segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

QUANDO "CRENTICE" É CHATICE


A palavra “gíria”, tecnicamente, identifica a particularidade de expressão observada em um grupo específico de usuários de uma língua.  A gíria é pertinente à parcela da sociedade que confraterniza os mesmos hábitos e práticas, levando-a a consagrar uma linguagem que lhe é inerente. A comunidade médica tem a sua gíria, os operadores do Direito têm a sua gíria, assim como a têm os engenheiros, os mecânicos e, até, os maus elementos que atuam entre nós.

Da mesma forma, as comunidades religiosas desenvolvem as suas gírias: os cristãos, principalmente os evangélicos, tratam-se como “irmãos”; usam palavras e expressões específicas como forma de louvor a Deus, quais sejam: “aleluia”, "glória a Deus”. Alguns se cumprimentam de modo especial, dizendo: “a paz do Senhor” (esteja com você), etc. Assim, a “gíria” também denuncia o usuário. De certa forma é necessário entender que a gíria não documenta, de fato, a inclusão do indivíduo no grupo; ela pode denunciar apenas um hábito. Jesus mesmo mostrou isso, quando disse: “Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. (Mt 7.21).

O problema, aqui, é a tendência para o estereótipo. Não raramente, a gíria fica cristalizada; não sai da boca do povo! Quem vê novela adquire certas expressões marteladas na telinha; “com certeza, ninguém merece, aff!” A malandragem não sabe usar termos diferentes dos usados no meio em que vivem. Esses estereótipos alcançaram o meio religioso. Ora, estereótipo é algo ruim em qualquer meio.

As pessoas precisam adquirir formas diversas de expressão, isso é, usar maneiras várias de expor um mesmo pensamento. Quem domina a variedade da linguagem, adquire a possibilidade de enfatizar o que é mais importante, por exemplo.

Vivemos uma época de pouco domínio linguístico, o que caracteriza pouco domínio intelectual. Por isso, a pobreza de compreensão de textos, identificada em comentários inócuos, tirados do seu contexto, resultados da má compreensão. Nesse ponto, a tendência daquele que vive mergulhado no interesse exclusivo do seu grupo – ou assim se compreende – traz todos os assuntos para o mesmo terreno em que atua.

É aqui que explico o título desta matéria: “Quando a “crentice” é chatice”. Chamo “crentice” o hábito que têm certas pessoas de espiritualizar quaisquer assuntos. Embora sejamos cristãos, nem sempre lidamos com assuntos relativos à vida cristã. Por que, então, espiritualizar? Estereótipo puro!

A devoção irracional é ofensa à verdadeira devoção. (Romanos, 12.1-2). A Bíblia, quero dizer o livro impresso - com páginas, capa, vendido em bancas de jornal ou em livrarias – não é a Palavra de Deus! É, simplesmente, um livro! Quando se diz, erguendo o livro, “Aqui está a Palavra de Deus!” emprega-se uma figura de linguagem, uma metáfora! Bíblia velha, usada, rasgada, joga-se fora e compra-se outra, meu irmão! A Palavra de Deus é o conteúdo, que pode estar impresso, ou gravado em áudio; pode estar exposto na tela do computador! Por causa disso, meu computador é santo? Obviamente não!

 É necessário cuidado, é necessário instruir-se espiritualmente. Cristão verdadeiro preza o cristianismo, estuda-o com seriedade, não abre mão dos bons estudos bíblicos. Torna-se capacitado para refutar todo o “besteirol” que pula para dentro dos muros do cristianismo, a fim de causar desorientação, apego ao estereótipo, manutenção da ignorância religiosa e intelectual. Cristão é ovelha de Cristo, portanto, não acompanha estranhos, nem come palha envenenada. Cuidado com a gíria evangélica mal usada! Amém?

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