quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (Vieira)



"Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu E OUTROS COMO EU? Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu o semeador a semear, senão, saiu a semear o que semeia. (...) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa  é o soldado e outra coisa é o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, ávida, o exemplo, as obras são as que convertem o Mundo..."

                                                                                (Pe. António Vieira. Sermão da Sexagésima. 1655.)

 

António Vieira (Lisboa, 1608 – Bahia, 1697) foi grande orador sacro. Deixou escritos mais de duzentos belíssimos sermões. Nesse trecho do Sermão da Sexagésima ele evidencia de maneira racional, a diferença entre “ser pregador” e “ser o que prega”. Deixa claro que uma coisa é o título, em busca de que tantos correm hoje nas igrejas (ou não), outra coisa é o que faz, o que batalha, o que serve de exemplo, o que lidera não por causa de um cargo; mas, porque há o que precisa ser feito. Escrito em 1655, esse sermão critica o que se vê hoje: é atualíssimo. Medite no texto, pense e chegue às suas conclusões. A boa leitura desperta a competência e torna o homem mais sábio.

Um comentário:

  1. ." A boa leitura desperta a competência e torna o homem mais sábio." Tomo a liberdade de transcrever o que o irmão em Cristo deixou pra nós em seu belíssimo artigo. Vele, sim, ressaltar pessoas dignas de notoriedade. Não pela sua fama em si, mas, porém, pelo seu legado, herança moral e espiritual deixada a nós outros, carentes de aprendizado.

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