Leituras:
Lamentações 3.21-23; Filipenses 3.12-14.
“Quero trazer à memória o que me pode dar
esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos,
porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua
fidelidade.” (Lm 3.21-23. RA).
“...
Sim, deveras considero tudo como perda,
por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor
do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo
e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que é
mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé... Não
que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição, mas prossigo para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.” (Fp
3.8-9; 12).
Introdução
Lamentações de Jeremias é o título do livro poético do qual lemos o trecho
inicial. O autor dos cinco capítulos de Lamentações,
provavelmente, Jeremias, sente-se mal diante do estado de decadência espiritual
em que se encontravam os judeus, seus irmãos. O rei da Babilônia, Nabucodonosor,
havia invadido e queimado a cidade de Jerusalém, destruído o Templo e levado
cativo o povo.
A
triste situação daquele povo de Israel era resultado da vida entregue ao pecado.
A nação já não se preocupava com os avisos de Deus, dados pelos profetas fiéis.
Até os sacerdotes e os profetas portavam-se de modo indigno. “Porque, tanto o profeta como o sacerdote
estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o Senhor”
(Jr 23.11).
O
povo não se arrependeu dos maus caminhos em que andava; por isso, sobreveio a
Jerusalém a destruição. Quando não há conversão, quando não há arrependimento
dos maus caminhos, Deus permite a desolação. Sem dúvida, o pecado que se torna contumaz entre
o povo de Deus traz resultados desastrosos.
É
nesse contexto, em que o povo está distante da Palavra de Deus, que Jeremias escreve
as suas Lamentações. Mas o profeta
não se acomoda na dor que sente por ver a obra destruída pelo pecado; ele rebusca
em seu coração algo que o conforte, que o faça manter-se confiante na
providência de Deus. Lembra-se, então, de que é possível buscar a chama da
esperança.
A
misericórdia do Senhor é confiável, mesmo nas maiores dificuldades. O profeta
Habacuque também sabe quanto vale confiar no Deus da salvação, mesmo que tudo
aponte para o irreversível: “Ainda que a
figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e
os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e
nos currais não haja gado; todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da
minha salvação...” (Hc 3.17-18).
Deus
se agrada da confiança indestrutível que há no verdadeiro crente.
1.
O QUE DE DEUS SE APRENDE ALIMENTA A EPERANÇA
Jeremias
faz - do capítulo 1 até 3.20 - uma descrição profundamente dolorosa do estado
em que vivia a nação. Quanta humilhação por causa da desobediência e dos graves
pecados! Porém, se as nuvens escuras do pecado podem encobrir de nós a face do
Senhor; há também a sua infinita misericórdia, para com aqueles que se
arrependem dos maus caminhos e buscam a sua face. Quanto a isso, há uma grande
promessa divina em 2Crônicas 7.14. Também o profeta Malaquias nos traz alento: “Então, vereis outra vez a diferença entre o
justo e o perverso; entre o que serve a Deus e o que não o serve”. (Ml
3.18).
Tudo
quando se aprende de Deus tem o poder de reacender a chama da esperança. É
necessário trazermos à memória aquilo que nos dá esperança.
Memória
é a capacidade que temos despertar as informações arquivadas no cérebro. A
Bíblia nos estimula a usar a memória. “Ensina
a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se
desviará dele.” (Pv 22.6). “Escondi a
tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” (Sl 119.11). “Guarda bem o que tens, para que ninguém tome
a tua coroa.” (Ap 3.11). “... Fazei
isto em memória de mim.” (Lc 22.19).
Da
parte de Deus é que nos vêm as lembranças, a percepção do presente e a
esperança de um futuro livre das angústias terrenas.
O
profeta Jeremias disse: “Quero trazer à memória aquilo que pode me dar
esperança”. Trazer à memória implica procurar o que está no arquivo da mente. Lembrar
vai além daquilo que simplesmente nos vem ao pensamento, porque envolve a
atitude de selecionar da mente o que
pode trazer satisfação. Por isso, o apóstolo Paulo informa que “esquece as
coisas que para trás ficam”. O que fica para trás é o indesejável; o
indesejável não alimenta a esperança.
2.
A ESPERANÇA ALIMENTA A FÉ
O
profeta quis trazer à memória algo que o tirava da sensação de angústia e o
transportava para uma percepção de livramento. A esperança na misericórdia do
Senhor é alento nos dias difíceis.
Se,
por um lado, nós merecemos a repreensão severa, porque pecamos, por outro lado,
“as misericórdias do Senhor são a causa
de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;...” (Lm
3.22). As misericórdias do Senhor devem permanecer em nossa memória. Sem essa
lembrança, estamos perdidos em trevas, a caminho da destruição. Quem traz à
memória as misericórdias do Senhor evita reverentemente ofendê-lo com uma vida
de pecado e distanciamento. Por essa razão o salmista diz: “Escondi a tua palavra no meu coração, para
eu não pecar contra ti.” (Sl 119.11).
3.
O APÓSTOLO PAULO NÃO SE PREOCUPAVA COM MEMÓRIAS RUINS
Paulo
dá-nos uma bela lição de como trazer à memória o que nos dá esperança. A
esperança não se assenta no passado; ela se projeta para o futuro. “Esqueço-me das coisas que para trás ficam; prossigo em direção ao alvo”.
Que exemplo de firmeza na fé! Há tantos que balançam entre prosseguir e
retornar; titubeiam constantemente entre dois caminhos, porque não têm
esperança. Mas a esperança não traz confusão (Rm 5.1-5).
Disse
Elias: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos?”
(1Rs 18.21). Os que assim procedem não se alimentam da esperança. Se alguém
se desanima diante dos que agem mal, ou se apega às dificuldades que enfrenta,
em vez de transformá-las em lições para o futuro, está olhando para trás; mas
Paulo ensinou a olhar para o que está adiante!
4.
CRISTO EM NOSSA MEMÓRIA ALIMENTA A NOSSA ESPERANÇA
Jesus
nos convidou para darmos atenção ao que nos dá esperança. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois
vou preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.” (Jo
14.1-3).
Foi
para dar-nos esperança que ele morreu a terrível morte de cruz; mas ele
ressuscitou no terceiro dia. A nossa maior esperança é a que Cristo nos deu,
quando mandou que nós o aguardássemos; disse ele: “... até que eu venha”. Esperemos o seu retorno, confiantes e operosos.
O apóstolo Paulo repetiu essa informação esperançosa:
“Porque, todas as vezes que comerdes este pão
e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.” (1Co
11.26). Quando os crentes participam do Memorial de Cristo, trazem à memória o
que lhes dá esperança: a volta do Senhor e a vida eterna na Glória do seu
Reino.
Por
isso, a Ceia do Senhor leva o crente a desprezar os percalços, que para trás
ficam, e o alimenta espiritualmente para prosseguir até que alcance o alvo da sua
trajetória neste mundo.
Conclusão
Devemos
sempre trazer à memória a esperança da glória. Que problemas podem nos desanimar,
se trazemos à memória as misericórdias do Senhor? Nada nos separará do amor de
Cristo. “Quem nos separará do amor de
Cristo? Será a tribulação, ou ansiedade, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou
perigo, ou espada?” (Rm 8.35). Vamos trazer à memória que Cristo se
entregou a si mesmo para nos dar, neste mundo, uma vida de esperança.
“...
o mistério que esteve oculto desde todos
os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos,
aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste
mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl
1.26-27). Amém.
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