segunda-feira, 8 de novembro de 2021

PREGADORES E PROFETAS

 



 

Introdução

 

Algum problema ocorre no meio pentecostal, relativamente ao próprio pentecostalismo. A crítica que se volta contra o próprio crítico nem sempre é bem vinda, mas o Senhor Jesus mandou que, antes de repararmos o probleminha alheio, cuidemos de sanar o nosso grande problema. O que pretendo tratar neste texto pode não nos ser simpático; porém, é impossível fingir cegueira.

A nossa questão, aqui, busca mostrar que a atividade do pregador difere da atividade do profeta e que é necessário avaliar a autenticidade das profecias.

A seguir, transcrevo a nota inserida nos comentários ao capítulo XIV da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, na Bíblia de Estudo Pentecostal, RC, 1995, página 1763:

 

“A profecia do tipo descrito nos caps. 12 e 14, porém, não tem inerente em si a mesma autoridade ou infalibilidade que a inspirada Palavra de Deus (2Tm 3.16). Embora provenha do impulso do Espírito Santo, esse tipo de profecia nunca poderá ser considerado inerrante. Sua mensagem sempre estará sujeita à mistura e erros (sic) humanos. Por isso, a profecia da igreja nunca poderá ser equiparada com as Sagradas Escrituras. Além disso, a profecia em nossos dias não poderá ser aceita pela igreja local até que seus membros julguem o seu conteúdo, para averiguar a sua autenticidade...”

 

1.    A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO E O DOM DA PROFECIA

 

O livro de Atos dos Apóstolos dá-nos um esplêndido retrato da Igreja Pentecostal. É necessário que se leia e se atente para a descrição que o médico Lucas oferece da descida do Espírito Santo, sob a ótica de “toda a sabedoria e inteligência espiritual”, conforme ensina o apóstolo Paulo (Cl 1.9).

Naquele dia, o Espírito Santo veio do céu, sobre os quase 120 crentes que estavam reunidos num cenáculo. O relato lucano é maravilhosamente claro:

 

 

“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem...” (At 2.1-4).

 

1.    Naquela ocasião, as línguas faladas pelos discípulos não eram estranhas para os ouvintes, porque se tratava de uma operação especial e particular do Espírito Santo.

2.    Não houve profecia entre os discípulos; isso denota que a manifestação pentecostal do falar língua desconhecida não está atrelada à manifestação profética. Muitos pregadores imaginam que só estão sob a “unção do Espírito”, se eles falarem línguas estranhas aos ouvintes e profetizarem. A ausência de boa compreensão do que instrui Paulo em 1 Coríntios 14 sobre o dom de profecia e o falar língua estranha tem causado muito problema nas igrejas.

 

2.    PREGADOR OU PROFETA?

 

A igreja atual necessita urgentemente de desenvolver um espírito investigativo, tal como possuíam os crentes da igreja em Bereia. É tão importante que uma igreja seja analista, investigativa dos assuntos bíblicos e teológicos, que aqueles bereanos foram declarados mais nobres do que os irmãos de Tessalônica, pois os de Bereia, “de bom grado receberam a palavra...” (At 17.11). Com os de Tessalônica, o apóstolo tivera que disputar durante três sábados, e, mesmo assim, ele encontrou forte resistência dos desobedientes à mensagem do evangelho. Há crentes e crentes!

Geralmente, o interesse investigativo é sufocado na igreja, por causa da prepotência de alguns líderes inseguros. Em muitos lugares, os membros têm que ler pela cartilha do líder, sem pedir ou buscar explicações. Esse mal tem gerado uma igreja doutrinariamente frágil, quando não desprovida de qualquer capacidade apologética.

 

 

“... antes, santificai a Cristo, como Senhor em vosso coração, e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer um que vos pedir a razão da esperança que há em vós...” (1Pe 3.15).

 

 

Infelizmente, nem todos os homens que usam a tribuna (erradamente chamada de altar), para dirigir palavra à igreja são espiritualmente ou teologicamente preparados para esse trabalho. Mesmo assim, muitos se intitulam pregadores e amam andar de púlpito em púlpito, espalhando erros bíblicos e teológicos. Que igreja dá ouvido a essas mensagens? A igreja despreparada quanto à investigação, à maneira dos crentes de Bereia.

 

 

                    “... examinando, cada dia, nas Escrituras, se essas coisas eram assim...” (At 17.11 – itálicos meus).

 

 

Há uma geração de obreiros que confundem a tarefa do pregador com a função daquele que tem o dom de profecia. Também muitos deles, por não se dedicarem a um sério e contínuo estudo da Palavra de Deus, quando vão ao púlpito não têm mensagem alguma, então, esparramam suas profetadas, enquanto a igreja espiritualmente imatura explode em “aleluias” diante daquilo que imaginam ter vindo da parte de Deus.

Um dos gravíssimos problemas das profetadas acontece quando o “profeta” não imagina que Deus não é indiscreto. Muitos são os que se dirigem ao líder da igreja visitada, no decorrer do culto, proferindo mensagens em que afirmam serem elas da parte do Senhor: “Eis que eu tenho visto as tuas lágrimas!” ou “Eis que tenho visto o sofrimento do teu coração!”. Inaceitáveis tais profecias! Se a mensagem é resposta de Deus a quem a buscou no recôndito, a essa pessoa será dada particularmente. Mensagem profética pública vem para desmascarar pecado oculto no meio da igreja ou vem para falar à própria igreja. Há dúvida nisso? As igrejas precisam rever a sua situação quanto à vivência pentecostal. Precisa ter discernimento de mensagens ditas proféticas; precisam avaliar, também, as mensagens trazidas como pregação. A atividade do pregador não é realizada por meio de profecia; não envolve a sua história de vida: isso é testemunho que, em geral, nada tem com o contexto da exposição da Palavra de Deus. Quanto à maioria dos profetas, diz, da parte de Deus, o profeta Jeremias:

 

 

                    “O profeta que tem um sonho conte o sonho, e o que tem a minha palavra fale a minha palavra com fidelidade. Pois, o que tem a palha a ver com o trigo? Pergunta o Senhor.” (Jr 23.28).

 

Conclusão

 

Pelo exposto, creio possível concluir-se que a atividade da pregação aproxima-se bastante da atividade do ensino, da exortação para o caminho da verdade das Escrituras Sagradas. Portanto, exige-se de quem se diz ser pregador - ou deseja ser pregador da Palavra de Deus - o forte interesse pelo estudo de todos os assuntos que lhe preparem o intelecto, aliado ao não menos profundo interesse pelo preparo e amadurecimento espiritual. A isso, o apóstolo Paulo chama de “sabedoria e inteligência espiritual.” (Cl 1.9).

No outro aspecto - o da profecia - estão apontadas algumas das graves falhas comuns aos púlpitos de várias igrejas, os quais confundem a função do pregador, como expositor da Palavra de Deus, com a finalidade de anunciar o evangelho de Cristo e de conduzir a Igreja ao amadurecimento bíblico e espiritual, com a função do profeta, como aquele a quem Deus usa para entregar três tipos de mensagem:

a)   a pessoal, que nunca é pública - Deus não expõe ao público as suas orações e súplicas pessoais; portanto, essas profecias nunca vêm do púlpito. Deus falava face a face com Moisés (Gn 33.11).

b)   outra, a que expõe pecado oculto no seio da igreja (At 5.1-11);

c)    outra, a que repreende, consola e edifica toda a igreja (At 11.28; Ap 2; 3).

Queira o Senhor Deus que haja neste trabalho uma cooperação para o bom andamento da igreja de Cristo, nestes dias de tanta desinformação sobre as Escrituras Sagradas, até mesmo nos púlpitos. Amém.

 

 

 

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