Leitura bíblica: Juízes 2. 7-10
Introdução
Desde a promessa que Deus fez ao patriarca Abraão (Gn 12), o Senhor manifestou a sua benevolência para com a nação de Israel. A ida para o Egito, no tempo de José, havia sido providência do Senhor, para abençoar e proteger o povo escolhido. Entretanto, após a morte de José, os israelitas misturaram-se aos egípcios, desviaram-se dos caminhos de Deus, tornaram-se idólatras e foram transformados em escravos dos Faraós, durante 400 anos.
Deus, ouvindo o clamor do seu povo, terrivelmente perseguido naquela terra, providenciou-lhes Moisés, a fim de tirá-los do Egito, conduzindo-os à Terra Prometida. Os milhares de hebreus, saídos das terras dos Faraós, sempre viveram em grande instabilidade espiritual, tal como acontece com boa parte da Igreja atual.
Porém, a mão misericordiosa de Deus sempre foi favorável a eles e a nós. Diz o profeta Jeremias:
“As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim”. (Lm 3.22)
Morto Moisés, o Senhor levantou a Josué, para conduzi-los à Terra Prometida, orientando-os a que não deixassem de servir ao Senhor, nem se misturassem com os povos idólatras, de quem estavam rodeados. Mas o coração do homem é endurecido. Todavia, independentemente da instabilidade humana, a promessa e a misericórdia de Deus são imutáveis para com o seu povo. Deus não se desvia do homem; este se afasta de Deus.
O versículo 7 (que lemos) mostra que o povo se tornou disposto a servir ao Senhor., depois que o Anjo do Senhor repreendeu-o. (Jz 2.1-6)
Todavia, a parte que deve chamar a nossa atenção está no v. 10: As gerações mais novas não conheciam o Senhor, nem os prodígios que ele fizera na vida dos antepassados. Por qual razão a nova geração já não conhecia o Senhor?
Não podemos confundir culto a Deus com propagação do evangelho
A Igreja de Cristo tem, em sua caminhada neste mundo, duas atividades fundamentais, que são deveres de toda comunidade de membros do corpo de Cristo: o culto a Deus, que é uma atividade sacra, detalhada pelo apóstolo Paulo em 1Co 14.1-3, e a anunciação do evangelho de Salvação, que uma ordem do Senhor Jesus, explicitada em Mateus 28.19-20.
O culto.
A palavra culto significa reverência santa ao Senhor. O culto expressa, específica e unicamente, a adoração e o louvor a Deus, e a meditação, o ensino ou a exortação da igreja, por meio do ministério da Palavra. O culto jamais pode incluir algo alheio a isso. Qualquer mistura nessa atividade santa é abominável ao Senhor.
“Ai, ai! Eu odeio e ignoro as vossas festas religiosas; também não suporto as vossas assembleias solenes.” (Am 5.21)
A pregação do evangelho.
As igrejas têm falhado muito no trabalho de levar aos não evangelizados a verdadeira mensagem de arrependimento de uma vida distante de Deus.
Os métodos geralmente empregados pela maioria dos crentes nesse trabalho são infrutíferos. Não se fala em arrependimento de vida pecaminosa; enfeita-se o evangelho com palavras que não desnudam o pecado; apenas granjeiam amigos para a igreja, mas não granjeiam almas para o Reino de Deus. É assim que se criam igrejas adaptadas ao mundo!
Jesus, que iniciou a evangelização pelos da casa de Israel, não mandou que eles fossem levados para apreciar a beleza do templo, nem a magnitude do serviço religioso, a fim de lhes anunciar a mensagem de salvação. Jesus instruiu os discípulos a sair:
“... Não ireis pelo caminho das gentes, nem entrareis em cidade dos samaritanos; mas ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel...” (Mt 10.5.6)
Mais tarde. a ordem se ampliou:
“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15)
A ordem do Senhor Jesus é essa: “ide por todo o mundo”; não é “trazei todas as criaturas ao templo”.
A decência e a ordem no culto a Deus
Paulo recomenda que tudo (no culto) se faça com decência e ordem (1Co 14.40). Pode-se dizer que a decência envolve a maneira de se cultuar a Deus. O serviço do culto é sagrado; tudo quanto nele se faz é para a glória de Deus.
O culto exige preparação do nosso espírito; essa preparação deve iniciar antes de sairmos para a adoração. Não se sai às pressas para o culto, atrasadamente, como quem está no último horário para ir ao banco na sexta-feira. Devemos dar o melhor do nosso tempo exclusivamente para cultuar ao Senhor. A ordem exclui todas as nossas atitudes alheias ao culto. É nosso dever cooperar para a boa sequência em que virá a palavra de conforto, de ensino, de exortação para o crescimento, para o fortalecimento e para a manutenção da alegria de caminhar com o Senhor. Diz o apóstolo Paulo:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo, e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rm 12.1)
Sabido isso, fica evidente que um culto não é uma reunião específica para a propagação do evangelho. Há, sim, pessoas que se convertem a Cristo em presença de um culto, porque o Espírito Santo, que preside o culto, leva-as a perceber a grandeza de Deus.
“De outra forma, se louvares a Deus apenas com teu espírito, como poderá alguém que está entre os não instruídos declarar o ‘Amém’ à tua ação de graças, visto que não entende o que dizes?” (1Co 14.16 – KJA 1999).
O convite como impedimento para a conquista de almas
Há mais de um século que as nossas igrejas confundem “cultuar a Deus” com a tarefa de “ganhar almas para Deus”. De modo imperceptível para muitos crentes, o Maligno vem-se aproveitando dessa ingenuidade causada pela desatenção ao que deve ser feito.
Em geral, os crentes aprenderam a “convidar pessoas para o culto”, na expectativa de que elas, aceitando o convite para a presença, convertam-se ao evangelho. Essa prática, porém, quase sempre é, por um lado, impedimento para a conquista de pessoas para o Reino de Deus e, por outro, um grande disfarce dos crentes para não irem ao âmago da questão: tratar a questão do pecado. Nossa mensagem às pessoas já não é: “Arrependa-se”. Ela foi substituída por “Jesus ama você!”, “Você precisa conhecer a minha igreja” etc.
O convite para as pessoas irem à igreja pode tornar-se impedimento para a conversão, logo, para a salvação da alma; porque, muitas vezes, os convidados nunca ouviram falar sobre a salvação em Jesus Cristo, desconhecem o “novo nascimento”, nada sabem sobre o futuro da alma, nem têm noção adequada do que seja “entregar a vida ao Senhor”; entretanto, podem tornar-se simpatizantes dos cultos.
Evidentemente, não estou tentando desmerecer a prática do convite para as pessoas descrentes irem ao culto; estou, simplesmente, apontando para o fato de que “convidar para o culto” não é “evangelizar”.
Há inúmeros casos de pessoas que apreciaram tanto o convite que se tornaram “amigos dos crentes”, frequentam razoavelmente os cultos, mas não se decidem por uma vida regenerada por Cristo.
Não basta crer em Jesus. É necessário crer e decidir-se pelo batismo, demonstrando plena aceitação do senhorio de Jesus Cristo, como fez o eunuco etíope (At 8.26-39).
Gerações se perdem por culpa da própria igreja
O versículo 10 do texto lido mostra-nos: “e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco a obra que fizera a Israel.” Que coisa terrível: os pais serviram ao Senhor, mas os filhos não o conheciam e nada sabiam sobre o Senhor!
Quantas vezes temos falhado, tal como falharam aqueles pais dos hebreus. Evidentemente, aquela nova geração se tornou pecaminosa por causa do descuido dos próprios antepassados. Deus ordenara que os pais ensinassem aos filhos. Os pais ouviram: “e as falarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te...” (Dt 6.7)
É lamentável que tanta gente se perca pela nossa omissão. Perdem-se filhos, perdem-se parentes e familiares; perde-se a vizinhança, perdem-se pessoas da nossa convivência diária. Perdem-se pessoas dentro da igreja, as quais se reúnem conosco por força de um hábito familiar, mas com as quais não dialogamos sobre a salvação e a perdição. Nosso trabalho de discipulado é de baixa produtividade.
Tal como o povo hebreu, nossas gerações posteriores desconhecem o Senhor e as suas obras no meio da Igreja. Lamentável!
Igreja (não apenas membros) que não evangeliza está em pecado.
A desobediência a uma ordem de Jesus constitui um pecado. Ele mandou evangelizar. “E disse-lhes: ‘Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado.”’ (Mc 16.15).
Em Mateus 28.19-20, enfaticamente, o Senhor determina que a Igreja ensine todas as nações, a que elas guardem tudo quanto ele mandou. Ora, uma igreja que, como corpo, esquiva-se dessa missão (à parte dos cultos) está pecado; por isso torna-se árvore infrutífera, que será extinta, pois ocupa um lugar para o qual não tem competência.
Portanto, seus cultos não alegram o Senhor, sua adoração não é recebida, seu louvor rejeitado, porque Deus não quer sacrifício de tolo.
Samuel entregara a Saul uma ordem de Deus, para que ele a cumprisse integralmente, mas aquele rei desobedeceu (1Sm 15.15). Quando Samuel o interpelou, não adiantaram as desculpas: Saul perdeu o trono. Disse-lhe Samuel:
“Tem, porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar... Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (1Sm 15.22-23)
Conclusão
Diante dessa meditação que nos alerta, não há como ignorar as duas importantes finalidades dos nossos cultos: a adoração e louvor a Deus e a prédica da Palavra de Deus.
Todos os que adoram e louvam a Deus em comunidade, na igreja, estão cientes do dever de anunciar (lá fora das quatro paredes) o evangelho de Cristo às pessoas, tanto como igreja - com programas estabelecidos para o trabalho evangelístico – como pessoalmente, levando, claramente, a mensagem de salvação; seja proclamando aos homens o evangelho da Salvação, seja distribuindo Bíblias; pois, o nosso dever é ensinar todas as nações. Evidentemente, os nossos templos não comportam as nações: temos que ir a elas! Amém!
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