Introdução
Algum problema ocorre no meio pentecostal,
relativamente ao próprio pentecostalismo. A crítica que se volta contra o
próprio crítico nem sempre é bem vinda, mas o Senhor Jesus mandou que, antes de
repararmos o probleminha alheio,
cuidemos de sanar o nosso grande problema.
O que pretendo tratar neste texto pode não nos ser simpático; porém, é
impossível fingir cegueira.
A nossa questão, aqui, busca mostrar que a
atividade do pregador difere da atividade do profeta e que é necessário avaliar
a autenticidade das profecias.
A seguir, transcrevo a nota inserida nos
comentários ao capítulo XIV da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, na Bíblia
de Estudo Pentecostal, RC, 1995, página 1763:
“A profecia do tipo
descrito nos caps. 12 e 14, porém, não tem inerente em si a mesma autoridade ou
infalibilidade que a inspirada Palavra de Deus (2Tm 3.16). Embora provenha do
impulso do Espírito Santo, esse tipo de profecia nunca poderá ser considerado
inerrante. Sua mensagem sempre estará sujeita à mistura e erros (sic) humanos.
Por isso, a profecia da igreja nunca poderá ser equiparada com as Sagradas
Escrituras. Além disso, a profecia em nossos dias não poderá ser aceita pela
igreja local até que seus membros julguem o seu conteúdo, para averiguar a sua
autenticidade...”
1. A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO E O DOM DA PROFECIA
O livro de Atos dos Apóstolos dá-nos um
esplêndido retrato da Igreja Pentecostal. É necessário que se leia e se atente
para a descrição que o médico Lucas oferece da descida do Espírito Santo, sob a
ótica de “toda a sabedoria e inteligência espiritual”, conforme ensina o
apóstolo Paulo (Cl 1.9).
Naquele dia, o Espírito Santo veio do céu,
sobre os quase 120 crentes que estavam reunidos num cenáculo. O relato lucano é
maravilhosamente claro:
“Cumprindo-se o dia
de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, e, de repente, veio do
céu um som, como de um vento veemente e impetuoso e encheu toda a casa em que
estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de
fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes
concedia que falassem...” (At 2.1-4).
1.
Naquela
ocasião, as línguas faladas pelos discípulos não eram estranhas para os ouvintes, porque se tratava de uma
operação especial e particular do Espírito Santo.
2.
Não
houve profecia entre os discípulos; isso denota que a manifestação pentecostal
do falar língua desconhecida não está atrelada à manifestação profética. Muitos
pregadores imaginam que só estão sob a “unção do Espírito”, se eles falarem línguas estranhas aos ouvintes e profetizarem. A ausência de boa
compreensão do que instrui Paulo em 1 Coríntios 14 sobre o dom de profecia e o
falar língua estranha tem causado muito problema nas igrejas.
2. PREGADOR OU PROFETA?
A igreja atual necessita urgentemente de
desenvolver um espírito investigativo, tal como possuíam os crentes da igreja
em Bereia. É tão importante que uma igreja seja analista, investigativa dos
assuntos bíblicos e teológicos, que aqueles bereanos foram declarados mais
nobres do que os irmãos de Tessalônica, pois os de Bereia, “de bom grado
receberam a palavra...” (At 17.11). Com os de Tessalônica, o apóstolo tivera
que disputar durante três sábados, e,
mesmo assim, ele encontrou forte resistência dos desobedientes à mensagem do
evangelho. Há crentes e crentes!
Geralmente, o interesse investigativo é
sufocado na igreja, por causa da prepotência de alguns líderes inseguros. Em
muitos lugares, os membros têm que ler pela cartilha do líder, sem pedir ou
buscar explicações. Esse mal tem gerado uma igreja doutrinariamente frágil,
quando não desprovida de qualquer capacidade apologética.
“... antes,
santificai a Cristo, como Senhor em vosso coração, e estai sempre preparados
para responder com mansidão e temor a qualquer um que vos pedir a razão da
esperança que há em vós...” (1Pe 3.15).
Infelizmente, nem todos os homens que usam a
tribuna (erradamente chamada de altar), para dirigir palavra à igreja são
espiritualmente ou teologicamente preparados para esse trabalho. Mesmo assim,
muitos se intitulam pregadores e amam andar de púlpito em púlpito, espalhando
erros bíblicos e teológicos. Que igreja dá ouvido a essas mensagens? A igreja
despreparada quanto à investigação, à maneira dos crentes de Bereia.
“...
examinando, cada dia, nas Escrituras,
se essas coisas eram assim...” (At
17.11 – itálicos meus).
Há uma geração de obreiros que confundem a
tarefa do pregador com a função daquele que tem o dom de profecia. Também
muitos deles, por não se dedicarem a um sério e contínuo estudo da Palavra de
Deus, quando vão ao púlpito não têm mensagem alguma, então, esparramam suas
profetadas, enquanto a igreja espiritualmente imatura explode em “aleluias”
diante daquilo que imaginam ter vindo da parte de Deus.
Um dos gravíssimos problemas das profetadas
acontece quando o “profeta” não imagina que Deus não é indiscreto. Muitos são
os que se dirigem ao líder da igreja visitada, no decorrer do culto, proferindo
mensagens em que afirmam serem elas da parte do Senhor: “Eis que eu tenho visto
as tuas lágrimas!” ou “Eis que tenho visto o sofrimento do teu coração!”.
Inaceitáveis tais profecias! Se a mensagem é resposta de Deus a quem a buscou
no recôndito, a essa pessoa será dada particularmente. Mensagem profética
pública vem para desmascarar pecado oculto no meio da igreja ou vem para falar
à própria igreja. Há dúvida nisso? As igrejas precisam rever a sua situação
quanto à vivência pentecostal. Precisa ter discernimento de mensagens ditas
proféticas; precisam avaliar, também, as mensagens trazidas como pregação. A
atividade do pregador não é realizada por meio de profecia; não envolve a sua
história de vida: isso é testemunho que, em geral, nada tem com o contexto da
exposição da Palavra de Deus. Quanto à maioria dos profetas, diz, da parte de
Deus, o profeta Jeremias:
“O
profeta que tem um sonho conte o sonho, e o que tem a minha palavra fale a
minha palavra com fidelidade. Pois, o que tem a palha a ver com o trigo?
Pergunta o Senhor.” (Jr 23.28).
Conclusão
Pelo exposto, creio possível concluir-se que
a atividade da pregação aproxima-se bastante da atividade do ensino, da
exortação para o caminho da verdade das Escrituras Sagradas. Portanto, exige-se
de quem se diz ser pregador - ou deseja ser pregador da Palavra de Deus - o
forte interesse pelo estudo de todos os assuntos que lhe preparem o intelecto,
aliado ao não menos profundo interesse pelo preparo e amadurecimento
espiritual. A isso, o apóstolo Paulo chama de “sabedoria e inteligência
espiritual.” (Cl 1.9).
No outro aspecto - o da profecia - estão
apontadas algumas das graves falhas comuns aos púlpitos de várias igrejas, os
quais confundem a função do pregador, como expositor da Palavra de Deus, com a
finalidade de anunciar o evangelho de Cristo e de conduzir a Igreja ao
amadurecimento bíblico e espiritual, com a função do profeta, como aquele a
quem Deus usa para entregar três tipos de mensagem:
a)
a
pessoal, que nunca é pública - Deus não expõe ao público as suas orações e
súplicas pessoais; portanto, essas profecias nunca vêm do púlpito. Deus falava face
a face com Moisés (Gn 33.11).
b)
outra,
a que expõe pecado oculto no seio da igreja (At 5.1-11);
c)
outra,
a que repreende, consola e edifica toda a igreja (At 11.28; Ap 2; 3).
Queira o Senhor Deus que haja neste trabalho
uma cooperação para o bom andamento da igreja de Cristo, nestes dias de tanta
desinformação sobre as Escrituras Sagradas, até mesmo nos púlpitos. Amém.
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