segunda-feira, 18 de outubro de 2021

IGREJAS E SEUS MINISTÉRIOS

 






Introdução

               Todos os crentes evangélicos, principalmente os pentecostais, têm a palavra ministério, de certo modo, envolvida em todos os seus assuntos eclesiásticos. Por causa disso, torna-se impossível qualquer abordagem sobre o que é, ou quem perfaz um ministério na igreja, sem que retomemos a noção de que a Igreja é, ao mesmo tempo, organismo e organização.

A palavra igreja tem origem no grego; significa assembleia, ou, simplesmente, comunidade de cristãos; portanto, seu significado - como organismo ou como organização - é sempre plural. A própria questão semântica exclui a possibilidade de uma só pessoa constituir-se igreja. O pastor, teólogo e professor Claudemir Pedroso da Silva diz que os cristãos formam um tipo de sociedade com tríplice finalidade: espiritual, social e econômica. Entende-se, portanto, que a finalidade espiritual da Igreja é que a torna organismo; as finalidades social e econômica a fazem organização.

Na condição de organismo, a Igreja é entendida como o Corpo de Cristo, aquela sobre a qual Jesus se referiu em Mateus 16.18. Na Carta aos Efésios 4.11-13, o apóstolo Paulo apresenta a estrutura, dada por Deus, para a condução da Igreja organismo. Quanto a ser organização, a igreja é uma entidade sujeita a processos administrativos, legais, financeiros e econômicos. Tanto para a Igreja organismo como para a Igreja organização, é necessária a atuação de ministérios específicos, um de natureza espiritual; outro de natureza administrativa. O ministério administrativo deve ser constituído de pessoas que, sendo membros da Igreja organismo, tenham habilidades para tratar assuntos administrativos.

Há, na igreja, por outro lado, um ministério, chamado eclesiástico, o qual se constitui de pastores, demais obreiros e servidores cultuais, aos quais chamamos corpo ministerial. Ressaltemos: a igreja deve ter um corpo administrativo e um corpo ministerial, propriamente dito.

1.      CORPO MINISTERIAL DA IGREJA

 

Neste texto, não comentarei os aspectos administrativos das Igrejas locais ou organizacionais. Creio que esse é um tópico que exige outros tipos de considerações. Melhor é fazer considerações sobre o ministério eclesiástico. Como conceituar esse ministério eclesiástico? Como já mencionei, o apóstolo Paulo ensina o assunto de modo absolutamente claro.

“... e ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo...”.

 

Deus mesmo criou o ministério eclesiástico

Um dos problemas mais graves que a Igreja atual sofre, em qualquer dos seus dois aspectos, é o surgimento de ministérios não criados por Deus: os pseudoministérios. Não é difícil identificar os pseudoministérios, pois, em geral, essas entidades marcam o interesse de seus fundadores por uma instituição que lhes preserve a hierarquia. É exatamente por isso que eles partem, a priori, da formação de uma “igreja organização” - em geral, com base em doutrinas espúrias – e, a partir delas, constituem um “ministério” também espúrio, porque, contrariando o que diz Paulo, tais “ministérios” não se empenham no aperfeiçoamento dos santos; mas em destacar quem é maior ali.

 

“E houve também entre eles contenda sobre qual deles parecia ser o maior. E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e que governa, como quem serve...”. (Lucas 22.24-26).

 

 

a)     Apóstolos e profetas

Habituados aos interesses sociais deste século, muitos líderes tem trazido para si títulos que os envaidecem. Criaram, assim, uma escala hierárquica absolutamente oposta às instruções do evangelho de Cristo. O Mestre mandou que o maior sirva ao menor. Ele próprio, sendo o Senhor, agiu assim, quando lavou os pés aos discípulos. (João 13.4-5).

A grandeza do apostolado não está em se colocar numa elevada posição hierárquica, como supõe a falsa liderança. A palavra apóstolo vem do grego, para designar aqueles onze discípulos que conviveram com o Senhor e dele aprenderam a doutrina de Cristo e foram por ele enviados a apregoar o evangelho aos judeus. O 12º apóstolo foi Paulo que, não tendo convivido com Jesus, foi, depois, chamado de modo milagroso e levado a pregar aos gentios. Sobre sua condição de apóstolo, Paulo esclarece humildemente:

 

“... Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E, por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo...”. (I Coríntios 15.7-8).

 

O ministério de profeta, mencionado em Efésios, é também chamado de dom de profecia. Esse dom divino é dado pelo Espírito Santo, para transmitir a um crente, ou à Igreja, mensagem provinda de Deus. As Epístolas de Tiago e de Judas denotam o dom de profecia.

 

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência, acerca da comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.”

(v.3 - grifo meu).

 

Note que, no versículo, a oração: “... tive por necessidade escrever-vos...” dá o tom profético da mensagem!

Existe, ainda, um hábito muito arraigado entre os crentes, de que as profecias e, principalmente as pseudoprofecias se emoldurem no estilo dos profetas hebreus, no Antigo Testamento, os quais, geralmente usavam no início ou no final da mensagem a expressão: “Assim diz o Senhor”. Entretanto, essa prática é perigosa (e geralmente desnecessária). O texto de Jeremias 23 ataca o uso falsificado dessa expressão. Enfim, o dom de profeta também não atribui a quem quer que seja a condição de superioridade hierárquica e menos ainda de uma santidade especial, como creem alguns.

 

b)     Evangelistas

Evidentemente o apóstolo dos gentios não teve a intenção de hierarquizar cargos ou funções no âmbito da igreja local. O dom de evangelista foi - e é - dado a homens a quem Deus capacita e envia a anunciar o evangelho ao mundo carente de salvação. Um evangelista não é um “pregador itinerante”, o qual visita igrejas já formadas; em vez disso, ele é um formador de igrejas, onde elas não estão instaladas. Um evangelista bem destacado nas Escrituras foi Filipe. Interessante é que na estrutura ministerial da igreja primitiva ele era diácono. (At 6.5). Paulo escreve a Timóteo e deixa claro que o trabalho do evangelista não é “posto para aguardar promoção”; é ministério que exige sobriedade e traz sofrimento de aflições.

 

“... Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” (II Timóteo 4.5).

 

Infelizmente, muitas igrejas separam evangelistas, não pelo dom de evangelizar, mas para deixá-los na expectativa de “subirem” para o pastorado. A realidade hierárquica nas igrejas é um fenômeno que precisa ser pensado em consonância com as Escrituras Sagradas.

c)      Pastores e doutores

A relação dos cargos ministeriais apresentada pelo apóstolo dos gentios não traz a função específica de presbítero, palavra grega, equivalente a pastor, isto é, o dirigente da igreja; esse nome, geralmente, identifica um pastor auxiliar, o qual está sob supervisão de outro. O apóstolo João assim se identifica:

                     

“O presbítero, ao amado Gaio, a quem, na verdade eu amo [...] Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos e para com os estranhos. Que, em presença da igreja testificaram da tua caridade, aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás.” (III João 1, 5, 6).

         

 

 Novamente, parece haver uma incoerência com relação à pretensa hierarquia ministerial destes tempos. Hoje, de modo geral, é presbítero o crente que passou de diácono, mas não atingiu “o posto” de evangelista, nem de pastor. Lamentável!

Aquele que é separado para o pastorado cumpre a tarefa de conduzir a igreja, principalmente, em suas necessidades espirituais. Pastores exercem seu ministério mais diretamente ligado aos membros que compõem a congregação. Igrejas grandes seguem as orientações de um pastor que pode ser chamado de bispo (pastor ou supervisor de pastores auxiliares). No trato ministerial da obra do Senhor, é necessário extremo cuidado para que não se transforme o Reino de Deus, na Terra, numa estrutura capaz de provocar disputas por hierarquias. Sempre devem ser lembradas as palavras do Senhor Jesus, sobre quem é o maior no Reino de Deus (Lucas 22.26).

Quanto aos doutores ou mestres, as designações são claras para se entender que não se trata de hierarquia estrutural. Na verdade, os homens a quem Deus dá o dom de doutores ou de mestre são servos dedicados, abençoados com habilidades especiais para duas atividades importantes para a Igreja: eles têm a habilidade de estudar as Escrituras com afinco extraordinário e de se acautelar com todas as disciplinas que lhes sejam úteis ao desenvolvimento intelectual e espiritual. Paralelamente, desenvolvem a habilidade de expor para a Igreja, com clareza, as verdades bíblicas, de agir como apologetas, na defesa dos princípios do evangelho, e no combate às distorções interpretativas e às heresias. Paulo recomenda essas habilidades:

 

“Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual...” (Colossenses 1.9).

 

Conclusão

 

Além dos dons ministeriais propriamente ditos, há tarefas auxiliares que devem ser também realizadas pelos membros da igreja: a diaconia é uma dessas tarefas, e a Bíblia faz exigência para selecionar esse corpo de auxiliares. Muitos líderes mal acostumados dizem que a diaconia é “o primeiro degrau para a escada ministerial”. Não é! Filipe não se tornou evangelista, porque começou no diaconato. No entanto, João Marcos, que poderia ter-se tornado evangelista com Barnabé e Paulo, não prosseguiu na jornada, e ainda gerou impasse entre os dois missionários. Há crentes que envelheceram e morreram num eficiente diaconato.

Há muitos músicos e cantores que se entristecem, se não os considerarem “componentes do ministério”; mas, em conformidade com aquele ministério instituído por Deus, em Efésios 4, de fato, não o são. Os que se sentem menosprezados ainda vivem no mundo da importância hierárquica; necessitam de ensino. Isso diminui o prestimoso trabalho com que nossos indispensáveis músicos e cantores servem a Deus? De maneira nenhuma! Trabalhemos, “a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (João 9.4).

 

 

 

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