O caráter humano é tendencioso. Não emprego essa palavra no sentido mais corriqueiro, o pejorativo. Aqui, tendencioso assume um sentido mais específico: significa a característica que todos os homens têm, de pender para a direita ou para a esquerda em todas as suas decisões. Mesmo os mais racionais - e só são racionais por causa das tendências - oscilam entre dois polos até declararem sua decisão.
Os indivíduos menos esclarecidos levam a vida nessa oscilação, conduzidos da direita para a esquerda e vice-versa, numa instabilidade cruciante. A tendência humana é bem explorada pelos políticos (falo da política partidária e administrativa de um país), pela mídia, ou por qualquer atividade que se sobreponha socialmente. Enfim, parece que o homem não é social; a sociedade é que se faz humana, já que o submete.
Dentro desta perspectiva, pretendo considerar alguns fenômenos que se têm desenvolvido no ambiente do cristianismo, mormente, naquele cristianismo de origem pentecostal.
O ramo evangélico-pentecostal é, ao mesmo tempo, primitivo - como confirma a passagem de Atos, 2 - e recente, se considerarmos a cultura ocidental. No Brasil, primeiro país em que o movimento pentecostal se instalou nesta América do Sul, não se registra pentecostalismo anterior à primeira década do século XX.
A partir daí, a igreja pentecostal brasileira jamais parou de crescer. A expansão se deu em todos os Estados desta nação, alcançando os mais distantes pontos de nossa geografia. A igreja reuniu pessoas, milhões de pessoas convertidas ao Evangelho plenamente bíblico. Exatamente por congregar pessoas é que a característica natural - a tendência - se manifestou.
Manifesta a condição natural, divergências foram ocorrendo (e ocorrem), levando o trabalho dos evangélicos a formar verdadeira colcha de retalhos. Surgiram os chamados ministérios, ou seja administrações eclesiásticas independentes entre si. Que resultado foi esse, senão o da tendência humana? Quanto mais cresceu o pentecostalismo, mais se consolidaram ministérios.
Tudo navegava em mares serenos, enquanto as separações eram apenas administrativas, sem que fossem quebrados os princípios de fraternidade bíblica. Mas, de entre os ministérios saudáveis, surgiram homens interesseiros, criadores de doutrinas inconvenientes, muitas absorvidas da influência norte-americana, as quais vieram para destoar dos princípios doutrinários do verdadeiro pentecostalismo. Estavam formadas as chamadas Igrejas Neopentecostais.
Não será justo detratá-las todas, pois, se adotam princípios doutrinários diversos, nem todos são deploráveis. Entretanto, a indisfarçável maioria das neopentecostais têm causado grandes problemas para o cristianismo brasileiro, devido ao seu mau testemunho doutrinário - enfases em espetáculos milagreiros, por exemplo - além de visíveis desmandos administrativos, corrupção econômica, fraudes e desvios diversos, além da péssima reputação de muitos de seu milionários líderes.
O problema é que, para os que não pertencem ao meio evangélico, todos os pastores evangélicos e todos os fiéis cristãos são postos como "farinha do mesmo saco", vilipendiados, escarnecidos e mal vistos na sociedade.
Isso é injusto. Não se duvida da existência de maus pastores, de maus "crentes", maus católicos, maus espíritas, como não se duvida da existência de maus médicos, maus engenheiros, maus professores. O homem é mau, porque é tendencioso. Mas, o homem inteligente avalia muito bem antes de declarar a sua tendência.
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