A expressão que encabeça este texto é corrente neste país, de Norte a Sul. Não há quem não saiba que ela é a forma de se falar de uma hipocrisia. Outro dito popular bem antigo nasceu na orientação dos padres aos seus fiéis: “Façam o que eu mando; não o que eu faço”. É “da boca pra fora”.
Nesse âmbito, um assunto
extremamente sério é a questão do relacionamento familiar; mas tratado “da boca
pra fora”, principalmente no que tange à relação entre cônjuges. Existe a noção
de que o casal se compromete de tal forma que jamais pode permitir o desacordo;
mas os divórcios aumentam a cada dia, sem contar os casais que em silêncio “carregam
a cruz”.
Entre marido e mulher tem de
haver concordância finalizando todos os aspectos da convivência. Para mim, isso
pressupõe sufocamento de uma das partes. Mas ninguém quer ver.
Ora, desde longe,
principalmente entre os cristãos evangélicos, os jovens são orientados para o
casamento, sempre sob a perspectiva apriorística de felicidade. Os líderes
cristãos empenham-se ao máximo para evitar o casamento religiosamente misto;
mas isso não é tudo.
No meio evangélico também há
diferenças culturais, sociais, intelectuais; há problemas familiares
anteriores, mas todos fecham os olhos para isso, e os jovens mergulham num
casamento que, na maioria das vezes, será problemático.
Não me venham com a saída de
dizer que “tudo está nas mãos de Deus”, pois nas mãos dele não está o que ficou
para nossa decisão. Lembrem-se de que Josué conclamou o povo para decidir a
quem serviria, e concluiu: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js
24.15). Que aconteceria se a esposa dele não quisesse? Vejam, também, o caso de
Ló. (Gn 19.26). Dois casamentos, duas
situações. A escolha é nossa; usemos o bom senso!
Por outro lado, os casamentos
problemáticos (altíssimo percentual) sobrevivem com uma capa de falsidade
impressionante. Muitos casamentos fracassados duram 20, 30 anos! Nem todos
chegam à separação de direito; mas, praticam-na de fato. Quantos casamentos
antigos, tidos como modelos, surpreenderam a comunidade com uma separação
oficial? Entretanto, isso não se discute às claras: é tabu. Importante é “levar
a cruz” e não dar escândalo!
Na igreja, os casais não
demonstram as incompreensões, as mágoas, os desacertos, até os desprezos do
dia-a-dia. Na igreja tudo é paz, tudo é amor, tudo é hipocrisia! Há até “encontros
de casais”, onde cada par procura mais ainda esconder a sua realidade.
Por que essa realidade é tão escondida?
Porque, entre os crentes, a demonstração de um desacerto - simples ou grave –
constitui situação vergonhosa, impede a manutenção do exercício de um cargo,
põe às claras uma realidade que será comentada à boca pequena (fofoca). Essa
obrigação de evitar que um problema se torne público embute muitos e graves
pecados dentro da própria igreja. É necessário rever a saúde das nossas
igrejas.
Quando o mal atinge o ponto
máximo de tensão, a bolha explode e o escândalo se derrama sobre a comunidade:
marido para um lado; mulher para o outro. Em geral, um deles fica fora do
convívio eclesiástico, em grande parte o marido – “o desviado”.
Assim, a vida prossegue, com o
entendimento de que, se o casamento não “deu certo”, há culpa de um dos
cônjuges. Pode haver, sem dúvida! Pode haver culpa em ambos. Porém, aqui cabe
levantar uma questão: há muita culpa da própria liderança que, por não saber
abordar a questão, limita-se a informar os jovens para que não “se prendam a
jugo desigual”. Qual esse jugo? Muitas coisas são jugo desigual: adivinhem-nas,
ou farão parte dos desigrejados, por serem divorciados: uma estirpe não
recomendável!
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