A Bíblia não nos nega o
julgamento; aliás, o próprio Jesus disse: “Não julgueis segundo a aparência,
mas julgai segundo a reta justiça.” (Jo 7.24).
Porém, o problema que se verifica entre nós, concentra-se mais no âmbito
intelectual do que no espiritual.
Para nossa tristeza – não para
alegria - a gente brasileira (e, claro, outras gentes também) é carente de vocabulário;
por conseguinte, desprovida do significado das palavras. Esse fenômeno não é
característica dos iletrados, apenas; há muita gente “estudada” carregando essa
cruz, provinda do mau ensino básico brasileiro.
As pessoas confundem “justiça”
com “condenação”; “julgar” com “condenar”. Haja vista que não é raro os canais
de televisão, portadores da desgraça humana, exibirem multidões exigindo “justiça”
sobre algo que os prejudicara. Em nome dessa “justiça” depredam-se lojas,
queimam-se ônibus, invadem-se repartições publicas, matam-se pessoas. Ora,
aquelas senhoras que carregam cartazes exigindo “justiça” nada mais querem do
que uma solene vingança. Que se entende por “justiça”? A aplicação da Lei de
Talião: olho por olho, dente por dente. Querem vingança e chamam a isso “justiça”.
Evidentemente entre os
cristãos não cabe a lei da vingança. Jesus ensinou que os ofendidos sem causa
são bem-aventurados. Cristãos têm de ser perdoadores, mesmo porque oram ao Pai
pedindo-Lhe perdão “assim como costumam perdoar”. Todavia, não é o que
acontece.
Basta haver o boato, ou mesmo
a notícia de que alguém (de quem se tirou o direito de falhar)
deslizou, para a “nossa justiça”
manifestar-se. Dedo em riste, frases contundentes, defenestração imediata.
Prontamente tiramos uma pessoa do “nosso céu” e a sepultamos no “inferno que
lhe cabe”.
O pastor daquela igreja em
Seul era posto no mais alto grau de distinção entre os cristãos do mundo todo.
Deu-se a notícia de um problema tido como grave e, ei-lo sendo precipitado nas
trevas exteriores. Já se fez isso com outros nomes, entre eles, um reconhecido
pastor americano, creio que na década de 1980. Somos aplicadores da nossa
justiça.
Por que condenamos os outros?
Porque somos ávidos pela aplicação da “justiça”. É nesse ponto que Jesus ensina
“Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1). Não condeneis a outrem,
sabendo que podeis incorrer no mesmo erro, recebendo a mesma sentença.
A Bíblia diz que Deus não nos
trata segundo os nossos pecados “Não nos tratou segundo os nossos pecados; nem
nos retribuiu segundo as nossas iniquidades” (Sl 103.10).
Entendamos que “julgar” não é “condenar”.
Deus nos permite o julgamento, mas não nos outorga o poder da condenação.
Julgar é avaliar, é medir segundo um padrão (que, evidentemente, é a Bíblia
Sagrada). A Bíblia é o código que nos permite chegar à avaliação de nossas
atitudes e de nossos semelhantes. Entretanto, normalmente não aplicamos esse
metro a nós mesmos: comprazemo-nos em aplicá-lo a outrem. Comecemos por nós,
antes que façamos a outrem. Amemos ao próximo como nos amamos a nós próprios.
Perdoemos as falhas dos outros, para que as nossas próprias sejam perdoadas.
O erro deve ser mostrado,
corrigido; o errado deve receber o nosso perdão, a nossa compaixão, o nosso
apoio, para que se recupere e volte a trilhar o caminho de que se perdera.
Não condenemos; julguemos
segundo a reta justiça, a fim, de eliminar o erro, a falha, o problema,
trazendo aquele que falhou à recuperação, à salvação, como Cristo fez por nós
indo até à morte na cruz.
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