Acabei de ler no Facebook um "post" que relata uma lenda. Obviamente uma lenda. Lenda é uma estória improvável, de caráter fantasioso. A lenda ocupa espaço no ideário maravilhoso; como visto em estudos literários. Por isso a sua capacidade de perdurar de geração a geração.O que transforma uma estória em lenda é a alma popular, a qual vai-lhe dando uma vida bem próxima da realidade. As lendas adquirem um aspecto parabólico, viram fábulas e transmitem algo de "moral da história". Bem, mas deixemos de cogitar sobre o que é uma lenda, para observar a que li há pouco.
O texto lido relata o "poder" de renovação de uma ave: a águia. Relata um percurso de tempo, espaço e ação, para que o animal reapareça vigoroso, depois de certa idade. O relato é muito bem feito literariamente falando; prende a atenção e desperta sentimentos. Mas é lenda. Isso não acontece na realidade.
É exatamente a partir desse ponto que os comentários dialogam. Antes, entretanto, de verificar os diálogos, convém lembrar que a estória da renovação da águia não é isolada. A Literatura Universal é tão cravejada de fábulas que não há necessidade de citá-las, e todas cumprem o seu papel de "dar uma lição". Por que umas fábulas ou lendas não se discutem com tanta veemência e a da renovação da águia causa polêmica? Nunca ouvi discussão sobre a estória da fênix, que renasce das cinzas!
Entretanto, o que me chama a atenção aqui são os textos bíblicos que fazem referência à águia. Esses textos expressam linguagem figurada, conotativa, metafórica; por tal razão, os menos preparados os tomam por denotativos, ou seja, excluem o caráter figurado, comparativo.
A alusão a essa ave de rapina se dá em virtude de que ela é uma das mais corajosas, fortes e aguerridas. Sendo, em geral, ave de grande envergadura, seu voo se dá em grandes alturas, pousa em altíssimos penhascos, de onde observa suas presas. Os textos bíblicos, metaforicamente, referem-se à força, ao poder. "O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa como águia..." (Dt 28.49). Nos Salmos, que são poesias - logo, textos profundamente conotativos, figurados - lê-se referência às águias. "É ele quem redime a tua vida da perdição... quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia" (Sl 103.4-5). "Mas, os que esperam no Senhor renovarão suas forças e subirão com asas como águias..." (Isaías, 40.31).
A Bíblia não referenda a mutação física da águia. O que ocorre é alusão à força espetacular desse animal que, mesmo envelhecido, persiste sem desânimo.
O que se deve entender é que o cristão não deve desanimar; mas, buscar forças, fôlego para alçar voo novamente. Não deve pôr em consideração o abatimento; deve levantar-se para altos voos como a águia se levanta, ainda que enfraquecida, e parte para o voo nas alturas.
Assim, a lenda relatada é válida. É literatura. É poesia. É fábula. Mas traz lição de ânimo e coragem. Não cabe discussão científica a respeito daquilo que é poesia, literatura, linguagem conotativa.
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