Os relacionamentos humanos são
produzidos por interesses. Não existe relacionamento desinteressado; já que se
trata de um fenômeno social necessariamente vinculado a alguma espécie de
compensação bilateral. Sem o alcance dessa compensação, qualquer relacionamento
se parte. Assim, importa levantar alguns dos interesses que justificarão o
início, a durabilidade – melhor que duração - e a extinção dos relacionamentos.
Ainda que essa proposta sugira um posicionamento cético com relação ao fato,
não o é, conforme se verá.
O interesse - que se multiplica à
proporção das necessidades encontradas – é o instinto gerador da busca daquilo
que deve ser preservado, indispensável, seguro, vantajoso ou benfazejo e está presente
em toda a Vida: os irracionais protegem suas crias, alimentam-nas até que
amadureçam; assim também faz o homem. Interesses geram relacionamentos.
Imbuído naturalmente desse
instinto, que é característica inerente à sua personalidade, o homem sai à caça
de suas riquezas emocionais, físicas, materiais; dando início, assim, aos
relacionamentos com os quais tentará satisfazer seus interesses.
A durabilidade desse processo é
determinada pelo grau de satisfação que o indivíduo percebe no dia-a-dia. A
manutenção da relação é o aspecto mais crucial do percurso, uma vez que depende
da qualidade da troca dos interesses.
A extinção da relação se dá
sempre que é detectada a frustração por uma das partes. Mas a dificuldade maior
concentra-se na obstinação em não se pretender o reparo do desvio. Fica, assim,
provado que não havia nada, senão o interesse na satisfação pessoal.
Ora, se vivemos a defender
interesses pessoais, que interesses são justos ou injustos. Chega-se, pois, a
um impasse: serão justos apenas os nossos? Os interesses do outro, que não
coincidam com os nossos, têm de ser injustos? A noção que temos de bom ou mau
caráter advém da compreensão que temos dos interesses individuais e, nesse
ponto, entra a seleção que manterá ou dissolverá os relacionamentos.
A sociedade genérica institui
leis que regulam os interesses de seus cidadãos. Essas leis funcionam até certo
ponto; isto é, impõem normas no plano do que é o relacionamento material; mas,
vê-se impossibilitada de interferir na seleção do caráter e do afeto.
Difícil esse ponto. Mas, por que
há tanta dificuldade na manutenção dos relacionamentos sociais, mormente os
afetivos? Normalmente, por causa da facilidade inicial, quando tudo parecia
convergir para o sucesso de um interesse pessoal, particular. Nessa
perspectiva, a percepção unilateral só enxerga a satisfação do seu próprio
interesse. Foge da bilateralidade.
Já que não há relacionamento
unilateral, aquilo que parecia, já não é, porque nunca foi. Claro que os relacionamentos
têm que suprir interesses bilaterais, ou nunca aconteceram; foi uma aproximação
abortiva, inconsequente. Essa tragédia pode durar anos, antes de estourar; pode
mesmo ficar camuflada, sem jamais vir à tona, multiplicando interesses em
desordem absoluta.
“Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jr 17.9).
Relacionamentos são estabelecidos à base de trocas. É o famoso "toma-lá-dá-cá". Conquanto as trocas não sejam daninhas à integridade do ser, antes, contribuam para o crescimento mútuo, acredito ser de capital importância que se faça trocas, voluntárias, e não compulsórias, visando o bem comum.
ResponderExcluirGrande abraço.