A palavra “gíria”, tecnicamente, identifica a particularidade de expressão observada em um grupo específico de usuários de uma língua. A gíria é pertinente à parcela da sociedade que confraterniza os mesmos hábitos e práticas, levando-a a consagrar uma linguagem que lhe é inerente. A comunidade médica tem a sua gíria, os operadores do Direito têm a sua gíria, assim como a têm os engenheiros, os mecânicos e, até, os maus elementos que atuam entre nós.
Da mesma forma, as comunidades
religiosas desenvolvem as suas gírias: os cristãos, principalmente os
evangélicos, tratam-se como “irmãos”; usam palavras e expressões específicas
como forma de louvor a Deus, quais sejam: “aleluia”, "glória a Deus”.
Alguns se cumprimentam de modo especial, dizendo: “a paz do Senhor” (esteja com
você), etc. Assim, a “gíria” também denuncia o usuário. De certa forma é
necessário entender que a gíria não documenta, de fato, a inclusão do indivíduo
no grupo; ela pode denunciar apenas um hábito. Jesus mesmo mostrou isso, quando
disse: “Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. (Mt 7.21).
O problema, aqui, é a tendência
para o estereótipo. Não raramente, a gíria fica cristalizada; não sai da boca
do povo! Quem vê novela adquire certas expressões marteladas na telinha; “com
certeza, ninguém merece, aff!” A malandragem não sabe usar termos diferentes dos
usados no meio em que vivem. Esses estereótipos alcançaram o meio religioso.
Ora, estereótipo é algo ruim em qualquer meio.
As pessoas precisam adquirir
formas diversas de expressão, isso é, usar maneiras várias de expor um mesmo
pensamento. Quem domina a variedade da linguagem, adquire a possibilidade de
enfatizar o que é mais importante, por exemplo.
Vivemos uma época de pouco
domínio linguístico, o que caracteriza pouco domínio intelectual. Por isso, a
pobreza de compreensão de textos, identificada em comentários inócuos, tirados
do seu contexto, resultados da má compreensão. Nesse ponto, a tendência daquele
que vive mergulhado no interesse exclusivo do seu grupo – ou assim se
compreende – traz todos os assuntos para o mesmo terreno em que atua.
É aqui que explico o título desta
matéria: “Quando a “crentice” é chatice”. Chamo “crentice” o hábito que têm
certas pessoas de espiritualizar quaisquer assuntos. Embora sejamos cristãos,
nem sempre lidamos com assuntos relativos à vida cristã. Por que, então,
espiritualizar? Estereótipo puro!
A devoção irracional é ofensa à
verdadeira devoção. (Romanos, 12.1-2). A Bíblia, quero dizer o livro impresso -
com páginas, capa, vendido em bancas de jornal ou em livrarias – não é a
Palavra de Deus! É, simplesmente, um livro! Quando se diz, erguendo o livro,
“Aqui está a Palavra de Deus!” emprega-se uma figura de linguagem, uma
metáfora! Bíblia velha, usada, rasgada, joga-se fora e compra-se outra, meu
irmão! A Palavra de Deus é o conteúdo, que pode estar impresso, ou gravado em
áudio; pode estar exposto na tela do computador! Por causa disso, meu
computador é santo? Obviamente não!
É necessário cuidado, é necessário instruir-se
espiritualmente. Cristão verdadeiro preza o cristianismo, estuda-o com
seriedade, não abre mão dos bons estudos bíblicos. Torna-se capacitado para
refutar todo o “besteirol” que pula para dentro dos muros do cristianismo, a
fim de causar desorientação, apego ao estereótipo, manutenção da ignorância
religiosa e intelectual. Cristão é ovelha de Cristo, portanto, não acompanha
estranhos, nem come palha envenenada. Cuidado com a gíria evangélica mal usada!
Amém?
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