a promessa do Pai? Aquela registrada
pelo profeta Joel, acima transcrita. Estes são os tempos da promessa, a era da
graça de Deus, a qual se estenderá até o arrebatamento da Igreja, para as
moradas celestiais. “Não se turbe o vosso
coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas
moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar.
E, se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim
mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também.” (Jo 14.6).
Vivemos os dias da promessa! Estes não são os
dias de Elias! Estes são os dias da graça de Deus!
Aquele Consolador que foi enviado aos que
estavam no cenáculo, no dia de Pentecoste, é-nos dado hoje. É o Espírito Santo
derramado sobre os salvos, a fim de lhes “ensinar todas as coisas”,
conduzindo-os neste mundo, até que volte o Senhor.
LÍNGUAS ESTRANHAS: A EVIDÊNCIA DO BATISMO NO
ESPÍRITO SANTO
Falar línguas estranhas, isso é, línguas
incompreensíveis, é uma evidência do batismo no Espírito Santo. Todavia convém
notar que o “dom de línguas”, não é simplesmente um “documento” de que a pessoa
é batizada no Espírito Santo, embora evidencie essa condição. Não há dom sem
finalidade, nem para atestar o grau de santificação de uma pessoa. O crente
batizado no Espírito Santo não tem melhor qualidade, mais fé, ou prerrogativa
diante de Deus. Ele recebeu, pela graça, um dom divino.
Podem-se observar dois aspectos desse dom:
1.
a
língua estranha como (idioma humano, desconhecido do falante). Por exemplo, a
língua árabe para a maioria dos brasileiros.
2.
a
língua estranha do ponto de vista de que ela não é idioma terreno.
Qual a finalidade de uma e de outra forma de
expressão?
A glossolalia (ou glossolália) como dom de
línguas, pode levar o crente a comunicar-se por meio de um idioma que
desconheça absolutamente, a fim de manifestar a mensagem celestial a um ouvinte
que tenha tal idioma como língua materna. Trata-se de um proveito externo do
dom de línguas. Isso ocorreu no dia de Pentecoste.
“E
todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. [...] Como, pois, os ouvimos, cada um, falar na
nossa própria língua em que somos nascidos?” (At 2.4-8).
Por outro lado, há manifestação de língua
estranha não humana, que também é evidência do batismo no Espírito Santo. “E impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre
eles o Espírito Santo, e falavam línguas e profetizavam” (At 19.6).
As manifestações de línguas espirituais são
bem mais frequentes nas igrejas pentecostais.
A DISCIPLINA DE PAULO SOBRE AS LÍNGUAS
ESTRANHAS
Tomando por base a igreja em Corinto, é
possível ter-se claramente a doutrina de Paulo, quanto ao dom de línguas.
Começa que aquela igreja era rica em dons “De
maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor
Jesus Cristo.” (I Co 1.7). Mesmo assim, havia lá um grande número de
problemas. Quanto às línguas, provavelmente aquela igreja já estava
escandalizando os de fora, por causa da falta de ordem, de bom senso nos
cultos. Ali, os batizados no Espírito Santo, infantilmente falavam todos no
mesmo tempo e, é possível, dado o caráter deles, que um quisesse sobressair-se
a outro. Paulo vem pôr ordem na casa, quando orienta a manifestação em línguas
sob condição de intérprete. E, caso não haja intérprete, manda que o crente
fale consigo mesmo, calado, e com Deus, que não precisa da nossa voz para
entender-nos.
Desse ponto de vista, pode-se compreender que
a adoração a Deus, no culto, deva expressar-se em nosso próprio idioma. Por
isso glorificamos com “Glória Deus!” e “Aleluia!”
A IGREJA PENTECOSTAL E A DISCIPLINA PAULINA
A igreja pentecostal brasileira não tem sido
muito disciplinada nesse aspecto. A falta de instrução tem levado a
comportamentos iguais àqueles em Corinto, relativamente a esse assunto.
Muitos incrédulos têm-se escandalizado com o
barulho incompreensível. Por causa disso, almas têm-se afastado do evangelho,
fazendo graves críticas aos crentes.
Aliás, já é tempo de a igreja de nossa terra
entender que o uso da gíria evangélica é tão incompreensível para os
não-crentes quanto muitas das gírias dos não-crentes são-nos incompreensíveis.
Mas nós pretendemos ganhá-los para Cristo. O mesmo se dá com a ocorrência das
línguas estranhas nos cultos.
O apóstolo pergunta se, por acaso, eles, os
descrentes, não nos chamariam de loucos?
“Fiz-me
como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para,
por todos os meios, chegar a salvar alguns” (I Co 9.22).
Ainda que os do mundo não sejam exemplos do
melhor comportamento, suas atenções estão voltadas para os servos do Senhor;
porquanto, eles esperam que de nós saia coisa boa, conforme propagamos.
Nossas reuniões não podem continuar
irreverentes, barulhentas, não pontuais quanto aos horários. Nossas
apresentações musicais têm de ter boa qualidade e decência. Temos observadores
ao redor. Precisamos deixar o mundo impressionado conosco – à maneira de
Salomão e a rainha de Sabá - a fim de não servirmos de tropeço à propagação do
evangelho de Jesus Cristo. Não devemos portar-nos de forma inconveniente nos
cultos.
Temos visto muita movimentação de pessoas,
até durante a pregação da Palavra de Deus, conversas desnecessárias, correria
de crianças pelos corredores são observadas por nossos visitantes. Damos muito
mau testemunho da nossa vida cristã.
Assim, é necessário que a igreja se aprume na
parte espiritual e na social, segundo as instruções que a Bíblia nos dá. “Mas, faça-se tudo decentemente e com ordem”
(I Co 14.40),
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de
Deus, que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1).
Paulo chama para o culto que usa a razão, o
entendimento.
Não raro os crentes pentecostais desenvolvem
um misticismo que afeta a razão e desenvolve a emoção, faz extrapolar o lado
subjetivo, o qual nada tem de espiritual. Para muitos, um “culto abençoado” tem
muita “alegria”: os hinos são barulhentos e agitados, mas de pouco conteúdo
cristão e, às vezes, compostos com letras de mau gosto, de natureza até
erótica, como se a declaração de amor a Deus ou da necessidade que temos d’Ele
se relacionasse com a ideia de um relacionamento humano. Músicas que mexem com
o emocional das pessoas, principalmente das mais fracas.
Para esses, “culto fervoroso” é o que tem
muitas profecias, línguas estranhas, pregador que manda abraçar o vizinho de
banco e, no final, reúne, diante do púlpito centenas de emotivos que no outro
dia não se lembrarão, sequer, de um versículo lido!
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