quarta-feira, 4 de abril de 2012

EVANGELHOS TORTOS

Todo estudioso da História do Cristianismo reconhece a importância que nela tem o apóstolo Paulo. Na Teologia paulina, inspirada pelo Espírito Santo, concentram-se os ensinamentos indispensáveis para a propagação do Evangelho de Jesus Cristo a todos os homens, conforme o próprio Senhor prometeu (João 14: 26). Paulo foi o instrumento usado por Deus para esclarecer à Igreja vindoura a metodologia do Evangelho verdadeiro.
Tendo isso em vista, é dever nosso meditar sobre a obra do apóstolo, desde a sua conversão no caminho de Damasco. O Espírito de Deus agiu de tal modo na vida daquele missionário que em pouco tempo sua voz ecoava anunciando a Cristo crucificado: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (2Co 2: 2).
A Igreja gentia primitiva nasceu e cresceu baseada numa mensagem de arrependimento dos pecados (At 17: 30); de salvação oferecida pelo Único Mediador entre Deus e os homens (I Tm 2: 5); da manutenção de uma vida coerente com a salvação (Ef 3: 6-18).
Além da visão que o texto de Atos apresenta, relativamente à atuação do apóstolo, suas cartas são indiscutíveis tratados sobre como deve andar a Igreja de Cristo, tanto no aspecto individual como no aspecto social (Rm 12: 4; Ef 4: 25). Nenhuma instrução o Espírito Santo deixou de dar à Igreja contemporânea, tanto do ponto de vista do corpo como de cada membro em particular, por meio de Paulo.
Diante de tão grandes e claros ensinamentos, nada resta, senão confrontar a Igreja de nossos dias em sua caminhada. Não se trata aqui de por em xeque uma denominação, um segmento, um ministério. Trata-se da Igreja de Jesus Cristo na Terra. A Igreja não se resume a uma instituição terrena, com sua forma jurídica e administrativa, com suas propriedades materiais, com uma listagem de componentes chamados “membros”. Tudo isso é organização meramente material e terá o seu fim. No entanto, é desagradável perceber que grande parte dos “cristãos” estão profundamente apegados a essas estruturas, sem a menor consciência do verdadeiro Cristianismo.
Paulo suplica à Igreja: “Rogo-vos, pois, irmãos, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12: 1). Ora, se há um culto racional, não se exclui a existência de culto irracional!
O culto irracional está disseminado pelas reuniões dominicais, em praticamente todos os templos, pois elas têm-se tornado ponto de reunião habitual, sem qualquer propósito de se cultuar ao Deus Verdadeiro. A palavra “propósito” significa “aquilo que se decide com antecedência”. Quantos crentes decidem com antecedência o que farão no “culto” dominical? A falta do propósito gera o “culto irracional”, e isso significa desobediência à Palavra de Deus.
Outro problema é o propósito errado: grande parte dos “evangélicos” vai aos templos à procura de solução para seus problemas; uns buscam um deus-médico; outros anseiam por um deus-banqueiro; outros, ainda, procuram um deus-santo-antônio. Dizem: “Vim buscar o meu milagre.” Esquecem-se do milagre da cruz, que é loucura para os que perecem. São propósitos errados originados em corações interesseiros. Nada de arrependimento, nada de prostração diante da magnitude do Senhor, nada de adoração sincera; nada de apresentar os corpos (e interesses pessoais) como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus! Em que lugar estão pondo o Senhor Deus nos cultos?
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12: 2). O bom propósito difere dos propósitos do mundo: busca a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Entretanto, as multidões vão à busca da sua própria “boa e agradável” vontade. Onde estão os ensinamentos bíblicos para essa gente toda? Onde o estudo da Teologia paulina, inspirada pelo Espírito Santo? Não é a Paulo que se ouvirá, mas a Igreja deve ouvir o que o “Espírito diz às Igrejas” (Ap 2: 7).
Por que os crentes andam tão distantes da Palavra de Deus? Em muitos casos por estarem submetidos a uma liderança descrente, afastada da Bíblia e voltada para seus próprios interesses: muitos templos para disputar território; muitos programas em rádio e TV, para anunciar um evangelho milagreiro; grandes cruzadas para solução de interesses materiais. É a megalomania de muitas lideranças uma das causas desses males.
Por outro lado, não é justo acusar apenas as lideranças; elas existem por força da “lei da oferta e da procura”; se não houvesse procuras elas submergiriam. Ocorre que, mesmo nas igrejas bem orientadas, de formação bíblica sólida, com um ministério verdadeiramente voltado para as coisas de Deus há “evangélicos” tortos. São almas desapercebidas que comparecem à igreja por hábito; mas estão longe do rebanho de Deus. Parecem irmãos, mas não são do aprisco do Senhor. Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10: 27). Estas, infelizmente, sempre existirão (Rm 10: 16).
As ovelhas do Senhor ouvem a Sua Palavra e O seguem. As ovelhas do Senhor sabem o que é prestar um verdadeiro culto a Deus, reunindo-se no templo para adorá-Lo e para ouvi-Lo.
A seara é grande, e há muita planta ruim esparramada. O Senhor chama ceifeiros que anunciem a Verdade às almas enganadas pela astúcia dos que pregam um evangelho torto.
Ev. Izaldil Tavares de Castro

3 comentários:

  1. Professor, uma reflexão imperdível.
    Deus o abençoe por compartilhar.
    Washington

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  2. Queridos, a leitura deste texto faz-se imperiosa!
    Mais uma vez "tiro o meu chapéu" para meu querido amigo, irmão e professor. Sua voz profética precisa ser ouvida e ecoada nos quadrantes da terra.
    Aos que clamam por sede de justiça e fome da palavra de Deus, eis uma resposta contundente.
    O texto é para ser lido, relido, treslido e etc. Mas acima de tudo, observado e absorvido.
    PARABÉNS, NOBRE PROFESSOR!
    Espero que milhares de leitores desfrutem e meditem na importância de ser mais que um "evangélico", "cristão" ou "crente", mas acima de tudo UM DISCÍPULO DE CRISTO.

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  3. O texto é uma visão bíblica autêntica. Quando escrevo sobre o mesmo assunto, sinto-me um intruso, um ilustre desconhecido, sinto-me como o Pastor I.Tavares deve ter-se sentido, falando insanidades. Quem liga para o que muitos de nós escrevem a respeito do verdadeiro evangelho, pois este evangelho verdadeiro, tem fundamento e não aceita principalmente o chamado "culto a personalidade" tão em voga nos nossos dias que só falta criar, as torcidas organizadas, sem mencionar as outras tortuosidades entre as quais, os que enquadram Deus para realização dos seus propósitos, ignorando a sua soberana vontade. Com permissão do autor, meu amigo, quero oferece-lo aos meus amigos no facebook.

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