O maior perigo que se enfrenta na trajetória cristã é a linha extremamente tênue que separa o material do espiritual. Diante dessa perspectiva, não é difícil compreender a posição do apóstolo Paulo quando generaliza: “Porque o que faço, não o aprovo, pois, o que quero isso não faço; mas o que aborreço, isso faço.” “Miserável homem que sou!...”. (Rm 7: 15, 34). Que crente não vive essa dicotomia?
Está gravada em meu coração a mensagem trazida pelo Pr. Walter Brunelli, no culto de Ceia, do mês de maio 2010. O trecho bíblico lido para exposição está na Carta aos Romanos, 8 e o tema é: “Viver no Espírito”.
Fica gravado na mente e no coração o final do versículo 9, que diz: “... Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Minha meditação se apóia exatamente nesse fragmento do versículo.
Num primeiro momento, quando se ouve “alguém”, o pensamento projeta uma terceira pessoa: “alguém” é sempre o outro. Na mesma passagem, mais adiante, ocorre o demonstrativo “esse”, que também é o outro, tanto quanto “tal”! Pronto! Tem-se uma mensagem perfeita para se “falar ao irmão ao lado”! É aqui que a mensagem me pega e me abala.
Esse abalo não ocorreu durante a pregação, pois me envolvia mais a exposição do assunto: “viver no espírito e não na carne”; sem que eu tivesse, — em princípio — um destinatário. A sensação maior era de que a mensagem era apenas genérica, impessoal (talvez, vagamente, destinada a um terceiro!). Esse esclarecimento nos parênteses confessa que minha mente ainda procurou, vez ou outra, “aplicar” a Palavra a um terceiro incógnito: a “esse tal”.
Porém, na madrugada, acordei flechado: a Palavra achou o lugar certeiro: meu coração! Então, meu espírito fez uma paráfrase do texto, agora, com o dedo voltado para mim: “Mas, se eu não tenho (ou tiver) o Espírito de Cristo, eu mesmo não sou (serei) dele”!
Foi vencida a batalha entre o ser carnal e o ser espiritual. O homem carnal, guiado pelo seu próprio espírito, é cego em relação a si mesmo, é como uma superfície muito lisa à qual nada se aplica; por isso, destinará toda mensagem a outrem. Para o carnal, é o outro quem precisa de reforma; é o outro quem, certamente, não tem o Espírito de Cristo.
Por sua vez, o homem espiritual não procura o argueiro que está no olho do amigo, mas procura arrancar a trava que está no seu próprio! (Mt 7: 3; cf Lc 6: 41-42). Só é espiritual o homem a quem o Senhor dá sabedoria para vencer a carne. Essa vitória não está no próprio homem; mas, na força do Senhor. Caso estivesse no homem, o apóstolo não teria exclamado “Miserável homem que sou...!”.
“... Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Que alimento saudável para a alma é compreender quem é o “alguém”: eu mesmo! Que fonte de crescimento na vida com Cristo é ver quem é “esse tal”: eu mesmo! Bendita madrugada, em que o Senhor falou comigo sobre a mensagem!
O texto sagrado é literatura ainda muito mais especial, quando iluminado pelo Espírito Santo: ele transforma pronomes de terceira pessoa em “dedo” ensinador que aponta para a nossa própria necessidade.
Minha oração é para que Deus mande a cada dia uma Palavra que nos mostre os erros de forma contundentemente reveladora. Que Deus mande Palavra que faça cirurgia sanadora de toda vida carnal, transformando-nos a cada passo em homens que tenham o Espírito de Cristo. Aleluia!
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