Introdução
Grande parte da igreja cristã parece envolver-se, de modo errado, com assuntos terrenos que a distanciam das instruções bíblicas. Esse adormecimento da inteligência espiritual, que é a falta de vigilância, tem conduzido parte da igreja a viver um processo de miscigenação do sagrado com o profano. Essa miscigenação é maligna e intenta ferir gravemente a ética cristã no reino deste mundo.
A palavra igreja, do grego ecklesia significa “assembleia” e também assume o sentido de “chamados para fora”. Esses dois sentidos, no grego, empregavam-se em situações diferentes; mas, em termos do cristianismo, ambas as formas se ajustam plenamente.
De fato, a “assembleia dos cristãos” compõe-se dos que foram chamados para fora do reino deste mundo.
“Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor...” (Cl 1.13).
O REINO DE DEUS NÃO É DESTE MUNDO
Quando Jesus, pouco antes de ser condenado à crucificação, foi levado a Pilatos, fez uma declaração que deveria ecoar constantemente nos ouvidos dos cristãos de todas as épocas, porque se trata de uma declaração basilar da fé evangélica:
“O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui.” (João 18.36- destaque meu).
Ao ensinar sobre como se deve orar, o Senhor mandou pedir ao Pai: “Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade tanto na terra como no céu.” (Mt 5.10). Se temos que pedir a vinda do Reino, isso significa que ele não está no lugar em que estamos e que o cumprimento da vontade divina, realizada no céu, ainda não é plenamente realizada na terra.
Por essa razão, Jesus disse a Pilatos que o seu Reino não é, por enquanto, - veja meu destaque na transcrição do versículo - o reino deste mundo.
Se os crentes foram transportados do reino das trevas (o das potestades das trevas) para o Reino do Filho do seu amor, eles têm somente que entregar a César o que é de César, ou seja, cumprir o dever legal para com a Constituição Federal; mas não devem mergulhar num processo de disputa político-religiosa (prefiro a grafia anterior à Reforma Ortográfica), como se tem visto.
A mistura da prática religiosa evangélica com o exercício da política atual, no Brasil, não revela aspectos saudáveis; antes, vem servindo de escárnio para o reino deste mundo. Alguém pretenderá me refutar, informando que toda perseguição é bem-aventurada; mas Jesus não disse isso. A bem-aventurança, predita por Jesus, ocorre quando a igreja é perseguida pela impiedade; não quando ela demonstra interesse em disputar espaço neste reino. O Senhor Jesus foi bem claro quando disse a Pilatos que, se o seu Reino visasse a este mundo, os seus servos não se intimidariam de lutar por isto. Todavia, a igreja cristã vem lutando para instituir, a seu modo, o Reino do Senhor aqui.
A INSTITUIÇÃO DO REINO DE DEUS NO MUNDO
A leitura proveitosa dos textos bíblicos compreende a boa observação da estrutura deles. Palavras são importantes. Notemos que o Senhor Jesus disse: “... mas, agora, o meu Reino não é daqui.”. O advérbio de tempo, agora, é altamente esclarecedor! Se não é agora, certamente o será! Talvez, Pilatos não tenha percebido essa informação do Mestre.
A Igreja de Cristo, neste mundo, não existe para co-administrá-lo; ela existe para preparar o cenário do poderio celestial. De que maneira ela deve agir em sua tarefa?
Primeiramente, é necessário entender que a Igreja, esta que prepara a vinda do Reino de Deus, luta contra o projeto que intenta preparar o reino do Anticristo. A Igreja não luta contra os seres humanos, mas o faz contra as forças do mal que operam nos homens que se entregam à oposição ao Reino de Deus.
As Escrituras Sagradas indicam quais as armas necessárias à luta contra as hostes espirituais da maldade. (Ef 6.12).
Os combatentes, em uma guerra, não têm apenas interesse na destruição aos seus inimigos; há um interesse maior, que sobrepuja a batalha sangrenta: a conquista do lugar em que o Reino será implantado definitivamente! A Igreja batalha pela implantação do Reino de Cristo!
A maneira como os crentes conquistarão esse espaço não está nos conchavos políticos, não está na disputa das cadeiras governamentais, nem na presença nos palácios; ainda que Deus lhes entregue tais assentos, segundo o seu querer. A conquista do reino deste mundo está na propagação do evangelho a toda criatura.
“E chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra; portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinado-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e, eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!” (Mt 28.19-20).
Conclusão
Uma das orientações do Senhor Jesus à sua Igreja é a prudência como a das serpentes.
“Eis que eu envio vocês como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sejam prudentes como as serpentes, e símplices como as pombas. Acautelem-se, porém, dos homens, porque eles os entregarão aos sinédrios e os açoitarão nas sinagogas deles;...” (Mt 10.16-17).
Os arroubos com que as igrejas festejam os resultados políticos aparentemente favoráveis a elas, devem ser prudentemente evitados, a fim de que não sejam eles mesmos um pretexto para despertar perseguições. Muitas vezes, na guerra, o comando não festeja uma vitória, para não dar ao inimigo a oportunidade de um ataque pernicioso. Sejamos sóbrios, aprendamos a nos regozijar o Senhor.
Na guerra contra Jericó, a ordem de Deus era que os sacerdotes só tocassem suas buzinas, depois de os valentes terem rodeado os muros da cidade, durante seis dias e, no sétimo dia, rodeado-os sete vezes! “... e os sacerdotes tocarão as buzinas.” (Js 6.4). Não é hora de tocarem as buzinas!
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