quinta-feira, 22 de maio de 2014

QUE SIGNIFICA?


 
A língua é constituída de vocábulos: elementos gráfico-fonológicos que o usuário transforma em palavras. O vocábulo, explicando de forma leiga, é a “palavra fora de uso”, na forma em que ocorre no dicionário; sem um significado definido. Daí ser incorreto afirmar que dicionário “dá” o significado de uma palavra. Ele “sugere” significados possíveis, dentro de certas circunstâncias. Empregado nos devidos contextos, o vocábulo assume a condição de palavra.

Observe os exemplos em que uso o vocábulo “coração”. “Coração, dê-me um abraço!” ou “Você não tem coração”, ainda, “Vá ao médico para examinar o coração!”. Ora qual o significado do vocábulo “coração”?

Só o contexto pode determinar o significado que se atribui a uma palavra. Belos exemplos de contextualização ocorrem nos neologismos. Vale a pena estudar os textos de Guimarães Rosa, os poemas dos modernistas brasileiros e portugueses, entre outros mestres da palavra.

É muito comum que, para mostrar erudição, muitos expositores de textos bíblicos, que nem sempre são exegetas, recorram a formas originais de certas palavras: o Antigo Testamento foi, originalmente, escrito em hebraico – alguns trechos em aramaico. O Novo Testamento em grego “koinê”. Então, procuram fazer crer que o significado de uma palavra do texto em português ajuste-se plenamente à forma original hebraica, aramaica ou grega, o que, talvez, não seja correto. Não basta ter-se “decorado” a palavra do original, há que se contextualizá-la.

Mas, acontece que os expositores a quem me refiro não levam em consideração os contextos que envolvem toda a cultura, toda a época, todas as circunstâncias para aquele significado original, o qual, provavelmente, não corresponderá ao emprego atual, em português.

Esse é um problema demasiado sério para os tradutores. Por isso encontram-se traduções não muito próximas do original; mas, adequadas ao contexto atual. Outras absolutamente apegadas ao original; mas, destoantes do seu momento. Há ainda as traduções que, levando em conta tais fatores, mostram-se equilibradas.

O melhor caminho para se chegar a um consenso entre formas originais e suas traduções é ter-se conhecimento dos idiomas originais, dentro do seu contexto histórico e filosófico.

Por isso, nem sempre o ouvinte deve impressionar-se com informações de que tal palavra denote isso ou aquilo, porque no hebraico ou no grego significa x ou y. A veracidade da informação sempre depende do preparo em História Antiga, em Filosofia, e em Linguística Diacrônica, que autorizam a quem informa.

 

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