A língua obedece a certas leis que lhe são naturais. Por exemplo, as leis da sintaxe não permitem ao usuário a alteração livre dos termos num período. Essas permissões têm limite.
Entretanto, ela admite certas
construções alheias às suas próprias leis: são as idiossincrasias da língua.
Aqui veremos o caso da palavra “vão”. Essa palavra pode contextualizar um
substantivo, um adjetivo ou um advérbio. No caso de ser classificada como
substantivo, pode vir regida de preposição; como adjetivo ou como advérbio, o
emprego da preposição não se recomenda. Em suma, adjetivos e advérbios não vêm
regidos de preposição.
1. Como
substantivo, significa espaço. Há um vão entre a parede e o piano. Coloquei o
objeto em um vão entre a parede e a escada. Sem problema, se for substantivo!
2. Como
advérbio, significa inutilmente: Eu trabalhei “em vão”. Note a impropriedade da
preposição; é como se disséssemos: “Eu trabalhei em inutilmente.”, o que é um
absurdo. Advérbios não aceitam preposição. Assim, por idiossincrasia, a palavra
‘vão’ aparece preposicionada. O correto será substituir a palavra pelo advérbio
sinônimo, obviamente sem preposição: “Eu trabalhei inutilmente”. Vamos abolir o
“em vão”?
3. Como
adjetivo, significa inútil, sem resultado ou efeito. Nosso trabalho foi “em vão”.
Essa construção é tão reprovável quanto seria a sua sinônima: Nosso trabalho
foi “em inútil”, porque adjetivos recusam preposições. Deve-se dizer: “Nosso
trabalho foi vão”.
4. Repare
que adjetivos são palavras variáveis: têm flexão de gênero (salvo exceções).
Por isso, se a palavra em apreço se refere a um núcleo feminino, concordará com
ele: “Nossa tarefa foi vã.” / "Nossas tarefas foram vãs”. Alguém diria que
elas foram “em vãs”?
5. Considerando
as idiossincrasias do idioma, vale lembrar que algumas evitam ambiguidades. Os
cartórios carimbam “Folha em branco”. Claro que essa expressão idiomática não
poderia ser substituída pelo adjetivo “branca”. “Folha branca” pode ser, também,
folha azul, vermelha, etc. Pois é, que língua exigente! Ela nos cobra muito;
mas tem algo bom: evita que as doenças da senilidade cheguem mais rápido. Os
médicos que o digam!
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