Introdução
Este assunto abrange os dois aspectos do sentido da palavra grega ekclesia; isto é, abrange a noção congregacional dos crentes locais e a noção da “universal assembleia, a igreja dos primogênitos, que estão inscritos no céu...” (Hb 12.23).
Uma igreja local pode estar tão desviada do evangelho quanto qualquer um dos seus membros individualmente. Quase sempre, temos em vista o desvio individual e não percebemos o desvio coletivo. É impossível buscar a correção do individual, sem corrigir o coletivo. É necessário tirar, primeiramente, a trava que impede a visão de todos. Jesus disse: “Hipócrita, tira, primeiro, a trave do teu olho...” (Mt 7.5). Essa repreensão pode ser entendida, também, pelo ponto de vista coletivo.
O povo de Israel, na sua marcha para a terra prometida, foi exemplo de grandes desvios coletivos, por isso, sofreu castigos da parte de Deus. Neemias, no exílio, acordou para a percepção do desvio do seu povo, quando se deu conta das ruínas em que estava toda a sua nação. Então, ele orou, buscando o perdão de Deus para os filhos de Israel. (Ne 1.4-7). O profeta Daniel lamentou a situação geral dos hebreus, e também orou buscando, a misericórdia e o perdão do Senhor para a coletividade. (Dn 9.8-10). O Antigo Testamento é rico em exemplos de desvios, não só pessoais, mas também coletivos.
“Não havendo profecia, o povo se corrompe;...” (Pv 29.18a). Isso quer dizer: primeiro, que é necessária a exortação; segundo, que é igualmente necessária e simultânea a conversão. Torna-se inválida a exortação sem conversão.
“Não repreendas o escarnecedor, para que te não
aborreça; repreende o sábio e ele te amará. Dá instrução ao sábio e ele se
tornará mais sábio; ensina o justo e ele crescerá em entendimento” (Pv 9.8-9).
Sem ensino e aplicação da Palavra de Deus, a igreja local se desvia. Essa repreensão é tão séria que deveria ser observada em toda igreja, para que não seja menosprezada a dignidade do corpo de Cristo.
1.
NÃO
PODE HAVER DIFERENÇA ENTRE A IGREJA PRIMITIVA E SUAS SUCESSORAS
“Porque
eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.”
(Ml 3.6).
É habito nosso dizer que a Igreja segue caminhando. Isso é verdade, porque a marcha da Igreja é sustentada pelo próprio Deus. Não somos nós quem garante a perpetuidade da Igreja; mas ele não muda! É dever nosso verificar em que condições nós, na igreja local, estamos caminhando.
Será possível afirmar que, de fato, a nossa igreja local é continuidade da Igreja Primitiva? A nossa igreja mantém, realmente, a fé que foi entregue aos santos? Essa fé foi dada aos nossos primeiros irmãos, e não foi tirada dos crentes; entretanto, não há dúvida de que algumas igrejas a perderam no deserto desta vida. Profeticamente, o Senhor Jesus perguntou se - quando voltasse - acharia fé na Terra. (Lc 18.8). Judas, irmão do Senhor exorta as igrejas:
“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a
diligência, acerca da comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e
exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” (Jd v.3).
É indispensável que o mesmo cristianismo da Igreja Primitiva seja conservado pelas igrejas deste tempo. O esforço doutrinário de Paulo caminhou nesse sentido. Cada igreja local precisa dispor-se para ser um quartel de soldados que batalham pela fé; sempre atentos para evitar, em seu próprio meio, incoerências e desvios, sempre provocados pelo Inimigo. Caso ocorram esses erros, e isso é normal, a correção da rota precisa ser feita, para que a igreja se mantenha fiel até o fim. Qualquer igreja cristã, cuja doutrina e vivência se mostrem contrárias aos princípios do evangelho de Cristo, anunciado pelos apóstolos e profetas, necessita rever os seus caminhos.
2.
QUANDO
UMA IGREJA DESTOA DOS SEUS PRINCÍPIOS?
As Escrituras ensinam que Deus quer que a Igreja se aperfeiçoe. “Querendo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12). Aperfeiçoamento não é processo estático; é contínuo, progressivo e persegue um alvo. É isso que Deus quer das igrejas. Quem se aperfeiçoa não se prende a problemas passados; resolve-os e prossegue. Já vimos que o povo de Israel não buscou a solução dos seus problemas, por isso, durante 40 anos, andou em círculo na aridez do deserto, sem poder contemplar a terra que lhe estava prometida. Não estarão muitas igrejas, especialmente a nossa, andando em círculo no deserto?
Uma igreja deixa de prosseguir para o alvo, quando esquece as marcas do seu fundamento.
“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina, no qual, todo o
edifício bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2.20).
Se uma igreja desconsidera esse fundamento, o seu modelo difere daquele que o Senhor instituiu. Os embaraços desta vida não podem fazer parte da igreja; eles ficam para traz, sem que impeçam a sua marcha. (Hb 12.1). Paulo dá outra lição para cada crente e para a igreja, coletivamente:
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado,
mas, uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e
avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.13-14).
Quando o apóstolo diz que se
esquece das coisas que ficam atrás, não diz que não as resolveu, mas, que elas
já estão resolvidas e não devem acompanhar a caminhada. A Igreja não pode viver
remoendo problemas que não resolve. Ela tem compromisso com a finalidade, não
pode destoar dos seus princípios, nem abandonar os fundamentos da sua fé, a
qual foi dada aos santos. Se houver necessidade de correção, que ela não seja
postergada. A igreja que faz parte da Igreja é instituição séria.
Conclusão
A partir desta reflexão, devemos entender que Igreja cristã de nosso século não pode ser diferente da Igreja Primitiva. Não somos uma segunda edição piorada; somos a continuidade da obra do Senhor Jesus. O apóstolo Pedro nos situa no contexto do corpo de Cristo, quando diz:
“Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe; a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). E mais:
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a
nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (2Pe 2.9).
Evidentemente, há diferenças geográficas, e socioculturais, relativas a hábitos, costumes etc., mas não pode haver a mínima diferença doutrinária, nem qualquer diferença no primeiro amor. É necessário que as igrejas tomem, para si, a exortação do Senhor, dada à igreja de Éfeso, pois, é esse primeiro amor que nos manterá fiéis até o fim. Amém.
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