quinta-feira, 13 de março de 2014

DA BOCA PRA FORA


A expressão que encabeça este texto é corrente neste país, de Norte a Sul. Não há quem não saiba que ela é a forma de se falar de uma hipocrisia. Outro dito popular bem antigo nasceu na orientação dos padres aos seus fiéis: “Façam o que eu mando; não o que eu faço”. É “da boca pra fora”.

Nesse âmbito, um assunto extremamente sério é a questão do relacionamento familiar; mas tratado “da boca pra fora”, principalmente no que tange à relação entre cônjuges. Existe a noção de que o casal se compromete de tal forma que jamais pode permitir o desacordo; mas os divórcios aumentam a cada dia, sem contar os casais que em silêncio “carregam a cruz”.

Entre marido e mulher tem de haver concordância finalizando todos os aspectos da convivência. Para mim, isso pressupõe sufocamento de uma das partes. Mas ninguém quer ver.

Ora, desde longe, principalmente entre os cristãos evangélicos, os jovens são orientados para o casamento, sempre sob a perspectiva apriorística de felicidade. Os líderes cristãos empenham-se ao máximo para evitar o casamento religiosamente misto; mas isso não é tudo.

No meio evangélico também há diferenças culturais, sociais, intelectuais; há problemas familiares anteriores, mas todos fecham os olhos para isso, e os jovens mergulham num casamento que, na maioria das vezes, será problemático.

Não me venham com a saída de dizer que “tudo está nas mãos de Deus”, pois nas mãos dele não está o que ficou para nossa decisão. Lembrem-se de que Josué conclamou o povo para decidir a quem serviria, e concluiu: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24.15). Que aconteceria se a esposa dele não quisesse? Vejam, também, o caso de Ló. (Gn 19.26).  Dois casamentos, duas situações. A escolha é nossa; usemos o bom senso!

Por outro lado, os casamentos problemáticos (altíssimo percentual) sobrevivem com uma capa de falsidade impressionante. Muitos casamentos fracassados duram 20, 30 anos! Nem todos chegam à separação de direito; mas, praticam-na de fato. Quantos casamentos antigos, tidos como modelos, surpreenderam a comunidade com uma separação oficial? Entretanto, isso não se discute às claras: é tabu. Importante é “levar a cruz” e não dar escândalo!

Na igreja, os casais não demonstram as incompreensões, as mágoas, os desacertos, até os desprezos do dia-a-dia. Na igreja tudo é paz, tudo é amor, tudo é hipocrisia! Há até “encontros de casais”, onde cada par procura mais ainda esconder a sua realidade.

Por que essa realidade é tão escondida? Porque, entre os crentes, a demonstração de um desacerto - simples ou grave – constitui situação vergonhosa, impede a manutenção do exercício de um cargo, põe às claras uma realidade que será comentada à boca pequena (fofoca). Essa obrigação de evitar que um problema se torne público embute muitos e graves pecados dentro da própria igreja. É necessário rever a saúde das nossas igrejas.

Quando o mal atinge o ponto máximo de tensão, a bolha explode e o escândalo se derrama sobre a comunidade: marido para um lado; mulher para o outro. Em geral, um deles fica fora do convívio eclesiástico, em grande parte o marido – “o desviado”.

Assim, a vida prossegue, com o entendimento de que, se o casamento não “deu certo”, há culpa de um dos cônjuges. Pode haver, sem dúvida! Pode haver culpa em ambos. Porém, aqui cabe levantar uma questão: há muita culpa da própria liderança que, por não saber abordar a questão, limita-se a informar os jovens para que não “se prendam a jugo desigual”. Qual esse jugo? Muitas coisas são jugo desigual: adivinhem-nas, ou farão parte dos desigrejados, por serem divorciados: uma estirpe não recomendável!

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