“...
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em
vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (BEG,
Carta aos Filipenses, 2.12-13)
Essa passagem da carta de Paulo sempre
provoca interrogação, por causa da tradução, quando emprega dois substantivos
abstratos, derivados de verbos que podem ser sinônimos entre si (temer/tremer)
e, ambos, sinônimos do substantivo medo. Todos eles provêm da língua latina e,
basicamente, levam ao significado de “apavorar-se”, “perder o autocontrole”.
Será essa a mensagem do apóstolo?
Primeiro devemos notar que Paulo mostra que o
homem não tem decisão por si mesmo; mas, é motivado pelo próprio Deus, “que
efetua em vós tanto o querer como o realizar.” Essa é a razão para que se aja
com “temor e tremor”. Trata-se de um temor no sentido de cuidado. Temor de
assumir atitudes opostas ao querer divino; isso é, devemos “ter medo” de agir
por conta própria. Essa construção é peculiar entre os falantes do português.
Frequentemente dizemos: “Tenho medo de perder
a hora”; evidentemente não se trata de termos pavor da ocorrência; mas, denota
o cuidado que temos com a pontualidade.
Tremor também assume a noção de profundo
respeito, absoluto reconhecimento do poderio divino. Rigorosamente falando, o
apóstolo não infunde “pavor”: estimula obediência mui respeitosa (Salmo 99).
Fisicamente, nenhum ser humano resistiria
vivo, ante a presença de Deus; no entanto, diversos trechos da Bíblia põem Deus
com escudo, proteção, guarda, segurança. Diz Habacuque, o profeta: “O Senhor é
a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corsa, e me faz andar
altaneiramente.”
Então, o profeta não teme, nem treme diante
do Senhor? Claro que teme: põe em Deus toda a sua confiança, reconhece seu estado
humilde. Claro que treme: tem absoluta certeza do poder indiscutível de Deus.
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